Migueli: "Se o Barça fizer a Cubarsí o mesmo que fez a Ansu Fati não vai durar dois dias"
Miguel Bernardo Bianchetti passou 16 temporadas na equipa principal do Barceloa. Formou uma parceria indissolúvel na defesa com Alexanco, jogou ao lado de Diego Armando Maradona e Bernd Schuster, e fez 549 jogos na equipa principal (668 no clube). Titular absoluto na defesa, partilhou alguns minutos com Miquel Blázquez, do Flashscore Audios.
-Sétimo jogador com mais jogos oficiais disputados pelo Barcelona. Tem voz de sobra para analisar a situação da equipa esta época.
- Penso que a época não foi tão boa como esperávamos. Houve alguns altos e baixos no jogo, mas, em termos gerais, a equipa teve um desempenho bastante bom, digamos assim, com a equipa que tem.
- O Barcelona não tem equipa para disputar a Liga dos Campeões, precisa de reforços de peso?
- Esperemos que saibam encontrar a chave. É para isso que existem os especialistas, Deco e companhia, não é?
- Olhando para a época e com o que dizes, que posição achas que precisa de ser reforçada para a próxima janela de transferências?
- Não preciso de dar conselhos. Penso que as pessoas que estão presentes no dia a dia e que conhecem as lacunas que a equipa pode ter são as mais indicadas para dar uma opinião correcta. Não é uma questão de eu poder dizer agora se falta um extremo, um avançado, um médio ou um lateral. Para que estas coisas funcionem e corram bem, penso que tem de haver um entendimento entre o diretor desportivo e o treinador. E não há mais ninguém que tenha de se envolver. O que acontece é que há muita gente envolvida aqui que dá a sua opinião e que diz e que comenta e que faz e que decide. E isso não é bom. A longo prazo, penso que, francamente, as pessoas têm de deixar de atuar. E se, no final da época, as pessoas não derem o perfil certo ou não actuarem, bem, é uma questão de abrir a porta.
- Migueli, que é um dos defesas-centrais mais antigos do Barça, com um grande historial, como vê o aparecimento de Pau Cubarsí?
- É um defesa-central moderno, tal como a figura do defesa-central evoluiu muito depois de jogadores como Piqué e outros, é um jogador que é agora praticamente o primeiro atacante da equipa.
- Como é que o viveste, o que é que achas dele?
Gosto muito dele como futebolista. É um miúdo que tem um grande futuro se souber aproveitá-lo. Agora, se fizermos uma loucura, ele não vai durar dois dias, como aconteceu com Ansu Fati. Não se pode dar a Ansu Fati a responsabilidade de dizer: o Messi vai-se embora e já temos um 10. É preciso levá-lo com muita paciência e com muito carinho para que ele saiba onde está e o que representa realmente o Barcelona. Estou apaixonado por este rapaz (Cubarsí) porque, francamente, um miúdo de 17 anos com aquela confiança, com aquele controlo de bola e que não desilude nenhum adversário, é de louvar Xavi, que depositou nele a sua confiança, como fez com Lamine Yamal. É um gesto que o Xavi compreendeu, porque é um jogador formado em casa, sabe o que representa e não devemos olhar apenas para o lado mau, devemos também olhar para o lado bom, certo?
- Se Cubarsi tem sido o rosto positivo, quem está na boca de toda a gente é Ronald Araújo. Que sentimento lhe fica? Tem conhecimento de que o Barça está a ponderar uma venda?
O Barça anda muito de um lado para o outro e isso é o que o Barcelona tem de mau: não sabe bem o que vai fazer. E isso é apenas hesitação. Agora não vamos discutir se Araújo é bom ou mau. O Araújo é um grande central, que pode ter, como eu tive, tardes más. E isso não quer dizer que eu seja um mau futebolista. Não, eu acho que ele teve uma má exibição contra o PSG e isso não quer dizer nada. Agora, se o quiserem vender por outras razões, tudo bem. Mas aqui é a mesma coisa, podemos ser promovidos ou despromovidos, mas a partir da mesma casa, não de fora. E isso é um problema muito grande. Por isso, o que têm de fazer é cuidar das pessoas que estão dentro da casa, mimá-las e dar-lhes esse carinho. Quando saírem de Barcelona, devem falar bem do clube. Aquela coisa que temos sempre, que quando os jogadores saem do Barça começam a criticar, isso tem de acabar. Penso que as pessoas devem admirar o Barcelona pela forma como os tratou. Por essas coisas que, francamente, as pessoas, os treinadores e tudo o mais, têm de ter com esses jogadores.
-E para além do Barcelona, como tem visto a época, alguma surpresa?
As equipas que me estão a surpreender em Espanha, bem, todos sabemos isso. O Girona tem sido um boom na LaLiga, uma equipa com coletivo, não apenas quatro jogadores, mas que tem um balneário muito unido e tem conseguido fazer o que quer. E penso que foi esse o resultado que obtiveram. Penso que foi uma surpresa a forma como jogaram e como o conseguiram fazer. De tempos a tempos, aparece uma equipa que nos dá um boom. E quanto à Liga dos Campeões, há os que realmente a mereceram. PSG, Bayern e Madrid. Penso que são quatro equipas que têm um nível bastante elevado.
- Xavi disse que o Barça não teve sorte com as expulsões e com a arbitragem. Guardiola disse que a sorte na Liga dos Campeões não existe. É mais no sentido de um ou de outro?
- Essa é a saída do homem impotente. O Barcelona não tem competido como as outras equipas têm competido. E a verdade é que é um pouco contraditório. Há alturas em que os árbitros cometeram erros, sim, como quando cometem erros a seu favor. Neste momento, dizer que o Barcelona está fora ou dentro por causa dos árbitros, não concordo. Não acho que as lamentações sejam inúteis. Penso que o trabalho, o dia a dia, o facto de irmos para um jogo e darmos tudo o que temos dentro de nós, o resultado é sempre ajustado. Mas, bem, acho que toda a gente se lamenta como quer e como pode.
- Migueli, por que culpa o facto de passares de uma época em que a solidez defensiva bate recordes e a seguinte, praticamente com os mesmos jogadores, ser o oposto?
Não sei. Na realidade, o facto de esta época ganharmos tudo e no próximo ano podermos ficar em segundo ou terceiro lugar, nunca se sabe. São ciclos pelos quais o futebolista passa ou para os quais as pessoas talvez não estejam mentalmente preparadas. Há factores que rodeiam tudo o que nos rodeia, o facto de uns falarem, outros falarem. Isso não é bom. Penso que o êxito do Girona reside no facto de ter um balneário como o que tem. Penso que 90% do sucesso é esse balneário. Depois, 10% é o nível que toda a gente tem no futebol. Mas o mais importante é isto, o balneário. Penso que houve aqui demasiada gente a dar a sua opinião, demasiada gente a querer fazer uma equipa.