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Exclusivo com Higuera: "Os jogadores estão fisicamente melhores, mas perdeu-se a qualidade"

Jesús Toledano
Francisco, "Paquete", Higuera
Francisco, "Paquete", HigueraDiario de Jerez
Francisco, "Paquete", Higuera (Escurial, 1965) foi jogador do Maiorca, do Saragoça, do Puebla do México e do Xerez. Também foi treinador do Xerez na época 2013-2014. Os seus maiores êxitos desportivos ocorreram na capital aragonesa, onde conquistou uma Taça do Rei e uma Taça dos Vencedores das Taças. Em conversa com o Flashscore analisou as últimas notícias do futebol.

- Já passou muito tempo desde que ganhou a Taça e a Taça dos Vencedores das Taças, mas suponho que são momentos que como futebolista e como pessoa nunca esquecemos, que nos marcam muito, não é verdade? 

- Não, não há dúvida nenhuma. É preciso ter em conta que ganhar títulos no futebol de hoje, e antes, sobretudo numa equipa como o Saragoça, que é uma grande equipa mas não é das chamadas grandes, é importante. Ganhar a Taça do Rei, a Taça dos Vencedores das Taças e chegar à outra final que não ganhámos em Valência significa que, no final, ficam na memória de todos, certo?

- Não sei se a Taça dos Vencedores das Taças foi mais especial para si ou a Taça do Rei, que ganhou ao Celta de Vigo no Vicente Calderón, porque foi o responsável pela conversão do penálti decisivo.

- Acho que tudo. Como lhe estou a dizer, antes dessa final da Taça do Rei, jogámos outra em Valência, que perdemos. Com a equipa que tínhamos, acreditávamos naturalmente que podíamos ganhar um ou dois títulos. No ano seguinte, tivemos essa Taça, que ganhámos, na qual marquei o penálti e fomos campeões. Não há dúvida de que a Taça dos Vencedores das Taças foi o ponto alto dessa equipa, não foi? E, portanto, bem, tudo é importante, tudo se soma e não há dúvida de que uma coisa leva à outra e é isso que nos resta, não é?

- Passou quase dez épocas no Saragoza. Quando assinou contrato com o clube, imaginou que poderia ganhar títulos?

- A verdade é que o Saragoça é uma equipa que tem sempre títulos, já tinha ganho uma Taça das Cidades com Feira, já tinha sido campeão da Taça do Rei e não há dúvida de que isso podia voltar a acontecer, não é? No ano em que cheguei, que foi em 1988, não era uma equipa que pudesse aspirar a ser campeã da Taça ou a estar no topo, o que aspirávamos era chegar à Europa, que era o que normalmente fazíamos, esse era o objetivo. E depois, dentro dessa competição europeia, no ano seguinte, tentava-se passar à fase a eliminar, o que era sempre muito difícil. Naturalmente, à medida que a equipa ia evoluindo, acreditávamos que, no final, sim, poderíamos ganhar um título. Talvez não uma Taça dos Vencedores das Taças a nível europeu, mas uma Taça do Rei, porque, como já disse, perdemos no ano anterior em Valência e acreditávamos que podíamos tentar novamente no outro ano.

Francisco,
Francisco, Diario de Jerez

- O que recorda dessa final da Taça dos Vencedores das Taças contra o Arsenal? Porque quando se chega a Saragoça, a cidade está de pernas para o ar. Foi um verdadeiro boom, não foi? 

-  A verdade é que foi uma loucura, imagina uma cidade como Saragoça, a cidade toda na rua, desde o momento em que chegámos ao aeroporto até ao Pilar, quando fomos oferecer a taça à Virgen del Pilar, a rua toda, a cidade toda cheia de gente. Foi maravilhoso, são recordações maravilhosas e não há dúvida de que são coisas que o futebol nos dá, não é?

"Naquela altura, quando se lesionava ou era expulso, pagava-se caro por isso"

- Chegaste a sonhar com a conquista do campeonato? Digo isto porque, nessa altura, enfrentava o Barcelona de Cruyff, que era uma grande equipa. Mas é verdade que tinham um plantel muito bom. Contigo, com o Esnáider, com o próprio Pardeza, com o Poyet. Era um plantel muito bom.

- Sim, sim, não há dúvida de que lutámos com eles, ou seja, com o Real Madrid, com o Barcelona, com o Valência, com o Sevilha. Um ano estivemos lá e acabámos em quarto lugar, que era o ano em que podíamos ter aspirado a fazer um pouco mais. Mas é claro que, como sempre, os plantéis da altura não eram como os de agora, em que temos 22 ou 30 jogadores com quem podemos competir. Naquela época, tínhamos 12 ou 13 jogadores e, quando havia lesões ou jogadores expulsos, pagávamos caro por isso.

- Era isso que eu queria perguntar-lhe também, o que resta desse futebol? Com o futebol de hoje, o jogo mudou muito?

- Sim, mudou, mudou. Claro que hoje em dia, economicamente, os clubes estão muito melhor, há mais dinheiro, há mais preparação física, há muito mais treinadores, mais assistentes e fisicamente os jogadores estão mais bem preparados. Penso que houve uma perda de qualidade no futebol, mas fisicamente a verdade é que são jogos muito duros e muito fortes.

- Então acha que o físico está a substituir a qualidade?

- Sim, sim. Estamos a ver isso, por exemplo, no próprio Barcelona, este ano, no ano passado, no outro dia, lendo uma entrevista com o preparador físico do Barcelona, eles analisaram tudo o que lhes aconteceu no ano passado e acharam que era uma questão física. E, portanto, não sabemos se é esse o caso e se neste momento ele está a dar-lhe razão. Esperemos que no final, bem, se no final também lhe estiver a dar razão. Mas o que eu quero dizer é o que estamos a falar, que o físico é muito, muito importante hoje em dia.

Higuera, durante o seu tempo como treinador do Xerez
Higuera, durante o seu tempo como treinador do XerezDiario de Jerez

"Até tive a oportunidade de ir ao Campeonato do Mundo nos Estados Unidos"

- Na sua carreira de jogador, foi convocado seis vezes. Jogando pela seleção espanhola, o que acho que é uma das melhores coisas para qualquer futebolista, poder ser internacional, jogar pela sua seleção. Mas, claro, ainda me pergunto porque é que ele não foi a um Campeonato do Mundo ou a um Campeonato da Europa, o que é que ele perdeu? Porque eu até li numa entrevista que ele chegou a experimentar um fato, para o Mundial de 94.

-- Sim, a verdade é que tive azar nesse aspeto. Não tenho dúvidas de que o Mundial dos Estados Unidos foi o Mundial, porque eu estava no meu melhor momento físico e mental. E com a época que tive, penso que estava muito preparado para poder ir ao Mundial com a seleção espanhola. Acreditava que ia, porque tinha feito todas as provas. Como já disse, até tinha o fato, porque o fomos experimentar. Tinha tudo. Mas, no final, Javier Clemente deixou-me de fora.

- Por curiosidade, guardaste o fato ou não?

-  O fato, sim, mas já não me serve, sim. E depois, bem, assim que voltei dos Estados Unidos, no primeiro jogo contra o Chipre, que se jogou em setembro, para as eliminatórias do Campeonato da Europa, o Javier Clemente ligou-me. Estou fora do Campeonato do Mundo e no primeiro jogo ele telefona-me, certo? E joguei esse jogo em Chipre, marquei dois golos e ganhámos. Acho que ganhámos 1-2.

- E, no entanto, também não conseguiu ir a Inglaterra-1996, pois não?

- Também não. Vou aos jogos de qualificação, mas devido a circunstâncias futebolísticas também não fui ao Euro em Inglaterra.

- E foi internacional, embora não tenha podido participar num Campeonato da Europa ou num Mundial, esperava um dia ver no futuro o sucesso que a seleção espanhola alcançou? Isso era imaginável no seu tempo ou não?

- Sim, sim, era imaginável. Porque as equipas nacionais estavam a preparar-se para serem campeãs. Quer o conseguissem ou não. Depois chegámos aos quartos de final, às meias-finais, mas não há dúvida de que a seleção nacional sempre aspirou a ser campeã. É claro que depois veio a nova geração, com Iniesta, Xavi, Puyol, Piqués, e bem, não há dúvida de que isso foi maravilhoso. Com a qualidade desses jogadores, é sempre possível ser campeão, e foi assim.

"De la Fuente era a melhor aposta"

- O que pensa de Luis de la Fuente como treinador, achava que ele ia ter um desempenho tão bom?

- Bem, a priori, com tudo o que aconteceu no último vendaval da Federação era um pouco complicado, mas penso que estar lá era a melhor aposta, uma vez que os jogadores que lá estão ele teve nos sub-21 onde esteve e conhecia-os perfeitamente. A verdade é que resultou bastante bem e não há dúvida de que fizemos um papel impressionante e penso que foi bem merecido. Hoje em dia estão a surgir jogadores muito jovens e estão a ser apoiados, o que é muito importante.

- Voltando ao Zaragoza, acha que este pode ser o seu ano?

- Bem, estive lá recentemente, estive com o Víctor Fernández, com o Belsué, com os jogadores que lá estavam e bem, já lá estamos há 11 anos. Vamos ver se este ano, com Víctor Fernández a titular, vamos ver se ele é capaz de o fazer. Penso que montaram uma boa equipa, a segunda divisão é muito difícil porque há muitas equipas com qualidade para subir, porque se perguntarmos às equipas que querem subir, há quase 13 ou 14 equipas que querem subir. Vamos ver se o Saragoça consegue este ano e com Víctor, que conhece os adeptos, conhece a cidade e sabe o que a equipa precisa, vamos ver se conseguimos a subida.

- Por fim, vimos que andas a namoriscar com o banco, tens algum projeto em mente?

- Estive ausente durante algum tempo, mas agora, como já disse, voltei a ter o bichinho, vou ver muito futebol das crianças, das equipas jovens, e se aparecer alguma coisa que possamos fazer, vamos tentar fazê-lo para passar o tempo e poder desfrutar com as pessoas.