Exclusivo com Bernardeschi: "Ronaldo vai certamente dançar esta dança, seja a última ou não"
Entre os protagonistas desse jogo, e desse Campeonato da Europa, estava Federico Bernardeschi, decisivo na reta final da campanha da seleção italiana, incluindo o último ato, contra a Inglaterra. E é precisamente o antigo jogador da Juventus, agora em Toronto, que nos vai acompanhar este mês, analisando o Euro-2024 para o Flashscore.
A sua viagem connosco começa hoje, com as memórias dessa prova vencedora e os possíveis protagonistas desta nova aventura europeia. Através das suas palavras, os leitores do Flashscore poderão partilhar a experiência do Campeonato da Europa com quem jogou e ganhou esse mesmo torneio há três anos.
- Federico, três anos se passaram, mas a memória do Campeonato Europeu vencido pela Itália em 2021 ainda está viva. Que recordações tem do período que antecedeu o torneio e como encara este acontecimento?
- O Campeonato da Europa é um torneio que deve ser encarado com uma mentalidade vencedora. É um torneio longo, os jogos são muitos e muito próximos uns dos outros, por isso é preciso toda a gente. De facto, se reparar, especialmente nos últimos jogos, foram os jogadores que jogaram menos no início que foram decisivos. O Europeu é uma competição que muda todos os dias. Sabemos que temos de estar atentos à bola para sermos decisivos. Depois, como já disse, é preciso ter uma mentalidade vencedora. A nossa foi um processo que começou três anos antes. Depois, durante o mês de estágio, antes do Euro, criou-se uma química de grupo extraordinária, que fez a diferença. O nosso grupo era coeso, estávamos todos a remar na mesma direção para atingir um objetivo.
- Normalmente, chega-se a estas competições depois de uma época muito dura com o clube. Como é que se concentram para enfrentar um torneio destes?
- No que me diz respeito, quando era criança sonhava em jogar com a camisola da Azzurra e ganhar o Campeonato do Mundo ou o Campeonato da Europa. Por isso, sempre que entrava em campo com a Itália, tinha o fogo dentro de mim. Penso que sempre que se veste a camisola da seleção nacional é automático encontrar forças e concentrarmo-nos nas tarefas que temos pela frente. Quando jogamos pelo nosso país, temos de sentir aquelas vibrações especiais que a seleção nacional nos transmite. E quando as sentimos, já estamos a meio caminho. E depois, nestas competições, temos de ser capazes de ir mais além, na minha opinião, a nível mental.
- A Itália disputou alguns jogos em casa durante o Euro-2020. Este ano, é a Alemanha que acolhe o torneio. Que dificuldades pode encontrar uma equipa que joga perante o seu público?
- Na minha opinião, é um fator duplo. Tudo depende um pouco dos primeiros jogos. Especialmente o primeiro é muito importante. Ganhámos 3-0 em casa, no Estádio Olímpico, contra a Turquia. E a partir daí começou o caminho. Sentimos todo o entusiasmo em torno da camisola da seleção nacional, sentimo-lo imediatamente. E isso, devo dizer, deu-nos um bom impulso inicial. Pelo contrário, quando se começa com o pé esquerdo, a pressão e as críticas aumentam e é preciso saber suportar isso também.
- Acha que a Alemanha pode usar essa vantagem a seu favor, lembrando-se também do que aconteceu no Mundial-2006?
- Acho que sim. A Alemanha vem com uma equipa de grandes jogadores, com campeões. É uma equipa experiente, não é uma equipa jovem que pode ser dominada pelas emoções. A Alemanha vem com um grupo bom e coeso. Acho que Toni Kroos vai dar muito.
- A Inglaterra tem um projeto em curso há cerca de oito anos com o mesmo treinador. Na sua opinião, será este o momento em que a equipa pode ir até ao fim?
- A Inglaterra sempre foi uma das seleções favoritas em todos os torneios e competições em que participou. Eles têm uma equipa incrível. Se pensarmos bem, são jogadores muito fortes. Mas o que sempre vi na Inglaterra foi uma falta de espírito de sacrifício. Na minha opinião, é isso que tem faltado, porque de qualquer forma a equipa é de topo. O treinador é também um dos melhores. Temos de ver se o facto de não terem ganho nos últimos anos vai pesar a nível mental. Se conseguirem superar isso, a Inglaterra pode ser devastadora.
- Que jogadores acha que poderão ser os protagonistas do Euro-2024?
- Entre os azzurri, estou intrigado com o Riccardo Calafiori, que fez um excelente campeonato, e com o Gianluca Scamacca. Depois, acrescentaria Federico Chiesa e Nicolò Barella. Quanto às outras equipas, estou curioso para ver Lamine Yamal, na sua primeira competição tão importante. Depois, Florian Wirtz, da Alemanha, que fez uma grande época este ano. Também vou falar de Rafael Leão, que penso que vai brilhar por Portugal. Mas, acima de tudo, Jude Bellingham e Phil Foden. Este último chega ao Campeonato da Europa com uma época muito importante atrás de si, com a confiança, a convicção e a determinação de um campeão.
- Falta alguém?
- Nunca esquecer a velha guarda, como Toni Kroos, Luca Modric pela Croácia e, sobretudo, aquele que brilha sempre nestas competições, Cristiano Ronaldo. Ele é algo de fenomenal, que provavelmente vai para além do futebol. Com 39 anos ainda está lá e marca 35 golos por época, simplesmente posso dizer... chapeau.
- O próprio Cristiano Ronaldo foi seu colega de equipa. Esta pode ser a sua última participação no Europeu. Como é que ele vai encarar esta possível última dança?
- Todos dizem que será a sua última dança, mas nunca se deve dizer nunca. O Cristiano surpreende sempre toda a gente. Penso que não há mais palavras a acrescentar-lhe. Temos apenas de lhe agradecer o que deu e continua a dar ao mundo do futebol. Em todo o caso, ele vai certamente dançar esta dança, seja ela a última ou não.
- Que hipóteses tem a Itália de chegar à final?
- Tudo dependerá, na minha opinião, dos primeiros jogos. Houve tantas mudanças na seleção nacional que não é fácil para o treinador e para os jogadores instalarem-se imediatamente numa competição tão importante em tão pouco tempo, sem terem tido muito tempo para trabalhar. Se conseguirem encontrar algumas certezas, a segurança que é necessária nestes casos, a Itália poderá ir longe. Será fundamental que aqueles que chegam pela primeira vez a uma competição deste género se deixem guiar por quem já tem experiência e já ganhou o Campeonato da Europa.
- Espanha, Croácia e Albânia no grupo. No sábado, começam por defrontar os albaneses. O que é que espera?
- A Albânia é uma equipa difícil, composta por jogadores experientes. A Itália, na minha opinião, vai ter de jogar para os atacar. Pressioná-los. Nos primeiros momentos do jogo podem ter dificuldades, vão fechar-se muito, mas a longo prazo, jogando de forma agressiva, vão ganhar.
- Depois, enfrenta a Espanha, a quem no Euro-2020 marcou um dos penáltis decisivos para se qualificar para a final.
- Conhecemos bem a forma como a Espanha joga futebol, é sempre a mesma coisa e é difícil enfrentá-la, sou sincero. Talvez tenha sido o jogo mais doloroso desse Campeonato da Europa. Tivemos dificuldade em manter a bola, porque normalmente éramos nós que geríamos o jogo. Em vez disso, naquele jogo, eles estavam no controlo e nós sofremos. Demos por nós a fazer coisas que estávamos menos habituados a gerir, como ficar mais baixo, conter, seguir inserções. Foi por isso que tivemos dificuldades. No final, porém, o caráter e o orgulho da Itália prevaleceram.
- Finalmente, uma velha raposa como a Croácia.
- É uma equipa que tem muita experiência a nível internacional, tendo mesmo chegado à final do Campeonato do Mundo. Esta pode ser a última oportunidade para a velha guarda, pelo que será difícil enfrentá-la. Mesmo assim, se conseguirmos ter certezas, construídas no primeiro jogo, a Itália não terá de temer ninguém.
- Estava a falar de estar preparado. No Euro-2020 não jogou todos os jogos mas, quando foi chamado, tornou-se decisivo. Com a Espanha, nos penáltis, e sobretudo na final, contra a Inglaterra. No final, o seu penálti, juntamente com as defesas de Donnarumma, deram a vitória à Itália. Qual a importância desse fator numa competição como esta?
- O que era importante na nossa seleção era o facto de sermos todos titulares. Os que entravam mais tarde estavam ao mesmo nível e davam-nos as garantias que os onze que estavam em campo nos davam. Estar pronto era automático. Remávamos na mesma direção.
- Mas que recordações tem desses dois jogos que terminaram em penáltis contra a Espanha e, sobretudo, contra a Inglaterra? Apresentaste-te como o quarto nome para as grandes penalidades.
- Sim, é verdade, foram grandes penalidades. Lembro-me de que, a caminho da marca senti mil emoções. Depois, quando peguei na bola na mão foi um instante. Como se tudo tivesse parado. Não senti nada, apenas vi a baliza, eu próprio sabia onde a colocar e tentei colocá-la lá. Acabou por lá chegar.
- Vamos terminar com uma previsão. Quem vai ganhar o Campeonato da Europa? Que equipas ficarão entre as quatro primeiras?
- Na minha opinião, França e Portugal. Este último fará um grande Campeonato da Europa. Eu aponto a cinco semifinalistas, mantendo uma margem de erro: França, Portugal, Inglaterra, Alemanha e Itália.