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Entrevista Flashscore a Raí: "Para mim, o futebol é a arte de gerir crises"

Alex Xavier
Raí no estádio do Paris FC, clube do qual é acionista
Raí no estádio do Paris FC, clube do qual é acionistaProfimedia
Raí, antigo médio internacional brasileiro, agora com 58 anos, foi um dos maiores ídolos da história do Paris Saint-Germain. Foi a partir da capital francesa, onde trabalha como embaixador e acionista do Paris FC - clube que deu origem ao PSG, juntamente com o extinto Stade Saint-Germain -, que o antigo craque brasileiro falou em exclusivo ao Flashcore.

"Trouxe investidores e patrocinadores para subirmos para a Ligue 1 nas próximas temporadas", começa por explicar Raí ao Flashscore sobre o trabalho que tem sido feito no Paris FC , abordando igualmente a crise que se abateu no maior clube da capital, que representou enquanto jogador durante cinco temporadas, entre 1993 e 1998.

Raí com Ronaldinho e Cafu na conquista do Tetra
Raí com Ronaldinho e Cafu na conquista do TetraFIFA

Formado no Botafogo, Raí marcou uma geração no Paris Saint-Germain. Em 217 partidas pela equipa francesa, marcou 74 gols e conquistou sete troféus.

Em 2020, Raí foi eleito, numa votação promovida pelo próprio Paris Saint-Germain, como o maior jogador da história do clube.

O ex-camisola 10 também foi tetracampeão do mundo com a seleção brasileira, em 1994, e é uma lenda no São Paulo, equipa pela qual foi campeão intercontinental em 1992.

- Vê semelhanças entre o seu PSG e o PSG de hoje? Ou é um universo completamente diferente?

- Não só o Paris Saint-Germain, mas o universo do futebol é completamente diferente. Hoje os clubes têm um potencial financeiro gigante, consegues ter vários jogadores da seleção brasileira na mesma equipa. Naquela época, por mais que os adeptos adorassem o clube, tínhamos quatro, cinco jogadores em seleções. Hoje, dependendo da equipa, tens 15 jogadores de seleção. Não dá para fazer muitas comparações também porque o coletivo pesava mais, porque não tinhas tantos jogadores que podiam fazer a diferença. A força do coletivo era muito mais necessária.

Quando cheguei ao PSG, o objetivo era colocar a equipa num primeiro nível europeu, então isso foi uma conquista, e a massa associativa cresceu junto connosco. Chegámos a uma meia-final da Liga dos Campeões, que o clube só conseguiu repetir agora recentemente, com o investimento do Catar. Para os nossos objetivos, chegámos bem longe. E era uma equipa que comprou muito essa ideia de estarmos juntos, de ter essa força coletiva. Então é difícil comparar, mas nesta nova era do Catar, digamos assim, houve temporadas muito boas – melhores que a atual, nessa não podemos dizer que a equipa tenha tido um jogo coletivo, ou uma evolução coletiva, mesmo sendo campeão francês. Então, se compararmos essa temporada atual com a minha época no clube, dá para dizer tivemos uma regularidade melhor e uma coesão coletiva mais interessante.

- Por que razão o PSG não conseguiu essa força coletiva. nem com Pochettino, nem com Galtier?

- Existiram muitas mudanças e alguns problemas de coesão de grupo. Houve o processo de renovação de contrato do Mbappé bem difícil, arrastado, acho que isso deixou algumas sequelas. E saiu o diretor de futebol, o Leonardo, chegaram jogadores, houve a mudança de treinador… Houve uma série de mudanças que dificultou essa ligação entre o grupo todo.

Raí levou o time francês à sua primeira semi de Champions
Raí levou o time francês à sua primeira semi de ChampionsPSG

- Os adeptos estão mais mal habituados agora, perante o investimento e as estrelas do PSG?

- Acho que existiu um erro de comunicação no início do projeto, que foi o de prometer o título da Liga dos Campeões – ou, se não prometeram, criou-se essa expectativa. E quando crias a expectativa que só isso representa o sucesso, tens sempre uma sensação de fracasso a cada temporada. Isso é algo que foi minando essa relação dos adeptos com o clube, porque tudo o que é menos do que a Liga dos Campeões, procuram-se logo defeitos e culpados. Acho que tem esse lado, mas acho que quando se chega ao extremo de ir protestar à casa de um jogador, é um absurdo em qualquer lugar do mundo e uma falta de respeito.

Messi no Parc des Princes
Messi no Parc des PrincesAFP

Acho que também existiram muitos problemas extra-campo que criam um rancorzinho com os adeptos, algumas histórias e circunstâncias que se vão acumulando e que num momento de crise, manifestam-se. Não diria que os adeptos ficaram mal habituados, mas essa expectativa de Liga dos Campeões e investimentos altos com uma falta de performance – não de resultados, mas performance – foi minando essa relação. Mas não é nada que não volte, a paixão de futebol é isso – é amor extremo, depois revolta extrema.

- O jogador sente essa revolta extrema? 

- Sim, com certeza algumas relações vão ficar marcadas. É natural numa temporada teres momentos de crise, em todos os clubes, mas como gerir essa crise? Para mim, o futebol é a arte de gerir crises. É mais difícil, às vezes, do que construir uma equipa, porque a crise vai sempre existir, mas se fizeres uma má gestão desses momentos, prejudicas qualquer tipo de evolução.

- Esse investimento do Catar no PSG pode fazer mais mal do que bem ao clube?

- Há exemplos de todos os tipos. Eexemplos que deram certo e errado. Acho que o dinheiro cria uma obrigação de jogar bem, mas não é só o dinheiro que resolve os problemas. Então, nessa relação com os adeptos, às vezes pode atrapalhar porque aumenta demasiado essa expectativa, porque o investimento traz sempre essa cobrança.

Raí ganhou de Ronaldinho na votação de maior jogador do PSG
Raí ganhou de Ronaldinho na votação de maior jogador do PSGPSG

- Acha que o Mourinho pode ser uma solução para dar essa força coletiva ao PSG?

- (Risos). Estou noutro projeto, no Paris FC, e só consegues ter legitimidade para dar esse tipo de opinião quando estás por dentro, principalmente quem está dentro deste meio.

- Kylian Mbappé vai tornar-se no maior ídolo da história do PSG?

- Está a encaminhar-se para ser um dos maiores ídolos da história do futebol, e do clube consequentemente. Na seleção já chegou ao patamar de ser bicampeão mundial com 23 anos. Ele tem ainda muita carreira pela frente, mas os números até agora dizem que se vai tornar num dos maiores jogadores da história de França, juntamente com Zidane, Platini… desse nível para cima.

Os títulos de Raí

São Paulo:

Mundial (1992)

Libertadores (1992 e 1993)

Brasileiro (1991)

Paulista (1989, 91, 92, 98 e 2000)

PSG:

Ligue 1 (1994)

Taça de França (1995 e 1998)

Taça da Liga (1995)

Supertaça de França (1995 e 1998)

Supertaça Europeia (1996)

Brasil:

Mundial (1994)