"O Uche veio para o Ceuta B"
- Edu, não sei se está surpreendido com a cobertura mediática da estreia de Christantus Uche na LaLiga. Até há poucos dias, era desconhecido de quase toda a gente, mas em apenas 90 minutos revelou-se um verdadeiro craque. Em que momento é que Edu Villegas e a Agrupación Deportiva Ceuta descobriram Christantus Uche?
- Bem, tudo começou com o facto de o presidente do Moralo, neste caso o Horacio, ser um amigo próximo do nosso presidente e surgiu a possibilidade deste jogador. Normalmente passamos a pente fino o mercado da LaLiga 2 para a Regional ou Terceira divisão, portanto é aí que aparece a possibilidade, com o pessoal do presidente. Depois, obviamente, eles informam-me de tudo e eu digo ao Víctor González, que é o meu assistente, para pôr mãos à obra. Falámos, ele analisou, e a verdade é que trabalhámos perfeitamente nas posições defensivas. Depois disse-me para dar luz verde à incorporação de Uche no Ceuta B, tanto como pivot defensivo como como médio. A partir daí, surgiu a outra possibilidade, em que a equipa principal se apresenta com José Juan (Romero, o treinador), que é quem começa a trabalhar com ele, e começa a analisá-lo e a mostrar-lhe o jogo que pensa que tem de tirar dele, e a partir daí as palavras são desnecessárias, porque agora vejam a situação, o que é.
- Compreendo que foi uma aposta trazê-lo de Moralo, onde, em princípio, tinha assinado para jogar na equipa de reservas, e penso, Edu, que, em primeira instância, o objetivo do Ceuta era que ele começasse também na equipa de reservas, na Terceira Divisão da RFEF.
- Veio para o Ceuta B, porque temos um projeto estruturado, um projeto sólido, e temos vindo a trazer jogadores importantes e interessantes para a equipa principal e para outros clubes através de transferências ao longo dos últimos anos. Há exemplos como Jota, que está na equipa principal, ou Cedric, que assinou pelo Cartagena, na Segunda A, Alberto Reina para o Mirandés, ou o caso de Uche.
E bem, Uche veio para Ceuta B, mas temos um treinador com talento para formar jovens jogadores, e não lhe interessa se têm 40 ou 20 anos. Neste caso, ele vê os jogadores, analisa-os, trabalha-os, aperfeiçoa-os e, quando viu Uche, começou a trabalhar com ele na equipa principal e, na sétima jornada, contra o Real Madrid Castilla, jogou a titular e continuou a fazê-lo até ao último jogo do play-off da Segunda A com o Nàstic de Tarragona. Atraiu a atenção de muitos clubes importantes e acabou por ingressar no Getafe.
- Penso que houve várias equipas de escalão superior que contactaram o Ceuta para o contratar. Por que é que o Getafe acabou por ficar com ele?
- Houve vários clubes importantes deste país e de outros países vizinhos que mostraram interesse em Uche. A partir de novembro, dezembro, já há equipas que começaram a perguntar por ele, mostraram muito interesse, mas não tomaram uma decisão final e não deram um passo em frente. O Getafe veio decidido, e é verdade que houve clubes muito importantes que perguntaram, que tinham claro que podia ser um jogador interessante, mas não foram, como se pode dizer, a 100%. O Getafe, sim, veio por tudo e com tudo e, obviamente, dissemos-lhe, como dissemos a toda a gente, que era um potencial absoluto. E aí está ele. Sabemos que é difícil ter sucesso e que ele é muito jovem, mas tem fome, está entusiasmado e tem muita vontade de ser jogador de futebol. Por isso, em Ceuta, estamos muito orgulhosos do que ele fez e, acima de tudo, estamos felizes por ele.
Tenho de lhe perguntar se ficou surpreendido, não com a estreia e o golo que marcou em San Mamés, mas com a posição em que jogou. Porque ele começou a jogar como defesa-central, depois como médio defensivo, e depois Pepe Bordalás transformou-o praticamente num avançado-centro na Catedral contra o Athletic Club. Em Ceuta, ele chegou a jogar em posições tão avançadas?
- Uche é um médio-defensivo, é um "polivalente", um médio-defensivo com uma força e um poderio físico que lhe permite entrar com os defesas-centrais e até entrar na área adversária. É um finalizador, cobre o campo, tem velocidade, ganha os duelos individuais, tanto na estratégia defensiva como na ofensiva. É completo ao mais alto nível, com uma força e uma potência brutais. Estas são, grosso modo e rapidamente, as condições físicas e a sua posição natural.
- Há rumores que dizem que a equipa de Caballa adquiriu os serviços de Crisantus Uche por apenas 800 euros ao Moralo. Qual é a verdade?
- É evidente que se diz muita coisa nos meios futebolísticos. Nós é que sabemos tudo e como decorreu a operação para o trazer. Não posso dar pormenores exatos, mas não é assim, não há nenhum clube, seja de que categoria for, que peça 800 euros por uma transferência, isso não existe. O que acontece é que há algumas interpretações erradas sobre o que lhe pagaram quando chegou ao Ceuta B, sobre o que lhe pagaram depois na equipa principal ou sobre a transferência para o Getafe. Não posso dar em pormenor os valores que houve, tanto quando o contratámos, como quando o transferimos, etc., e as percentagens de transferências futuras, mas para responder à pergunta, não foram pagos 800 euros para ele vir de Moralo para Ceuta.
- Penso que o Ceuta ficou com 20% de uma futura venda.
- Não lhe posso dar mais dados do que isso, mas bem, estamos a falar do facto de o nosso presidente ser uma pessoa extremamente preparada, muito capaz e muito inteligente, e a verdade é que conseguiu fazer um grande negócio para todas as partes. Não é fácil fazer este tipo de manobras e este tipo de transferências.
- Como vê o Uche dentro de duas épocas?
- Bem, uma coisa é o que nós gostaríamos, o que eu gostaria pessoalmente, que é vê-lo ter sucesso na elite mundial, e outra coisa é que sei como o futebol é complicado. Gostaríamos muito de o ver chegar ao mais alto nível do mundo. Que ele tem potencial para o fazer, sim, que confiamos e acreditamos que é um jogador com enorme potencial, sim, isso é óbvio, porque depois de o termos contratado, demos-lhe a oportunidade - queremos o melhor para ele e que ele faça o melhor possível, e estamos confiantes de que ele pode ir mais longe, claro que sim. Hoje ele está na LaLiga, numa das três melhores ligas do mundo, e vejam como começou. O conselho que lhe damos é que não perca a sua essência, que se mantenha humilde, trabalhador, apaixonado, e que faça o que tem feito desde que chegou. Isso irá certamente ajudá-lo a alcançar e a continuar a subir na sua vida, a ter uma boa carreira pessoal e profissional.