Muitos visitantes chegaram com aquela ideia que a Alemanha é um país eficiente e moderno.
Mas o torneio escancarou o que os locais já sabem há muito tempo – essa fantasia só existe em propagandas da Mercedes ou da Volkswagen.
O principal problema está nas deslocações dos adeptos, porque os serviços de metro e comboios nas cidades-sede não estão a conseguir lidar com a procura.
Mas a Deutsche Bahn (DB), a companhia de comboios do país, é alvo da ira dos habitantes há anos.
No ano passado, apenas 63% dos comboios regionais da DB foram pontuais – um dos piores índices de toda a Europa.
Se tentar entrar num comboio no feriado, pode apostar que vai viajar de pé. Com o Euro, a situação piorou. A DB anunciou que está a utilizar todos os comboios que tem e que já atingiu capacidade máxima.
O pior cenário foi em Gelsenkirchen, após o Inglaterra 1-0 Sérvia, onde a lotação na estação perto do estádio se tornou perigosa.
O New York Times chamou o Euro de "caótico" e questionou: "O que aconteceu com a eficiência alemã"?
As fanzones também estão lotadas e houve caos na entrada em alguns jogos – principalmente no encontro de abertura, em Munique.
Não aceita cartão?
Uma das críticas internacionais que viralizou na imprensa alemã foi a de um correspondente da Sky britânica.
Depois de constatar que não havia nada para fazer na cidade industrial de Gelsenkirchen, mostrou-se chocado com algo muito comum na Alemanha: poucos lugares aceitam cartão de débito/crédito.
"Cuidado, adeptos, o nosso câmera teve de ir caçar uma caixa de multibanco na hora de pagar a conta", avisou.
Nem na capital Berlim deve sair de casa sem dinheiro no bolso. Durante a pandemia, muitos estabelecimentos foram forçados a comprar uma máquina para pagamento com cartões, mas muitos voltaram atrás.
"O cartão cobra taxas e as pessoas não querem que o banco saiba tudo o que eles fazem", justificou ao Flashscore o dono de um restaurante perto da fanzone do Portão de Brandemburgo.
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A Alemanha é mesmo assim, old school. Do lado do café onde escrevo, no bairro de Kreuzberg (um dos mais internacionais da capital), há uma loja de máquinas de escrever. Do outro lado da rua, há uma loja para revelar fotos, que é vizinha de uma loja de vinil.
Destas, só a loja de discos aceita cartão (para compras acima de 10 euros).
Se precisar de renovar algum documento ou resolver alguma situação pendente da enorme burocracia alemã, vai ter de esperar seis meses para conseguir agendar uma visita.
É possível também tentar agendar uma visita por fax, aquele aparelho paleolítico ainda usado por 80% das empresas alemãs, segundo a Deutsche Welle.
Apenas em Berlim, há mais de cinco mil aparelhos de fax em uso na administração local.
"Não faço ideia de onde vem esta noção de eficiência, eles nunca ouviram falar do nosso aeroporto?", indagou o dono do restaurante.
Sim, o novo aeroporto internacional da capital atrasou mais de uma década e virou um frankenstein por conta de uma sequência de erros e casos de corrupção.
Talvez os visitantes não saibam de nada disso, mas os alemães têm autocrítica.
E dentro de campo, as coisa estão a funcionando. Se a Mannschaft conquistar o primeiro título em casa desde 1974, os alemães certamente não se vão importar com a queda do mito da eficiência perante o planeta.
