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Reportagem: O efeito Ronaldo no Euro-2024

André Guerra, em Leipzig
Onde quer que vá, Ronaldo tem uma legião de fãs e imprensa a acompanhá-lo
Onde quer que vá, Ronaldo tem uma legião de fãs e imprensa a acompanhá-loAFP
Se a Seleção é um raro ponto de união entre todos os adeptos portugueses, Cristiano Ronaldo é um fenómeno futebolístico e cultural que prendeu ainda mais as várias gerações de emigrantes à sua terra e agarra estrangeiros que cometem autênticas loucuras no apoio à equipa das quinas.

Assistir a um jogo da seleção portuguesa numa grande competição é uma experiência única, já abordada aqui com as melhores dicas de entrosamento com os adeptos. Se há algo que salta à vista, além da enorme festa da claque de apoio e da diáspora portuguesa, é a quantidade de estrangeiros que por vezes parecem estar numa outra dimensão quando se vêm envolvidos no mar tuga.

Num espaço de duas décadas, este cantinho à beira mar plantado passou de um quase anonimato para as bocas do mundo. Os objetivos da seleção deixaram de ser 'tentar estar presente nas fases finais dos grandes torneios' para ser considerada automaticamente candidata. O turismo cresceu exponencialmente, Lisboa e Porto estão gentrificadas para lá do aconselhável e o futebol português, que sobrevivia ligado às máquinas, tornou-se num negócio bem sustentável - que o diga a Federação Portuguesa de Futebol.

Tudo isto pode ser atribuído ao tsunami de popularidade provocado por um só homem: Cristiano Ronaldo. De 2004 para cá, o astro português terraplanou tudo o que eram recordes dentro das quatro linhas e, fora delas, acumulou uma legião de fãs ao nível dos grandes nomes da indústria pop. 

O cartaz do Santo Padroeiro, Cristiano Ronaldo
O cartaz do Santo Padroeiro, Cristiano RonaldoFlashscore

É portanto normal que a maioria das camisolas da seleção portuguesa tenham CR7 nas suas costas, o que não é normal é haja tantos - e são mesmo muitos - estrangeiros a colocarem o metafórico bigode e palito na boca para poderem assistir a um jogo. Então em Leipzig, na estreia da seleção no Euro-2024, não faltaram camisolas diferentes (incluindo uma do Sporting, com o número 28) e sotaques díspares. 

Apesar de o torneio não estar a correr bem para o capitão português, a verdade é que os seu fãs pouco ou nada querem saber disso. Aliás, nem os fãs, nem os adeptos adversários, já que quatro turcos invadiram o relvado para tentar tirar uma fotografia com o seu ídolo.

"É difícil explicar, mas adoro-o como um todo"

A poucos minutos do apito inicial, o alemão Loic Lahudka passeava com o irmão junto à "loucura" da festa dos "malucos" adeptos portugueses antes de se dirigir às bancadas do estádio... com uma camisola do Ronaldo, claro está. Apesar de estar a torcer pelos anfitriões em primeiro lugar, não pode deixar passar a oportunidade de ver o seu ídolo ao vivo. 

"O Ronaldo agora joga na Arábia Saudita e é difícil vê-lo, portanto quando viesse à Alemanha eu tinha de o ver onde quer que fosse! Porquê o Ronaldo? Adoro a maneira dele jogar, o seu carácter, a sua mentalidade… é difícil explicar, mas adoro-o como um todo. É um dos melhores de sempre", atirou. 

"Adoro-o desde que era miúdo, ficava chateado quando marcava à Alemanha, mas respeito-o tanto… É muito bom futebolista, o seu trabalho árduo é muito inspirador para toda a gente", continuou. 

Há de tudo, até penteados inusitados
Há de tudo, até penteados inusitadosFlashscore

"Claro que vale a pena, mesmo com o preço elevado"

Ao intervalo da primeira jornada do Grupo F, Jinyu Tian abrigou-se da chuva e da confusão para fumar um cigarro, tão nervoso como o 0-0 que mostrava o marcador diante da República Checa. Envergando a camisola do capitão português, este jovem de 25 anos não se coibiu de explicar o que o levou até ali. 

"Vim para cá apoiar o Ronaldo, sou um grande adepto dele. Sou fã dele desde 2011 ou 2012, há mais de 10 anos. Estudo cá na Alemanha, vim porque estou a duas horas de distância e vim sozinho, valeu bem a pena. É muito difícil ter a hipótese de ver um jogo do Cristiano Ronaldo, por isso vim cá.", explicou.

No entanto, confessou que "continuaria a gostar de Portugal sem o Ronaldo".

Em todos os jogos de Portugal podem-se encontrar fanáticos de CR7 de todas as idades
Em todos os jogos de Portugal podem-se encontrar fanáticos de CR7 de todas as idadesAFP

"São a minha equipa favorita depois de China, que não consegue chegar a fases finais de grandes competições. Portugal está sempre nos Europeus e Mundiais, por isso... porque não? Claro que vale a pena, apesar do preço ser elevado", continuou. 

Para este chinês de 25 anos, a experiência portuguesa foi "muito boa", juntando-se aos adeptos "a cantar e a dançar no autocarro". De tal forma que até tenciona visitar Portugal e Marrocos, assinalando desde já no calendário o Mundial-2030. 

Números também falam

Os relatos podem por vezes inflamar ou esvaziar o real valor daquilo que está a ser avaliado. Os números, porém, não mentem e mostram o que se esconde por baixo dos mantos de sentimentalismo. Ora, para ter uma melhor ideia do que representa Ronaldo à escala global, mostro-lhe os números do Flashscore. 

No dia do Portugal-República Checa, a nossa homepage portuguesa recebeu quase 13 milhões de visitas (o mesmo utilizador pode visitar a página várias vezes, ndr). A nível global, foi o jogo com mais visitas da primeira jornada da fase de grupos, com mais de 35 milhões de visualizações. 

Quanto à globalidade da fase de grupos, o domínio luso é claro. Os três jogos estão no top-4 de mais visitados do torneio, com o Turquia-Portugal a levar a coroa. A nível de jogadores, o perfil mais visitado foi o de Cristiano Ronaldo (com o georgiano Mikautadze e o turco Arda Guler a fecharem o pódio).

Nas equipas, Portugal foi também a equipa mais visitada e a que mais utilizadores colocaram nos favoritos para acompanharem as notícias, os resultados e as novidades. 

Aproveitar (o final d)a viagem

É um facto que o torneio não está a correr bem ao capitão da seleção portuguesa, mas ao longo da sua carreira de 20 anos no topo do futebol mundial, já provou mais do que uma vez que essas quedas de rendimento desaparecem num estalar de dedos.

O jogo desta sexta-feira contra a França é a ocasião perfeita para se escrever uma história de superação e recuperação, daquelas hollywoodescas de que toda a gente gosta. Há oito anos um francês (Dimitri Payet) impediu-o de disputar o jogo mais importante da sua carreira, mas Ronaldo riu-se no fim quando levantou o troféu. Agora, em 2024, as toda-poderosas França e Portugal voltam a encontrar-se no palco europeu.

As probabilidades estão todas contra Ronaldo, tal como estiveram toda a sua vida. Ganhando ou perdendo, a lenda do menino que deixou a Madeira aos 11 anos para perseguir um sonho vai continuar viva. Porque, marcando ou não neste Europeu, CR7 será eterno

A História vai fazer questão de nos relembrar. Cá dentro e lá fora.

A reportagem de André Guerra
A reportagem de André GuerraFlashscore