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Exclusivo com Tino Costa: "O Valência é feito para lutar com o Real Madrid e o Barça"

Tino Costa no seu tempo de jogador do Valência
Tino Costa no seu tempo de jogador do ValênciaJOSE JORDAN/ AFP
Tino Costa (Las Flores, 1985) tem uma extensa carreira de 22 anos como jogador. Em Espanha, jogou no Valência (2010-2013) e no Almeria (2017-2018). Na época passada, pendurou as chuteiras ao serviço da equipa francesa do Pau. Numa entrevista exclusiva ao Flashscore, faz o balanço da sua carreira e dá a sua opinião sobre a atualidade.

- Como se sente neste momento. É estranho estar de férias depois de tantos anos como profissional?

- Sim, a verdade é que começa a ser um pouco estranho, tive o privilégio de ser profissional durante quase vinte e dois anos e o que diz, estar de férias nesta altura do ano, neste mês do ano, é verdade que há muito tempo que não estou aí, portanto, bem, também se desfruta de outras coisas, entre elas a família.

- Viajou por todo o mundo, foi a Guadalupe quando tinha 16 anos, depois a França, Valência, Itália, Argentina... O que é que ainda lhe faltava fazer? 

- O que me propus fazer naquele dia em que tive de partir, ou em que decidi partir, digamos assim, da Argentina, quando tinha apenas quinze anos, ou melhor, quase dezasseis, propus-me tornar-me profissional fora da Argentina, para um dia jogar na seleção nacional e, graças a Deus, consegui tudo. O que me faltava fazer? Jogar na Liga Inglesa, que é a única grande liga europeia em que não joguei, pois joguei em Itália, França, Espanha e Rússia. Não pude jogar na Premier League porque, bem, tinha a opção, mas decidi regressar à Argentina, ao San Lorenzo, e por isso, se tenho alguma coisa a dizer, diria essa, que guardei um bocadinho na lâmpada.

- Como vê o atual calendário? Há cada vez mais jogos, o que pensam os jogadores sobre isso? Falam sobre isso com os vossos companheiros? 

- Nós adoramos isto, adoramos jogar, adoramos estar em constante competição, de facto, o que nos falta hoje em dia, ou acho que eu deixei o futebol há pouco tempo, é a adrenalina do fim de semana, a competição que não se pode encher à toa. Mas é verdade o que eu estava a dizer, os calendários estão cada vez mais cheios, os jogadores chegam talvez aos jogos não tão frescos para poderem desfrutar de um espetáculo muito melhor. Como disse antes, gostamos de jogar, mas olhando para o que vai ser este ano, acho que vai ser um parâmetro do número de jogos e de como cada jogador vai chegar ao fim do ano.

"Em Espanha trabalham mais do que em França"

- Passou algum tempo em França, onde foi promovido pelo Montpellier, depois mudou-se para Espanha, para o Valência, onde jogou durante três épocas. Que diferença nota entre o futebol francês e o espanhol? 

- A diferença é notória, na minha opinião, a nível físico e a nível de jogo, a nível de construção. Eu acho que em Espanha constroem, trabalham muito mais a partir da construção do jogo, do toque, do triângulo, praticamente em todo o campo, e o futebol francês é muito mais em transição, à exceção de algumas equipas. O Paris Saint-Germain, e outros clubes maiores, são equipas que jogam em transição com muita velocidade, é um campeonato muito mais físico do que o espanhol.

- Em relação ao Valência, tem-se falado muito do clube nas últimas épocas, porque não tem correspondido às expectativas. Como vê o clube neste momento?

- É um momento de transição, é um momento difícil para os adeptos do Valência, porque o Valência, historicamente, é um clube feito para lutar contra o Real Madrid, para lutar contra o Barça. De facto, tive a sorte de chegar em anos bons, estive lá três anos e meio, e durante três anos e meio jogámos a Liga dos Campeões. Hoje em dia, os adeptos estão lá e vão ao estádio para apoiar a equipa. Mas jogam por outra coisa, para se manterem, para tentarem ter um bom ano, e acho que o valenciano de hoje sente um pouco a falta disso, de fazer parte da liga, de lutar pelas coisas, de estar na Liga dos Campeões. Mas, bom, acho que o tempo é o que é, há muitos jogadores jovens, muitos jovens que precisam de evoluir para poderem atingir esses objetivos.

Tino Costa contra Zlatan Ibrahimovic
Tino Costa contra Zlatan IbrahimovicJOSEP LAGO/ AFP

- E no meio está o Mestalla. Imagino que seja um estádio impressionante para se jogar...

- Exatamente, quando digo que há muitos jovens, quero dizer que o Mestalla não é fácil de jogar. Vestir a camisola do Valência quando se tem dezoito, dezanove, vinte anos e ir jogar para o Mestalla não é fácil, é muito complicado, não é para todos. Mas a verdade é que quando as coisas correm bem ou quando o Mestalla está do nosso lado, é muito bom.

"Seleção argentina era muito unida"

- Teve algumas temporadas muito boas no Mestalla e também teve uma passagem pela seleção argentina.

- Havia um grupo que estava junto há muito tempo, que vinha da medalha de ouro olímpica, da era Messi, Gago, enfim, todo o plantel estava um pouco hermético porque eram quase sempre as mesmas pessoas. Sempre disse, a dada altura, que talvez merecesse ir um pouco mais à seleção devido ao meu desempenho no Valência, devido ao número de jogos que fazia por ano, mas é verdade que os que foram também eram, para mim, os melhores da altura. Havia jogadores muito bons e a verdade é que não posso esperar, quando digo isto, que seja por causa de mais algumas convocatórias do que aquelas a que fui. Tive a sorte de jogar com Messi, com todo o seu plantel, o que para mim foi muito bom, só me faltou aquele último pequeno passo para ganhar alguma coisa naquela altura, mas a verdade é que é uma experiência única e vestir a camisola da seleção argentina é algo que é difícil de explicar por palavras.

Tino Costa a jogar pelo Valência
Tino Costa a jogar pelo ValênciaJOSEP LAGO/ AFP

- Como foi a experiência na Rússia e qual a diferença de nível em relação a outros campeonatos?

- Em termos de futebol, o nível é claramente inferior. Há quatro ou cinco equipas que lutam verdadeiramente pelo topo. Bem, tive a sorte de estar na melhor equipa da Rússia, que é o Spartak, mas o torneio é muito difícil. Viaja-se muito, passa-se oito, nove horas num avião e ainda se está na Rússia para jogar um jogo. É difícil. Também há a questão do tempo, que pode ficar muito, muito frio. A decisão de ir para o Spartak foi minha. Na altura, havia um contrato muito, muito importante. Eu precisava de uma mudança, emocionalmente precisava de uma mudança. Tinham sido três épocas e meia no Valência, muito, muito intensas, e eu precisava de uma mudança para ficar um pouco mais calmo e poder divertir-me também. E saí deixando muito dinheiro ao clube e também cresci financeiramente, por isso foi mais por esse lado, o da mudança.

- O aspeto emocional é cada vez mais importante no futebol...

- Acho que é fundamental. É fundamental porque a carga emocional, a pressão, as redes sociais, é muito difícil e, sobretudo, poder passar de ser amado num domingo a ser odiado no sábado seguinte. E eu estava a dizer-vos isto de uma pessoa que tem muita experiência no futebol e que jogou durante muito tempo e em muitos sítios. Imaginem para um miúdo de 20 anos, que chega ao mundo profissional e tem de suportar tudo isso. Se não estiver bem preparado, as coisas acontecem, começa a não atuar ou começam a surgir problemas extra-futebol e uma série de coisas. Por isso, acho que é fundamental continuarmos a trabalhar nesse sentido.

"Muniain foi seduzido pela paixão dos argentinos"

- Há um jogador da Espanha, Iker Muniain, que vai jogar no San Lorenzo. Ficou surpreso com essa transferência?

- Fiquei surpreso, sim, muito surpreso. Tinha percebido que ele ia para a Argentina porque era adepto do River, etc. Mas bem, certamente foi um pouco seduzido, como ele disse numa entrevista que ouvi, pela cidade, pelo país, pela paixão dos argentinos. E bem, desejo-lhe tudo de bom. É uma instituição muito grande. O San Lorenzo tem muita gente. É também um clube feito para ganhar, por isso vão exigir o máximo dele e espero que se saia muito bem, mas não tenho dúvidas de que se vai sair bem porque é um grande jogador. Tive a oportunidade de jogar contra ele várias vezes e Iker é um grande jogador.

- Saiu da Argentina muito jovem, teve uma carreira espetacular na Europa e depois voltou ao San Lorenzo. Como foi essa mudança?

- É diferente, porque parece que os jogadores que vêm da Europa, nos primeiros jogos, também têm dificuldade em começar, mas é mais difícil, há mais golpes, muito físico. Como é que se vive isso? São dois mundos completamente diferentes. Embora aqui joguemos com muito mais velocidade, muito mais verticalidade ou mais um toque, dois toques, lá ainda temos o drible, temos esse tipo de coisas. Os relvados também são diferentes. Na Argentina, vamos a estádios onde não nos entendem, onde se riem do lance, onde o jogo é lento. Portanto, há uma série de fatores que entram em jogo e que mudam. Bem, neste caso o Muniain vai certamente levar algum tempo a adaptar-se e lá os miúdos comem-te se não estiveres preparado, comem-te, por isso o futebol argentino não é fácil.

- Como foi a experiência no futebol italiano?

- A verdade é que adorei o futebol italiano, o futebol, a paixão das pessoas. Tive o meu primeiro ano no Génova, onde me diverti muito, tive um treinador que me ensinou muito, o Gasperini, que está agora na Atalanta, e depois uma passagem pela Fiorentina, que foi um pouco mais fugaz, mas também encontrei um futebol muito tático, muito bem trabalhado, em que era preciso procurar o momento, mexer muito a bola de um lado para o outro para encontrar a oportunidade. Não sei, os italianos ainda estão a trabalhar o bloco baixo, não deixando muito espaço, mas a verdade é que é muito bom, gostei muito da minha passagem por Itália.