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Justiça francesa investiga possível vantagem fiscal quando Neymar se juntou ao PSG

AFP
A investigação está a decorrer...
A investigação está a decorrer...Profimedia
A Justiça francesa está a investigar se o antigo vice-presidente da Assembleia Nacional francesa Hugues Renson tentou obter do Governo "vantagens fiscais" para o PSG aquando da transferência do avançado brasileiro Neymar, do Barcelona, em 2017, a transferência mais cara da história.

Estas suspeitas, que só agora estão a ser investigadas, fazem parte de uma investigação levada a cabo desde setembro de 2022 por magistrados de instrução sobre manobras de influência atribuídas ao antigo diretor de comunicação do clube, Jean-Martial Ribes, de 57 anos.

Acusado a 1 de dezembro de uma série de crimes, Ribes é suspeito de ter utilizado o seu cargo para obter informações sensíveis para o clube, bem como benefícios pessoais para a sua família, em troca de presentes como luvas e bilhetes para os jogos do PSG.

Num novo relatório de investigação enviado ao juiz de instrução em 21 de novembro, revelado na terça-feira pelo Libération e consultado na quarta-feira pela AFP, a Inspeção Geral da Polícia Nacional (IPGN) questiona a possibilidade de "tráfico de influências" envolvendo o então deputado Hugues Renson.

Segundo o relatório, que abrange dez anos de mensagens encontradas no telemóvel de Ribes, o antigo diretor de comunicação "procurou inequivocamente (...) os serviços" do antigo conselheiro de Jacques Chirac (ex-Presidente francês) no Palácio do Eliseu.

Em troca, o homem que agora trabalha para a EDF (produtora e distribuidora de energia) candidatou-se a um emprego no PSG "em várias ocasiões", e "beneficiou de numerosos bilhetes para jogos" do clube e de outras vantagens, incluindo entre 2017 e 2022, durante o seu tempo de deputado.

Momento-chave no final de julho de 2017, a negociação em torno da chegada ao PSG da superestrela brasileira Neymar, após o pagamento ao Barcelona da cláusula de rescisão no valor de 222 milhões de euros.

"Nada de errado"

De acordo com o relatório, Renson trocou então intensas impressões com Ribes e também com Nasser Al-Khelaïfi, o patrão catari do PSG.

A 24 de julho, o antigo vice-presidente da Assembleia Nacional francesa disse a Gérald Darmanin, então ministro das Contas Públicas, que lhe estava a transmitir um "assunto do PSG", que aparentemente seria a tributação da transferência, um assunto de milhões de euros. Renson garantiu aos seus contactos que Darmanin estava "a tratar do assunto".

No dia seguinte, em 25 de julho, parece ter interferido para que o PSG participasse numa reunião ad hoc no Ministério e, novo dia depois (26 de julho), voltou a escrever ao diretor de comunicação do clube: "(Gérald Darmanin) considera que está tudo bem (...). O que importa é que os documentos que mencionámos sejam apresentados. Eles vão proteger-nos".

Na altura, o ministro "congratulou-se publicamente com os impostos que Neymar (ia) poder pagar em França" e garantiu que os seus serviços iriam analisar atentamente as modalidades financeiras da transferência.

Em 03 de agosto, o histórico negócio de 222 milhões de euros foi concluído e anunciado.

No dia seguinte, de acordo com o relatório, "Renson agradeceu a Ribes" por ter permitido que os seus dois filhos acompanhassem os jogadores do PSG no recomeço da Ligue 1.

Foi iniciada uma investigação sobre as condições em que esta gigantesca cláusula de rescisão foi taxada e sobre o possível envolvimento do antigo deputado Renson. "Não sabemos o que foi feito no final", disse uma fonte próxima do assunto.

De acordo com uma fonte próxima das negociações, "não há nada de errado no facto de uma empresa abordar um governo para discutir o tratamento fiscal de uma transação importante".

Contactados na quarta-feira, nem Renson, nem o PSG, nem o gabinete do ex-ministro Darmanin, nem o do atual ministro das Contas Públicas, Thomas Cazenave, responderam.

De acordo com o relatório, Charlotte Casasoprana, funcionária da unidade de desporto do Palácio do Eliseu, também obteve benefícios do PSG ao facilitar os procedimentos administrativos para a família de Ribes.

"A minha cliente recusa-se a fazer qualquer comentário nesta fase, pois não sabe nada sobre este caso e sobre os factos que lhe dizem respeito", declarou o seu advogado, Pascal Garbarini.

Até à data, quatro pessoas, para além de Ribes, foram implicadas pela justiça: três antigos agentes da polícia e um lobista, Tayeb Benabderrahmane.

Condenado à morte no Catar, após ter sido detido no início de 2020, apresentou uma queixa em França, que deu origem a uma investigação separada.

"Estas revelações demonstram exatamente o que Benabderrahmane tem vindo a denunciar desde o início deste processo, ou seja, um conluio ao mais alto nível entre o Catar e o governo do nosso país", disse Romain Ruiz, advogado do lobista.

O advogado de Ribes não pôde ser contactado de imediato.