Análise: Como o jogo de pés de Rulli pode afetar o Marselha com o PSG
Em poucos jogos com o Marselha, Gerónimo Rulli fez Pau López esquecer a estátua do comandante Steve Mandanda. Não é um feito fácil, tendo em conta que o catalão nunca conquistou a unanimidade. Ele próprio admitiu que o jogo de pés não era o seu ponto forte. Nas últimas temporadas, porém, um guarda-redes tem de dominar esta capacidade, que se tornou quase tão importante como a utilização das mãos.
Assim, chegou o argentino campeão do mundo. A escolha foi um pouco surpreendente, já que, quando jogava em Espanha, não era particularmente conhecido pela sua capacidade de colocar a bola na baliza. De facto, era precisamente o contrário. Para Roberto de Zerbi, no entanto, Rulli tem o perfil certo. Embora o recém-chegado tenha sido, por vezes, um pouco duro, o seu registo no início da época foi particularmente positivo, e não apenas porque desviou vários penáltis, nomeadamente o de Alexandre Lacazette em Lyon.
No entanto, ainda há uma área em que Rulli precisa de melhorar: os passes longos, aqueles que ultrapassam a marca dos 40 metros para permitir à sua equipa encontrar espaço, quebrar a pressão adversária e criar oportunidades de contra-ataque.
Contra o Brest, na primeira jornada, 5 dos 9 lançamentos longos acabaram nos pés do adversário. Contra o Reims, uma equipa que colocou grandes problemas ao Marselha no seu regresso ao Velódrome, a percentagem caiu para 1/7. Contra o Toulouse, foi de 0/4.
Mas foi sobretudo contra o Nice que o uso de bolas longas foi exigido: 6/22. Os Aiglons mantiveram os Olympiens no seu próprio meio-campo, um jogo sem bola aplicado com grande velocidade e que certamente não compensou para o Nice, mas que mostrou como obrigar o Marselha a não entrar no seu ramo preferido. Em Lyon, dado o contexto, também tivemos de sair do caminho. O impossível é impossível, sobretudo com a decisão do RDZ de prescindir de um 9 desde o início da segunda parte: 6 bolas em 23 foram tiradas.
A percentagem voltou a subir no Meinau contra o Estrasburgo, com uma taxa de sucesso de 50% (6/12), também num jogo difícil para o OM como equipa, com Pierre-Emile Höjbjerg a jogar a defesa central e Ismaël Doukouré omnipresente no meio-campo para assediar criadores como Amine Harit.
Contra o Angers, há uma iniciativa que se destaca: Rulli esteve 100% a pé, com apenas dois lançamentos longos. Embora o SCO tenha pressionado o OM para ter a bola (76% de posse de bola), isso não é suficiente para explicar a queda nessas tentativas. O Olympiens teve sempre a posse de bola a seu favor, exceto contra o Brest (50%) e o OL (37%). A falta de precisão do argentino nesta área do jogo é, portanto, uma desvantagem regular.
As instruções de De Zerbi mudaram nesse sentido? Os números parecem indicar que sim. A presença de um avançado de profundidade no meio (Elye Wahi) limita as possibilidades de jogar de costas para a baliza no círculo central. A retenção da bola passa necessariamente por circuitos curtos, mas a presença de um perfil mais sólido na frente pode ajudar a fazer subir o bloco e a organizar transições rápidas para as alas. É evidente que se trata de uma solução muito mais rústica, mas, por vezes, este farol na tempestade revela-se muito útil.
Contra o PSG, numa situação em que o Marselha estará sob pressão durante longos minutos, a capacidade de fazer sair a bola rapidamente e de forma limpa será uma das chaves do jogo. Com um jogo preciso de longa distância, o Marselha teria uma arma ofensiva adicional. No entanto, a equipa não parece estar preparada para a utilizar.