Barcelona: o ponto de viragem graças ao sacrifício de Xavi
Quem nunca viu um filme ou documentário em que alguns povos, de acordo com a sua cultura, faziam oferendas aos seus deuses ou soberanos? Houve até voluntários que consideraram que essa era a melhor forma de transcender. Extrapolando para a atualidade, no mundo do futebol há um caso semelhante, o de Xavi Hernández.
Chegou como o salvador do clube, conseguiu recuperar alguma da sua riqueza, mas vendo-se incapaz de conquistar o mundo, considerou a certa altura, quando perdeu 3-5 com o Villarreal, que a melhor forma de ajudar o seu povo era sacrificar-se. Nesse dia, para aliviar a pressão sobre os seus jogadores, o técnico natural de Terrassa anunciou que não continuaria como treinador do Barcelona.
Desde então, o atual campeão da LaLiga subiu do quarto para o segundo lugar e ganhou sete dos seus últimos dez jogos. Os outros três terminaram empatados. Uma excelente série de resultados que foi confirmada no domingo, no estádio Metropolitano, com uma vitória por 3-0 sobre o Atlético de Madrid.
O desempenho de domingo pode ser "o melhor da época", admitiu o treinador, que foi expulso por protestar contra o árbitro.
Defesa de volta aos trilhos
A primeira coisa que se destaca na reação é a recuperação da defesa, que está há quatro jogos sem sofrer golos pela primeira vez esta época, após meses difíceis, irreconhecível em relação à retaguarda que levou a equipa ao título da LaLiga da época passada.
A sua fragilidade custou ao Barcelona oito pontos de atraso em relação ao Real Madrid na LaLiga, a humilhação na final da Supertaça (4-1 ao seu grande rival na final) e a eliminação nos quartos de final da Taça do Rei. Os quartos de final da Liga dos Campeões contra o PSG são a sua prestigiada tábua de salvação.
Xavi tomou a decisão de deslocar o dinamarquês Andreas Christensen para o centro do meio-campo e ocupar o seu lugar no centro da defesa com o jovem Pau Cubarsí, de 17 anos, ao lado do uruguaio Ronald Araújo, que respondeu com um desempenho notável que já o levou à seleção espanhola após apenas 12 jogos na equipa principal.
Além disso, Marc-André Ter Stegen regressou à baliza depois de superar a lesão e o francês Jules Koundé melhorou como lateral-direito, dando serenidade e controlo aos blaugranas.
Jovens sem medo
Além de Cubarsí, a outra sensação do Barcelona é Lamine Yamal, um jovem de 16 anos capaz de desempenhar o papel de catalisador que Ousmane Dembélé, agora no PSG, teve no ano passado.
O canhoto bateu quase todos os recordes de precocidade, tendo já disputado 44 jogos em todas as competições, com oito golos e cinco passes decisivos. Um destaque que o levou a ser comparado a nada menos que Lionel Messi.
Com Gavi, de 19 anos, outra jóia da formação, de fora devido a uma lesão grave, foi Fermín López, de 20 anos, que aproveitou a sua oportunidade como jogador importante no meio-campo.
Héctor Fort, de 17 anos, é o mais recente membro desta juventude impulsionada por Xavi, que foi titular na lateral esquerda no domingo, no lugar de João Cancelo.
Veteranos de alto nível
A par dos jovens, dois jogadores de 30 anos com grande prestígio no futebol europeu, Robert Lewandowski (35 anos) e Ilkay Gündogan (33 anos), surgiram na melhor altura possível. O primeiro recuperando a sua eficácia, o segundo aumentando a sua influência na criação de jogadas.
Melhor marcador da LaLiga na época passada, mas dececionante na primeira metade da atual campanha, Lewandowski já esteve envolvido em 15 golos em 2024, 11 golos e quatro assistências, duas contra o Atlético.
Gündogan, mais liberto, aproveitando o facto de Christensen jogar como médio defensivo, brilha na construção e no passe final, uma posição que conhecia bem no Manchester City.
O PSG já sabe disso. O Barcelona está de volta e é uma ameaça na Liga dos Campeões.
A melhoria do Barça levou a imprensa catalã a questionar-se sobre a possibilidade de Xavi Hernández voltar atrás na sua palavra e permanecer na próxima época. Algo que, para já, foi negado várias vezes pelo próprio treinador.