Opinião: Marselha é um assunto demasiado quente para se esperar uma reação política?
Governar é pôr as coisas em palavras. Em Marselha, quando se trata da situação do Marselha, há palavras mais difíceis de pronunciar do que outras. O "encontro" entre os grupos de adeptos e uma parte da direção do clube, há dois meses, não provocou qualquer reação política importante. Mas a situação era grave. Pablo Longoria, furioso, falou ao La Provence sobre o conteúdo e a virulência dos comentários. Marcelino García Toral e os seus colaboradores preferiram esclarecer o assunto, mesmo que isso significasse parecer cobardes, recusando-se a trabalhar num barril de pólvora.
Numa cidade que quer combater os estereótipos mais banais, os conselheiros, quando falaram publicamente, não conseguiram dizer outra coisa senão "isto é Marselha". Em suma, é sempre um folclore, daqueles que se agarram a nós, de que não nos conseguimos livrar, mas de que nos consideramos vítimas. Na segunda maior cidade de França, no clube mais seguido do país, é possível ameaçar e intimidar sob o pretexto de uma "tradição" milenar.
Mas quando não se ousa dizer as palavras, quando se recusa tomar posição por medo de uma desintegração do tecido social nascido das tribunas, expõe-se a reviver as coisas, sob outras formas, por vezes com mais violência. Foi o que aconteceu no domingo à noite. Quando os políticos se recusam a intervir e a recuar, quando já não se dão ao trabalho de lembrar os limites que não devem ser ultrapassados, estão a assinar um cheque em branco para todas as ocasiões futuras. Se os actos de violência contra a direção do Marselha não mereceram uma condenação moral adequada, como é que os atos de violência contra um outro clube, ainda por cima rival?
No entanto, no espaço de algumas semanas, o Marselha voltou a cobrir-se de ridículo. Fotos de Fábio Grosso ensanguentado foram divulgadas em todo o mundo, uma má publicidade para uma cidade que gostaria de mostrar outra face que não a da violência a todos os níveis. Mas como é que se avança quando os decisores desaparecem? Fugir a este debate é fatal, porque as figuras de autoridade, os eleitos, são incapazes de falar em nome dos seus eleitores. Estamos, portanto, numa situação de desordem. O Ministério do Interior lava as mãos, tal como a Liga de Futebol Profissional. Depois, a situação agravou-se. Provavelmente não vai acontecer neste fim de semana nem no próximo, mas vai acontecer. E pior. Ninguém ficará surpreendido, o destino será invocado, as pessoas dirão "é o Marselha" e a valsa do cliché será retomada, sem que nada seja feito. Para variar.