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126 milhões de promessas e uma relação atribulada: a passagem de João Félix pelo Atlético

João Félix foi apresentado no verão de 2019 como jogador do Atlético
João Félix foi apresentado no verão de 2019 como jogador do AtléticoBURAK AKBULUT/ ANADOLU AGENCY/Anadolu via AFP, Flashscore
O tempo voou e, entretanto, passaram cinco anos. 126 milhões de euros depois, João Félix sai definitivamente do Atlético Madrid, mas, ao contrário do que se esperava no Civitas Metropolitano, o português não vai propriamente deixar saudades aos adeptos colchoneros.

"Puro Talento". O slogan apresentado pelo Atleti no momento da apresentação de João Félix mostrava aquilo que o clube esperava do avançado português. Acabado de chegar à seleção, após meia época de sonho no Benfica, com o título conquistado sob a orientação de Bruno Lage, 2019 parecia apenas o início de uma carreira brilhante para este jovem natural de Viseu.

Meses antes de conquistar o prémio Golden Boy, Félix já era apontado a futuros galardões individuais, como a Bola de Ouro. Poucos eram aqueles que duvidavam da qualidade deste jovem ainda a dar os primeiros passos no futebol sénior. 

Cinco dias depois da oficialização, João Félix foi apresentado como jogador do Atlético Madrid, numa cerimónia digna das maiores estrelas. Contou com a presença de Paulo Futre, que continua a ser a maior figura lusa nos colchoneros, e com a do presidente do Atlético, Enrique Cerezo, que lhe entregou a camisola 7, anteriormente utilizada por Griezmann.

"Quando vi que o menino de ouro vinha para aqui foi uma felicidade incrível", disse Futre, na apresentação de Félix.

As expectativas dificilmente podiam estar mais altas, mas o internacional português parecia conviver bem com essa pressão. Além da imprensa portuguesa, o jovem começou a ser também seguido de perto pela imprensa espanhola: "Estou aqui para dar tudo e para fazer história no clube", afirmou, também na apresentação.

Félix e Futre na apresentação
Félix e Futre na apresentaçãoBURAK AKBULUT/ANADOLU AGENCY/Anadolu via AFP

Lua de mel teve direito a dérbi

Terminada toda a novela relacionada com a transferência, chegava o momento de entrar em campo e os primeiros sinais deram razão à aposta do Atlético. Apesar de ter saído lesionado ao fim de 27 minutos no primeiro particular, Félix convenceu o próprio Diego Simeone depois de um jogo marcante pelos colchoneros... mas que não contou para nada.

O camisola 7 foi titular e os adeptos espanhóis ficaram acordados até tarde para assistir ao Real Madrid - Atlético Madrid no MetLife Stadium. A exibição impressionante da equipa de Simeone, que venceu por 7-3, com Félix a brilhar - duas assistências (1' e 51') e um golo (8') -, fizeram sonhar os colchoneros nessa madrugada.

"Quando tens o talento do João, jogas em qualquer lado", afirmou Simeone, no final da partida. O tempo viria a desmentir o argentino.

Como qualquer casamento, a lua de mel teve direito a momentos inesquecíveis durante a digressão pelos EUA. Em Espanha, dizia-se que "nem Messi fazia sombra a João Félix", mas quando a LaLiga começou, não foi bem assim.

Após marcar três golos nos primeiros 11 jogos pelo Atlético Madrid, com algumas exibições desinspiradas pelo meio, uma lesão afastou Félix das opções de Simeone e não se pode dizer que o português regressou melhor do que nunca.

Apesar de figurar de forma regular no onze, o avançado raramente fazia jogos completos e aí começaram as primeiras declarações mais quentes de Simeone sobre o seu jogador: "Gostava que tivesse um pouco mais de gasolina no final dos jogos", atirou o argentino, um dia antes de João Félix receber o prémio Golden Boy.

Se 2019 tinha sido uma espécie de sonho, 2020 começou por ser um verdadeiro pesadelo. Colocado pelo jornal Marca no 11 das deceções da primeira volta da LaLiga, Félix lesionou-se e perdeu jogos importantes antes da pausa devido à pandemia ter afetado todo o futebol mundial, deixando o internacional português reduzido a representante do clube num torneio solidário da FIFA. Tempos estranhos.

Félix e Simeone começaram a afastar-se
Félix e Simeone começaram a afastar-seAFP / JAVIER SORIANO

Título não impediu polémicas

A nível coletivo, pode dizer-se que a temporada 2020/21 foi a melhor de João Félix no Atlético Madrid, mas a nível individual não foi bem assim. O internacional português ajudou os colchoneros a conquistar a LaLiga, mas foi mais vezes suplente do que titular - jogou 14 vezes de início e 17 a partir do banco.

Enquanto Luis Suárez brilhava na frente de ataque, Félix continuava a ter uma passagem irregular pelo Metropolitano. A única constante era mesmo a frequência das declarações de Simeone.

"Somos uma equipa, não um jogador. Sem vontade, o talento não se alcança e nós tentamos ter vontade para que apareça o talento natural dos jogadores", atirou, quando questionado sobre o que faltava a João Félix.

João Félix sobre as críticas dos adeptos do Atlético Madrid
João Félix sobre as críticas dos adeptos do Atlético MadridOSCAR BARROSO/Spain DPPI/DPPI via AFP, Opta by Stats Perform

No entanto, também as próprias palavras do argentino mudavam ao sabor do vento. Numa espécie de último esforço para fazer render o português, a família Atleti pareceu unir-se em torno de Félix, numa altura em que Enrique Cerezo ainda dizia que seria "um dos melhores jogadores da Europa".

"Vocês nem imaginam o que ele joga. Já falei com ele inúmeras vezes e a conversa vai sempre dar ao mesmo. Está a amadurecer e tem um talento enorme. Eu, como treinador, fico triste quando não consigo tirar o melhor dos jogadores", elogiou Simeone, após a conquista da LaLiga.

A época seguinte foi bem diferente para o Atlético Madrid, distante da possibilidade de se sagrar bicampeão, mas igual para João Félix, que perdeu espaço com o regresso de Griezmann, apesar de ter conseguido manter a camisola 7. Sem convencer Simeone, continuou a saltar entre o onze e o banco de suplentes, obrigando o próprio treinador a justificar as suas escolhas: "Na seleção também não é titular muitas vezes".

Ainda assim, a boa reta final de temporada, que fez com que fosse eleito melhor jogador do mês de março na LaLiga, e a influência dentro de campo (35 jogos, 10 golos, cinco assistências) - que o levaram a ser o melhor jogador da temporada para os adeptos do Atlético - eram uma espécie de promessa de que tudo poderia mudar. Até que...

Mercado aberto para Félix

O verão teve os habituais rumores de mercado e envolveram o próprio João Félix. Apontado a clubes como o Manchester United e o Bayern Munique, o português sabia que dificilmente iria sair do Atlético Madrid, tendo em conta o preço que custou. O jornal Marca garantiu que o clube espanhol rejeitou uma proposta de 100 milhões de euros feita pelo emblema alemão, mas o descontentamento era cada vez mais visível nas ações e nas palavras do jogador. 

"Adorava que o João continuasse, mas a ideia dele é sair", revelou, a 06 de dezembro, Gil Marín, diretor-geral do Atlético Madrid. A 08 de janeiro de 2023, João Félix fez, frente ao Barcelona, o último jogo pelo Atlético e rumou à Premier League.

Num Chelsea ainda à procura de um rumo, sob o comando de Graham Potter, o português era visto com uma espécie de salvador. Os Blues não hesitaram em pagar 11 milhões de euros pelo empréstimo, por meia temporada, de João Félix, mas a estreia durou apenas 58 minutos. Titular apenas um dia depois de chegar a Stamford Bridge, viu vermelho direto após entrada dura sobre Kenny Tete e foi suspenso três jogos.

Apesar do arranque em falso, João Félix dava sinais de estar a gostar da sua experiência em Londres, onde se assumiu como titular, principal objetivo quando se mudou para a Premier League: "Precisava muito deste empréstimo. Sair do Atlético foi bom para mim e para eles", contou.

"Barcelona? Sempre foi o meu sonho"

Não se pode dizer que a passagem de João Félix por Londres tenha sido memorável. Talvez o seja a partir de agora, mas 20 jogos e quatro golos marcados não deixaram saudades, nem foram suficientes para convencer Pochettino, entretanto treinador do Chelsea, a manter o jogador. De regresso a Espanha, Félix manifestou o seu desejo de jogar... no Barcelona.

"Adorava jogar pelo Barça. O Barcelona foi sempre a minha primeira escolha e adorava jogar lá. Sempre foi o meu sonho desde criança", revelou, em declarações à Sky Sports.

Como seria de esperar, as palavras do português não caíram bem em Madrid e desde cedo ficou claro que Félix não iria voltar a jogar pelo clube: "Ninguém é mais importante que o Atlético", atirou Simeone, dias mais tarde.

Camisola de Félix antes da partida entre o Atlético e o Barcelona
Camisola de Félix antes da partida entre o Atlético e o BarcelonaANGEL MARTINEZ/GETTY IMAGES EUROPE/Getty Images via AFP

Mas eis que, nas últimas horas de mercado, tudo muda para João Félix. Convocado de forma surpreendente (e polémica) por Roberto Martínez para os jogos de Portugal, assinou pelo Barcelona por volta das 22:00 espanholas, cumprindo assim o sonho de uma vida, mas não sem antes renovar com o Atlético.

"Pode jogar a nove, à esquerda, à direita e até por dentro. Tem condições maravilhosas para ter sucesso no Barça", elogiou Xavi, um dia depois.

E ali, tal como no Atlético, a lua de mel foi quase perfeita. Foi titular pela primeira vez a 16 de setembro e marcou frente ao Bétis. No jogo seguinte, para a Liga dos Campeões, bisou e assistiu na goleada ao Antuérpia: "Estou bastante contente por voltar a ser titular. É fácil jogar nesta equipa (...) A mudança fez-me bem, a mim e à minha família".

Tal como aconteceu por onde passou, faltou a João Félix a consistência necessária para brilhar num clube como o Barcelona, mas haverá um jogo que ficará para sempre marcado na passagem do avançado pela Catalunha, o reencontro com o Atlético Madrid.

Os dias que antecederam a partida levaram a várias trocas de palavras a envolver o próprio Félix, mas também Simeone, Griezmann e Cerezo: "Não sei o que fará o João, mas espero que não festeje se marcar golo", disse o presidente do Atleti. Pois bem, o avançado português marcou o golo que decidiu a partida e pode dizer-se que não se conteve nos festejos.

A verdade é que, depois desse jogo, e apesar das manifestações de Xavi de que haveria interesse em continuar com João Félix para lá dessa época, o rendimento do português voltou a sofrer altos e baixos. No entanto, no regresso quentinho ao Civitas Metropolitano, o português não só voltou a ser tema de conversa, como voltou a marcar, num jogo em que não foi bem recebido pelos adeptos colchoneros.

"As pessoas de fora não sabem, por isso entendo perfeitamente as reações deles, mas se calhar não sou eu o mau da fita", respondeu, no final da partida.

O fim de uma relação que nunca funcionou

Ao longo dos anos, João Félix também foi tema na imprensa por causa das suas relações amorosas, mas falando apenas de futebol foi sempre claro que a relação entre o avançado contratado ao Benfica e o Atlético Madrid não tinha pernas para andar.

O encantamento inicial desapareceu e as partes envolvidas começaram a encontrar novos defeitos a cada dia que passava. Perante este cenário, por muito duro que fosse, era óbvio que tinha chegado o momento de pôr fim a mais de cinco anos de uma ligação que, a nível sentimental, nunca existiu.

Félix também não se afirmou na seleção
Félix também não se afirmou na seleçãoMIGUEL A. LOPES/LUSA

João Félix, que custou quase um milhão de euros por jogo, deixa oficialmente o Atlético Madrid depois de 131 partidas pelos colchoneros, mas acima de tudo com a sensação que tanto o clube como o próprio jogador investiram tempo a mais para fazer funcionar esta relação.

A imprensa ainda abordou a possibilidade de o avançado recuperar um relacionamento antigo, mas nem Benfica, nem Aston Villa. João Félix segue agora para Londres à procura do mesmo que tentou encontrar em 2023. Cerca de uma época e meia depois, livre das amarras do Atlético Madrid e de Simeone, cabe agora ao português responder em campo à questão sobre quem era, afinal, o mau da fita.

Hugo Filipe Martins, editor Flashscore Portugal
Hugo Filipe Martins, editor Flashscore PortugalFlashscore