Se já jogou futebol como jogador de campo, certamente já passou por situações em que, depois de a sua equipa ter sofrido um golo, se dirigiu ao guarda-redes e lhe perguntou por que razão não podia ter feito melhor.

Várias vezes, o jogador de campo ataca o guarda-redes como se ele próprio soubesse tudo o que há para saber. E, no entanto, só o guarda-redes conhece o seu trabalho por dentro e por fora, porque ser guarda-redes de futebol é um trabalho muito especial.

Certamente já ouviram dizer que há duas posições neste desporto que são únicas na sua condição. A do avançado de topo, porque tem de ter faro para o golo, e a do guarda-redes, que tem de ser aquele que tranquiliza a sua equipa com as suas defesas, com as suas palavras, com a sua clean sheet e com a sua antecipação... Uma posição muito exigente ao mais alto nível.

De quem é a culpa?

No Paris Saint-Germain, há já vários anos que Gianluigi Donnarumma é alvo de críticas por parte de jornalistas, adeptos e até, a acreditar nos rumores que correm no Parque dos Príncipes e no Campus do PSG, dos seus dirigentes e funcionários. Contra o Newcastle, muitos criticaram o italiano pelo golo de Isak. O mesmo aconteceu contra o AS Monaco, onde o primeiro golo monegasco foi o resultado de um recomeço descuidado da sua parte, e já este domingo frente ao Le Havre, em que acaba expulso nos minutos iniciais por clara desatenção.

Bom. Não há dúvida de que Donnarumma poderia ter feito melhor, mas será que ele é mesmo o único responsável? Se olharmos para o golo dos Magpies, vemos que a visão do antigo rossonero é dificultada pelos seus companheiros de equipa e que o remate é difícil de antecipar. Quase ao nível do chão e com um ligeiro ressalto antes de ser defendido.

Por outro lado, podemos questionar a forma como os parisienses se defenderam nesta ocasião, deixando Livramento fazer o que queria antes de colocar em Almirón. O golo foi também o culminar de cerca de vinte minutos em que o Paris SG esteve completamente sem ideias contra a equipa de Eddie Howe. Era impossível fazer sair a bola de forma limpa, porque a tática e a pressão do adversário eram muito inteligentes. Sim, o Newcastle estava a fazer pela vida, mas apontar a culpa apenas a Donnarumma é um pouco atrevido...

Os mais céticos dirão que, pelo que ele fez contra Mónaco e Le Havre, merece ser posto no banco durante vários jogos. 

Lembra-se de como Luis Enrique ficou furioso após o recomeço do seu guarda-redes no segundo golo do PSG contra o Lyon? É sabido que o espanhol pede ao seu jogador para jogar curto e no chão sempre que possível, sabendo que este não é um dos pontos fortes do italiano. Contra o Monaco, Donnarumma fez exatamente isso, seguindo as instruções do treinador ou correndo o risco de ser insultado no vestiário.

Então, quem é o culpado? Certamente não é Donnarumma... Quando se sabe que o guarda-redes tem um ponto fraco, é preciso tentar remediá-lo, não agravar o problema. O Paris Saint-Germain tem a sorte de ter um guarda-redes deste calibre. Na sua linha, o guarda-redes de 24 anos é, sem dúvida, um dos melhores do mundo. Os observadores devem ter consciência disso. Se colocarmos o italiano na lista de transferências, veremos o número de grandes clubes a bater à sua porta.

Como acontece muitas vezes, é sempre mais fácil criticar sem parar para refletir. Se Donnarumma cometeu estes erros, foi por uma razão. E só um guarda-redes pode compreender isso.