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Entrevista Flashscore a Menotti: "Representar o Barcelona ou Real é inesquecível e isso perdeu-se"

César Luis Menotti, em 2019 com a camisola da Argentina
César Luis Menotti, em 2019 com a camisola da ArgentinaAFP
César Luis Menotti foi o treinador que deu à Argentina o seu primeiro Campeonato do Mundo, em 1978. Foi também treinador do Barcelona e do Atlético de Madrid em Espanha. El Flaco partilhou alguns minutos de conversa com Miguel Blázquez do Flashscore. Analisou as diferenças entre o futebol do passado e o atual e a situação do Barcelona.

- Onde está neste momento, em Rosário?

- Não, vivo na capital. Tenho uma escola de treinadores, continuo a viver em Buenos Aires. Vou a Rosário para passear, comer com os meus amigos.

- O futebol ainda desempenha um papel importante na sua vida?

- O futebol continua a ser um facto cultural na minha vida, ensinou-me a aprender sobre tudo. A fama do futebol, se a utilizarmos bem, leva-nos a conhecer grandes músicos, grandes jornalistas, grandes poetas. Para mim, o futebol foi um lugar que me desenvolveu como facto cultural, o que não significa ler Borges. Significa estar próximo da realidade.

- O que é que o futebol lhe proporcionou de mais útil na sua vida e que lhe fica na memória?

- Começa-se a compreender o significado do futebol quando se começa a ouvir a relação emocional entre a bola, o jogador e as pessoas. Isso é válido para a história das camisolas. Cada camisola, mesmo que não seja do Barcelona ou do Real Madrid, tem uma história relacionada com um facto cultural. Dá-nos a liberdade de sermos nós próprios.

- Que recordações guarda da sua passagem por Espanha com o Barcelona e o Atlético de Madrid?

- A possibilidade de interagir num mundo que é difícil e a alegria de ser um representante quando se é treinador do Barcelona ou do Atlético de Madrid.

- Como vê a situação atual do Barça de Xavi?

- Tem sido um momento de confusão e penso que, tendo alguém que conhece a história do Barcelona como jogador, é possível que consiga recompor a relação entre as pessoas, os jogadores e o treinador, que estava meio ausente. Todos os que estão no Barcelona neste momento são grandes jogadores, mesmo que o clube não tenha uma figura de proa como Messi, Maradona ou Cruyff tiveram na altura.

César Luis Menotti, em 2011
César Luis Menotti, em 2011Profimedia

- Vê Bellingham pronto para estar entre os maiores da história?

- Ele tem as condições, mas é preciso competir e viver as situações de compromisso que advêm de vestir a camisola daquele clube. Há jogadores que apareceram para responder à falta dos grandes do mundo do futebol, a partir de Di Stéfano ou Kubala. O mundo do futebol é difícil, mudou, está confuso... Não é fácil. Antes, o importante era a LaLiga, depois a Taça. Lembro-me sempre das duas finais da Taça que ganhámos com o Barcelona contra o Madrid. É uma mensagem de alegria que nunca se esquece, ganhar a Taça do Rei e a Taça da Liga.

- Que recordações tem desses duelos contra o Madrid?

R: Do outro lado estava Di Stéfano. O Alfredo era muito corajoso, queixava-se sempre, tinha sempre desculpas, era muito corajoso. Esse mundo do futebol, espero que continue a existir. Foi sempre vivido a partir de um respeito pelo jogo, por esse facto cultural de representatividade que a camisola do Barcelona tem. É perceber que se está a vestir uma camisola que representou a alegria, o empenho de uma sociedade, são clubes com muito poder de representação. Não se trata apenas da bola e do domingo.

- Em que medida acha que mudou não só a vida do futebolista, mas também o próprio desporto?

- Penso que a sociedade mudou, há um mundo de urgência, o simples facto de representar um clube como o Barcelona ou o Madrid é inesquecível e isso perdeu-se. Antes, uma dessas camisolas era um cartão de reconhecimento. Se tivesses jogado no Barcelona, ias a um restaurante, estava lá um antigo jogador, reconheciam-no, respeitavam-no e condecoravam-no como se ainda estivesse a jogar. Tive a oportunidade de ver o carinho com que os adeptos que gostam do Barça o reconheciam.

- Por vezes, os catalães queixam-se da falta de garra, da falta de intensidade de alguns jogadores.

- Temos de começar a reconhecer que há uma profunda deculturação na sociedade. No futebol, isso já aconteceu há muito tempo. Quando fui treinador do Barcelona, entrei num sítio e nunca me pediram um autógrafo, mas fui recebido como se tivesse nascido em Barcelona e não como se tivesse ganho dez campeonatos. É preciso ter cuidado porque, por vezes, o mundo dos negócios devora essa relação. É preciso ter consciência do que se está a representar e não apenas de que se está a ter bons resultados. Estou muito contente com a relação que tenho tido com os jogadores.