Exclusivo com Alidu Seidu (Rennes): "A minha motivação é pôr um sorriso na cara da minha mãe"
A imagem de Seidu ao lado da mãe, durante a assinatura do contrato com o Stade Rennes, cativou os corações e suscitou conversas nas redes sociais.
Este momento emocionante, que continua afixado na sua conta do Instagram, simboliza não só uma conquista pessoal, mas o culminar de anos de luta, perseverança e laços familiares profundos.
O percurso de Alidu até ao futebol profissional é um testemunho de resiliência. Tendo crescido numa comunidade Zongo no Gana, testemunhou em primeira mão os sacrifícios que a sua mãe fez pela família.
"A minha mãe sofreu muito. Eu vi-a sofrer muito para conseguir algo para comermos", relembrou o jogador em entrevista exclusiva ao Flashscore, refletindo sobre os desafios que moldaram a sua carreira.
Apesar das dificuldades financeiras, ela encorajou-o a perseguir os seus sonhos, chegando muitas vezes a contactar treinadores para garantir que pudesse jogar mesmo quando não havia dinheiro.
"A minha motivação é pôr um sorriso na cara da minha mãe. Ela lutou sempre para que tivéssemos o que precisávamos. Por vezes, não havia nada para comer, mas quando a vemos a esforçar-se tanto para garantir que temos algo para comer, não consigo esquecer isso", acrescentou.
No entanto, o caminho foi repleto de obstáculos. Alidu foi rejeitado várias vezes enquanto tentava entrar na JMG Academy, que começou a funcionar no Gana em 2008. "Fui cinco vezes a testes na JMG Academy. Na primeira vez, disseram-me que não era suficientemente bom, o mesmo aconteceu na segunda, terceira e quarta tentativas".
"Depois da quarta tentativa, disse a mim mesmo que talvez não conseguisse tornar-me um jogador profissional e quase desisti", admite.
Foi só depois do incentivo do tio que decidiu tentar uma última vez e finalmente conseguiu.
A inspiração veio da observação de lendas do futebol ganês como Andre Ayew, Asamoah Gyan e Mubarak Wakaso, que alimentaram o seu desejo de representar o seu país. No entanto, foi Sergio Ramos que se tornou uma influência fundamental no seu estilo de jogo.
"Admirava o Ramos pela sua seriedade e liderança", conta Alidu. O seu estilo agressivo em campo reflete o do defesa espanhol, embora ocasionalmente tenha dado origem a problemas disciplinares.
"Tal como o Ramos, quando comecei a jogar a nível profissional, apanhei muitos cartões amarelos e vermelhos".
No entanto, o defesa ganês admite que essa é uma área em que está a trabalhar constantemente.
"Com o tempo, estou a tentar reduzi-lo e, no ano passado, tive menos cartões. Estou a tentar trabalhar nisso e manter a agressividade, mas reduzir os cartões".
As estatísticas indicam que o defesa está a fazer progressos significativos. Enquanto tinha uma média de 0,44 cartões por 90 minutos no Clermont, esse número diminuiu para 0,36 cartões por 90 minutos desde que chegou ao Rennes.
Surpreendentemente, Alidu ainda não recebeu um cartão amarelo em nenhum dos seus sete confrontos com o Paris Saint-Germain. Cada vez que enfrentou o atual campeão da Ligue 1, a sua agressividade foi testada, especialmente contra Kylian Mbappé, que o ganês admite ser o adversário mais difícil que já encontrou, sorrindo ao refletir sobre as suas batalhas.
"No primeiro jogo, nós (Clermont) perdemos por 6-1, na primeira vez que jogamos contra o PSG e ele foi muito bom. Sempre que recebia a bola, passava por mim. Mbappé deu-me muitos momentos difíceis. Sempre que jogo com ele, discutimos e insultamo-nos. Por vezes, ele provoca-me para me irritar".
O jogador formado na academia JMG vingou-se de Mbappé em 2023, quando o Clermont Foot derrotou o Paris Saint-Germain por 2-3 no Parc des Princes. Após o jogo, Alidu apareceu num vídeo viral do TikTok, enviando uma mensagem divertida ao avançado francês: "O Clermont deu trabalho".
Alidu contou como Mbappé o tentou provocar durante o jogo: "Quando começámos, Mbappé disse-me que éramos uma m*** e que nos ia matar. Quis meter-se na minha cabeça para me tirar do meu jogo. Então, depois da nossa vitória, fiz esse vídeo para lhe mostrar que o Clermont também pode dar trabalho".
A chegada ao Stade Rennes marca um capítulo importante na carreira de Alidu. Ele vê isso como uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento, inspirado por jogadores que prosperaram no clube, como Eduardo Camavinga e Jeremy Doku.
"Vir para o Rennes foi um passo muito grande para mim. O Rennes é uma grande equipa que me pode ajudar a chegar ao próximo nível. Já vimos isso em jogadores como Camavinga e Jeremy Doku. Há muitos jogadores que jogaram aqui e que estão agora numa grande fase. Fiquei muito entusiasmado quando recebi uma proposta do Rennes. Não hesitei nem um segundo".
Alidu faz parte de uma rica linhagem de talentos ganeses que atuaram no Rennes, seguindo os passos de jogadores notáveis como Asamoah Gyan, John Mensah, John Boye e Kamaldeen Sulemana. Esse legado teve um papel crucial na sua decisão de se juntar ao clube.
"Antes de vir para cá, liguei ao Kamaldeen Suleman. Ele disse-me que o Rennes é uma equipa muito grande e que me vai ajudar a desenvolver a minha técnica e tática e que me pode ajudar a passar à fase seguinte. É um privilégio estar aqui e só tenho de trabalhar no duro".
Enquanto o Rennes enfrenta um início de temporada difícil, Alidu está concentrado em adaptar-se e melhorar. Ele reconhece que, embora o clube ainda não tenha atingido o seu ritmo, há potencial no plantel.
"Como equipa, temos a ambição de jogar na Europa. Estamos a construir a equipa e a tentar corrigir algumas coisas. Penso que dentro de algumas semanas ou meses, quando a equipa começar a ganhar entrosamento, seremos suficientemente bons para enfrentar qualquer equipa."
Desde que se estreou com a camisola de Gana, no dia 10 de junho de 2022, contra o Japão, o defesa já disputou 17 partidas pela seleção, cada uma delas com um profundo sentimento de honra.
"Vestir a camisola do Gana é muito grande e muito pesado porque, para ser um jogador profissional, todos queremos jogar pela nossa pátria. Tive a oportunidade de jogar pelo Gana e é uma grande honra para mim. Tenho de continuar a jogar e a servir o meu país, porque jogar na seleção nacional é muito emotivo".
O peso emocional de representar o seu país fica ainda mais evidente quando ouve o hino nacional antes de uma partida: "Quando levanto a cabeça, vejo os meus pais, por isso, quando o hino nacional está a tocar, é incrível e vem com muitas emoções", acrescentou.
Em setembro de 2024, Alidu marcou o seu primeiro golo pela seleção nacional contra o Níger, na qualificação para a CAN-2025. Embora o jogo tenha terminado em deceção para o Gana, com um empate 1-1, o golo trouxe-lhe alegria.
"Na primeira vez que rematei, Otto Addo disse-me que o guarda-redes não se sentia confortável com remates. Por isso, quando voltei a ter a bola e percebi que tinha espaço, tentei marcar. No final, não conseguimos o resultado, mas marcar fez-me feliz".
Apesar do marco, a comemoração de Alidu foi discreta: "Não começamos bem contra o Níger. Perdemos muitas bolas. Quando marquei, não fiquei muito feliz, porque sei que podemos fazer melhor. Jogar em África significa que marcar um golo nunca é suficiente. Se eu tivesse marcador o segundo golo, eu teria comemorado mais, mas estava 1-0 e eu já estava a pensar em fazer o segundo".
O defesa do Rennes acredita que este é o primeiro de muitos outros golos que virão enquanto aguarda pelo seu primeiro golo no clube.
"Fiquei muito feliz quando marquei (contra o PSG), mas assim que a bola tocou na minha mão pensei que o VAR ia anular o golo. Sou defesa, mas hoje em dia os defesas marcam muito, por isso o meu objetivo é marcar pelo Rennes e por mim. Só marquei golos na formação. Na minha carreira profissional, nunca marquei pelo meu clube, por isso estou a tentar fazer isso".
O jogador de 24 anos continua otimista, apesar das dificuldades recentes que levaram a seleção a conquistar apenas um ponto em duas partidas - o pior início de campanha na qualificação para um Mundial desde 1961.
"Agora vem o Sudão. O empate 1-1 com o Níger foi uma lição para nós. Vamos dar tudo de nós para vencer o Sudão em casa e fora".
Ao refletir sobre a sua trajetória até aqui, Alidu opta por compartilhar palavras de sabedoria com os jovens jogadores que desejam seguir os seus passos: "Tudo o que posso dizer aos novos jogadores é que mantenham a paixão e trabalhem duro. Devem ouvir os treinadores e os jogadores mais experientes. Continuem a trabalhar e a esforçar-se".