Nova equipa. Novo país. Nova língua. Nova liga. E, no entanto, apesar de todos estes obstáculos, Mbappé - no seu primeiro passo como futebolista no estrangeiro - ostenta um recorde no Real Madrid de sete golos nos seus primeiros 11 jogos. Cinco em oito jogos na LaLiga. Com o período de adaptação ainda em pleno andamento, não são números de um jogador em crise.
Mas é o que nos dizem os ex-companheiros em França. Fazem fila para criticar o potencialmente maior jogador que o seu país produziu. Jerome Rothen. Christophe Dugarry. Bixente Lizarazu. Até Patrice Evra. Todos eles já tiveram a sua oportunidade de falar de Mbappé esta época. E não se centraram na forma - mas na capacidade. Atitude. Afirmações que esta coluna considerou surpreendentes - particularmente a partir do feedback que estamos a receber de Valdebebas.
O vencedor do Campeonato do Mundo Lizarazu afirmou que Mbappé "já não é explosivo nem decisivo". Dugarry classificou a atitude do jogador de 25 anos como "catastrófica". E Evra declarou que Mbappé é sobrevalorizado, insistindo que ele "não atingiu o nível de (Karim) Benzema".
Mas, para ser justo com Evra, ele estava na verdade a tentar defender Mbappé, insistindo que o público francês e a comunidade futebolística tinham construído um mito que estava longe da realidade.
"Não foi (o treinador Didier) Deschamps, mas toda a França que deu demasiado a Mbappé", disse o vencedor da Liga dos Campeões pelo Manchester United.
"Vocês deram-lhe as chaves do PSG, deram-lhe as chaves da seleção francesa, mas Mbappé ainda é um jovem jogador", acrescentou.
"Foste tu que criaste essa lenda à volta do Mbappé. Com todo o respeito que lhe é devido, ele ainda não atingiu o nível de (Karim) Benzema", disse.
Mas para esta coluna, Evra está errado. A França tem razão em valorizar Mbappé. Colocar expectativas sobre os seus ombros. Estamos a falar de um talento de geração. Ele provou-o a todos nós na final do Campeonato do Mundo de 2022. Mbappé teve em Doha um desempenho individual nunca antes visto numa final. Foi o melhor jogador - e líder - em campo naquela noite. É isso que ele é capaz de fazer. É isso que o Real Madrid - e a França - devem esperar. E, dado o início da sua carreira na LaLiga, é algo que ele está a construir.
Em contrapartida, Dugarry, outro campeão do mundo, concorda com Evra: "Acho que tudo isso acabou por pegar com ele, colocando-o muito alto... o garoto está totalmente desconectado do que ele pode fazer e do que se espera dele".
Mas isto vai contra o que nos foi dito sobre o comportamento de Mbappé dentro e fora do Real Madrid. O francês tem-se mostrado humilde. "Respeitoso". Os seus companheiros de equipa abraçaram-no. E o pessoal do clube também, e Mbappé não mostra sinais das alegações "hollywoodianas" que o acompanharam na sua transferência Bosman de Paris.
A nossa fonte admite que as pessoas estão surpreendidas com a forma como Mbappé tem sido retratado e com o jovem com quem convivem todas as semanas. O facto de ele se ter esforçado para chegar à derrota da semana passada na Liga dos Campeões contra o Lille - várias semanas antes do regresso previsto de uma lesão na coxa - não foi surpresa para ninguém que trabalha com ele diariamente.
Em campo, sim, o Real Madrid tropeçou. Carlo Ancelotti parece estar a lutar, com a ausência de Toni Kroos, para pôr a sua equipa a funcionar a todo o gás. Mas isso só deve reforçar o apoio a Mbappé por parte de jogadores como Dugarry e companhia. Sete golos em 11 jogos é um excelente resultado para qualquer novo avançado. Mas um registo destes numa equipa em dificuldades? A forma como Mbappé está a produzir enquanto Ancelotti e a sua equipa se debatem com os problemas do início da época merece um maior reconhecimento.
E vai funcionar. A equipa. Mbappé. Há-de chegar um momento em que tudo se conjuga. E o francês vai explodir. Neste momento, tem sido um momento de altos e baixos. Mas a produção de golos tem sido excelente. E à medida que a sua forma física atinge o nível ideal. À medida que o seu entendimento com os colegas de equipa se aproxima da coesão total. Vamos assistir a algo de excecional. E de forma consistente. De facto, há três semanas, a equipa técnica dizia a confidentes de confiança da imprensa que "Mbappé vai marcar 50 golos esta época".
O Real Madrid sabe o que tem. E a França também deveria saber. Sim, há amargura pela forma como Mbappé deixou o PSG sem um tostão. Mas isso não deve toldar o julgamento de Mbappé, o futebolista. O líder.
Há grandes talentos no futebol atual. Mas depois há a luz do dia... e depois há Kylian Mbappé. Os franceses têm em mãos um dos maiores craques do futebol. É uma loucura como hoje o estão a atropelar.