Martínez elogia "liderança" de Bruno Fernandes e fala sobre Félix: "Precisa de estabilidade"
Em entrevista à agência Lusa, no seu gabinete na Cidade do Futebol, em Oeiras, o técnico espanhol de 50 anos apontou o triunfo na Bósnia-Herzegovina (5-0) como o ponto alto da qualificação lusa, mesmo com um histórico 9-0 imposto ao Luxemburgo nessa fase, e relembrou que Portugal foi a única equipa a vencer todos os jogos no caminho para o Europeu da Alemanha.
“É muito difícil ganhar 10 jogos num apuramento. Fiz isso com a Bélgica e sei que é preciso ter uma equipa muito focada, que dá tudo. Neste apuramento, ninguém mais teve 10 vitórias. Não jogámos com seleções que tenham o mesmo nível individual dos nossos jogadores, mas a dificuldade está lá e as pessoas do futebol percebem isso. Depois, os adeptos e outros têm a sua opinião, e isso é saudável”, disse.
Bruno Fernandes esteve em todos os jogos do Grupo J, sempre como titular, assinando seis golos e oito assistências, numa qualificação em que Cristiano Ronaldo foi o melhor marcador luso, com 10.
“O Bruno tem liderança. Durante o jogo, tem um cérebro muito ativo e consegue apreciar constantemente o que está a acontecer no relvado. Tem uma capacidade de leitura muito, muito alta. E, pode atuar em varias posições. Fez um apuramento perfeito e teve um papel muito importante. Jogou em quatro posições diferentes a um nível muito alto”, explicou.
Nesse trajeto para o Euro 2024, Portugal esmagou o Luxemburgo no Algarve, na maior goleada de sempre da história da seleção nacional, mas, para Martínez, o “jogo perfeito” foi na Bósnia, numa fase em que a equipa das quinas já tinha assegurada a qualificação.
“Na Bósnia, o adversário tinha mais necessidade de ganhar do que nós. Estávamos apurados e não precisávamos de estar perfeitos. Jogámos os primeiros 45 minutos com os valores de que eu gosto. Competitividade, objetividade, qualidade no ataque rápido. Foi o jogo que deu mais satisfação. Fomos perfeitos com Luxemburgo do primeiro ao último minuto, mas precisávamos de ganhar. Contra a Bósnia podíamos escolher jogar bem ou não. Jogámos bem. E, gostei muito disso”, concluiu.
Portugal conquistou o Grupo J com o máximo de 30 pontos, com um recorde de 36 golos marcados e apenas dois sofridos, na melhor campanha de sempre da seleção lusa em que qualquer fase de apuramento para Europeu ou Mundial.
"João Neves é um exemplo para todos"
O selecionador português de futebol, Roberto Martínez, considera que João Félix foi o melhor jogador a atuar na Europa no arranque da atual temporada e pegou em João Neves para demonstrar que a “porta da seleção está aberta”.
O treinador de 50 anos confessou que ficou surpreendido com as críticas que recebeu quando convocou Félix e também João Cancelo para os jogos de setembro (fora com Eslováquia e em casa com Luxemburgo), de apuramento para o Euro 2024, numa altura em que os dois jogadores ainda não tinham o futuro definido e estavam há dois meses ou mais sem competir.
“Foi uma surpresa, honestamente. Tenho agora muita experiência em acompanhar jogadores, em preparar estágios e o selecionador e a equipa técnica têm muita informação que não há fora da federação. Fiquei surpreso porque tínhamos muita informação num período muito difícil, em que a maioria dos jogadores estão na pré-época e com futuro instável”, explicou Martínez.
O selecionador nacional reforçou que o “talento está sempre presente” e tanto Cancelo como Félix mereceram essa chamada, até pelo que fizeram nos estágios anteriores.
“O que os jogadores fizeram nos estágios anteriores é muito mais importante do que a situação que estão a viver. Ambos deram uma resposta muito boa no relvado. Cancelo, por exemplo, mostrou que estava a um nível muito alto e que não há outro jogador com as mesmas valências”, disse.
Para Martínez, após os triunfos na Eslováquia (1-0) e no Algarve, perante o Luxemburgo (9-0), Félix, já com a camisola do Barcelona, por empréstimo do Atlético Madrid, foi mesmo o melhor jogador a atuar na Europa nesse período.
“O João Félix, depois desses jogos, foi provavelmente o melhor jogador da Europa em setembro e outubro. Mas, as expectativas para a nossa seleção e as largas opções que temos abrem os comentários a criticas e é preciso aceitar isso”, referiu.
Contudo, o avançado de 24 anos perdeu espaço e tem sido recentemente relegado para o banco de suplentes da equipa de Xavi, situação que Martínez entende devido à instabilidade da sua situação contratual.
“A passagem de Félix pelo Chelsea ajudou muito à sua formação, mas precisa de uma situação estável. Ele está emprestado e isso não é uma situação estável. Tem sido determinante no Barcelona e, sempre que entra, faz golos ou assistências. Precisa de estabilidade”, reforçou.
A convocatória de setembro do ano passado fez também levantar críticas apontando que a seleção seria um grupo fechado, mas Martínez utilizou a situação de João Neves - médio de apenas 19 anos do Benfica, que apareceu nas escolhas um mês depois, para os encontros com Eslováquia (desta vez no Porto) e na Bósnia-Herzegovina - para demonstrar o contrário.
“Foi uma surpresa. É um exemplo do que temos no futebol português e da sua estrutura de formação. A seleção é um espaço muito competitivo, mas também tem a porta aberta para quando um jogador merece lá estar. Foi o caso do João Neves. É um exemplo para todos os jogadores jovens e que mostra que a porta está sempre aberta”, frisou.