Steve Scragg em exclusivo: "Atualmente não existe um grupo da morte no Europeu"

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Steve Scragg em exclusivo: "Atualmente não existe um grupo da morte no Europeu"

Gullit celebra com Van Basten
Gullit celebra com Van BastenProfimedia
Houve a sensacional vitória da Irlanda sobre a Inglaterra por 1-0. Houve Ronald Koeman a limpar o rabo com a camisola de Olaf Thon depois de os neerlandeses terem vencido os alemães na meia-final. E depois, claro, houve o melhor golo de sempre marcado na final de um torneio internacional, quando Marco van Basten atirou a bola para a baliza de Rinat Dasayev.

O Euro-1988 foi um belo torneio e não é de admirar que alguém se tenha lembrado de escrever sobre ele. Esse alguém é Steven Scragg, com quem o Tribalfootball conversou sobre o seu livro, intitulado "Euro 88 - O Campeonato Europeu dos Puristas do Futebol".

"Para mim, o Euro-1988 está no ponto rebuçado. Acredito muito no facto de estarmos todos ligados ao futebol da nossa juventude, quando estamos mais impressionáveis. Não temos deveres, não trabalhamos, não temos contas para pagar, não temos vidas complicadas, por isso podemos simplesmente abraçar estes torneios e estas épocas pelo que foram e reencenar os jogos no campo ou na rua com os nossos amigos. Cobiçamos as camisolas e até a bola do jogo", diz Scragg em resposta à nossa pergunta sobre esse título específico.

"Eu tinha 14 anos no verão de 1988 e foi o primeiro campeonato europeu com cobertura total na televisão britânica, pelo que pude assistir a tudo. Foi simplesmente glorioso; não houve um cartão vermelho, não houve um jogo que fosse para prolongamento, não houve penáltis. Foi um torneio em que os treinadores eram Rinus Michels, Valeriy Lobanovsky, Franz Beckenbauer, Sepp Piontek, Miguel Muñoz, Bobby Robson e Jack Charlton. Era um magnífico conjunto de treinadores, ideias e formas diferentes de jogar futebol, sendo que dois deles eram jogadores vencedores do Campeonato do Mundo", continua Scragg, antes de enumerar um admirável leque de talentos também em campo: "Os Países Baixos tinham van Basten Gullit, Rijkaard, a magnífica equipa soviética tinha Belanov, Protasow, Zavarov, a Itália tinha Maldini, Giannini, Ancelotti e os alemães tinham Matthäus, Klinsmann, Völler. Depois, claro, havia a equipa inglesa com John Barnes, Glenn Hoddle, Lineker, Bryan Robson, Chris Waddle, para citar alguns nomes."

Perna partida custa caro à Inglaterra

Como Scragg salienta, e com razão, a Inglaterra tinha um grande plantel de jogadores, mas mesmo assim conseguiu sair do torneio com três derrotas no grupo, o que ele atribui ao momento em particular.

"Bobby Robson liderou a Inglaterra em quatro campanhas de qualificação ao longo dos seus oito anos no comando da seleção inglesa, e não houve uma campanha de qualificação mais impressionante do que a que tiveram para o Euro 1988. Os ingleses foram muito pragmáticos na forma como se qualificaram para os Mundiais de 1986 e 1990, mas em 1988 foram muito fluidos, jogando um futebol de ataque aberto. Quando a Inglaterra conseguiu a qualificação, o desempenho em Belgrado contra a Jugoslávia foi ridículo. Estavam a ganhar por 4-0 em 18 minutos, no jogo decisivo da fase de qualificação. Raramente vi uma melhor exibição da Inglaterra, foi um jogo incrível, mas uma semana depois de terem conseguido a qualificação, perderam Terry Butcher devido a uma perna partida e, do ponto de vista defensivo, muito dependia da disponibilidade de Butcher", lamentou.

"Começam contra a Irlanda e, se jogarmos 10 vezes, acho que a Inglaterra provavelmente ganha oito vezes. Tiveram muitas oportunidades, mas Pat Bonner esteve muito bem na baliza da Irlanda. Lineker acertou três vezes na trave, por isso, noutro dia, a Inglaterra ganha esse jogo. Contra os neerlandeses, no segundo jogo do grupo, com 1-1 na segunda parte, pareciam ter mais probabilidades de vencer até van Basten entrar em campo, pelo que a margem foi pequena, mas em muitos aspectos pode sugerir-se que atingiram o auge demasiado cedo em novembro, em Belgrado", recordou.

Por falar na Irlanda, como Scragg também salienta, os irlandeses tinham uma magnífica coleção de jogadores e eram geridos por Jack Charlton, que tinha uma abordagem muito pragmática.

"Temos ali jogadores como Ronnie Whelan, Ray Houghton, John Aldridge, Frank Stapleton e Kevin Sheedy, alguns futebolistas maravilhosamente dotados a quem é pedido que joguem este estilo de futebol pragmático que quase os leva às meias-finais", diz Scragg sobre os irlandeses, que perderam a meia-final devido a um golo de Wim Kieft aos 82 minutos.

Todos os jogos foram importantes

Os Países Baixos estiveram à beira da eliminação e conquistaram o título com a melhor seleção da história do país e num torneio composto por apenas oito países, em comparação com os 24 de hoje, o que, segundo Scragg, não foi uma desvantagem.

"Um Campeonato da Europa com oito equipas era basicamente dois grupos da morte. As sete nações que se qualificavam tinham de ganhar o seu grupo para lá chegar. Não havia nenhuma rede de segurança. Esse torneio é provavelmente o Campeonato da Europa mais forte de sempre, quando se olha para ele, equipa por equipa. Estão presentes todas as nações vencedoras do Campeonato do Mundo. Quatro dos anteriores vencedores do Campeonato da Europa estiveram presentes, enquanto a França não se qualificou como atual campeã", afirma Scragg, que acredita que as melhores selecções de 1988 seriam melhores do que muitas das equipas do Campeonato da Europa de 2024.

"A equipa de 1988 era melhor do que a atual equipa dos Países Baixos? Sem dúvida. A Itália de 1988 era muito melhor do que a atual. A União Soviética tinha uma equipa maravilhosa que derrotou os neerlandeses na fase de grupos de 1988. A Alemanha Ocidental de 1988 contra a Alemanha de 2024 é algo que provavelmente ainda está para ser visto", frisou.

Scragg não se importaria de voltar aos "bons velhos tempos" em que todos os jogos contavam no Euro.

"Hoje em dia não há um grupo da morte. Não estamos a olhar para um grupo e a pensar 'uau', há dois vencedores do Campeonato do Mundo e dois campeões europeus, isto vai ser incrível. Hoje em dia, joga-se 36 jogos da fase de grupos para eliminar oito equipas e não há muitas surpresas entre essas oito equipas que são eliminadas. Não creio que ninguém fique particularmente surpreendido por ver a Escócia e a Albânia a saírem do torneio. Penso que o futebol deveria ter espaço para um torneio em que participassem apenas as melhores equipas e em que cada jogo fosse importante. No Campeonato da Europa de 1988, a abertura do torneio foi com Espanha contra a Dinamarca e Itália contra a Alemanha Ocidental. Foi absolutamente espetacular".