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Opinião: Mbappé puxou com demasiada força e a corda acabou por rebentar

Nasser Al-Khelaïfi e Kylian Mbappé na conferência de imprensa após o prolongamento do contrato
Nasser Al-Khelaïfi e Kylian Mbappé na conferência de imprensa após o prolongamento do contratoProfimedia
O Paris Saint-Germain foi novamente colocado nas cordas por Kylian Mbappé na noite de segunda-feira. Um cenário inimaginável há apenas alguns dias. Uma séria lição de vida para um clube que, nos últimos anos, se tem esforçado demasiado.

Segundo o L'Équipe, numa carta recebida na tarde de segunda-feira, 12 de junho, Kylian Mbappé informou oficialmente o Paris Saint-Germain de que não iria exercer a opção de estender mais um ano o contrato (até 2025). Depois de, financeiramente, lhe ter dado tudo há um ano, este é o desfecho de uma história que poderia ter terminado muito mais cedo e de forma diferente.

A decisão terá suscitado a incompreensão no clube parisiense... É verdade que é estranho ver reagir desta forma um jogador a quem, há 12 meses, foi-lhe prometido mundos e fundos para evitar reagir desta maneira. Qualquer outro clube europeu sensato teria tratado o assunto de forma diferente no verão de 2021. Esta é simplesmente uma expressão da falta de compreensão dos códigos ancestrais do futebol por parte de pessoas que querem impor a sua lei num sistema que está definido e enraizado há séculos. No que diz respeito ao PSG, ou o jogador pretende prolongar o seu contrato ou será colocado no mercado no verão de 2023. Ao tentar forçar o nó, a corda de Kylian Mbappé acabou por rebentar.

Cuidado com a publicidade enganosa

A questão é: a extensão do contrato de Kylian Mbappé fazia parte de um verdadeiro projeto desportivo ou era apenas uma questão de ego por parte do Catar? Em retrospetiva, é justo dizer que tudo começou mal: o anúncio no Parc des Princes com a camisola 2025 vestida foi o início de uma descida ao inferno. Tudo não passou de publicidade enganosa para lançar o suposto novo projeto.

Um ano depois, o clube da capital soube que o jogador não pretende ativar o ano de opção até 2025. Ao mesmo tempo, iria acontecer de uma forma ou de outra, particularmente tendo em conta as notícias que surgiram na imprensa francesa e internacional durante o ano. O PSG fez promessas desportivas a Kylian Mbappé para prolongar o contrato, mas o clube não as cumpriu. O jogador queria uma equipa competitiva à sua volta que incluísse, entre outras coisas, a venda de Neymar. Isso nunca aconteceu, tal como a chegada de Zidane ao banco.

Depois veio o caso do "penalty gate" em agosto, seguido da mensagem "pivot gang" no seu Instagram em setembro, em que Mbappé criticou as escolhas táticas de Galtier. Entretanto, ficámos a saber que a extensão não era até 2025, mas sim até 2024, e que o ano de opção só poderia ser ativado pelo jogador. Depois, em meados de outubro, soubemos pela imprensa que, se pudesse, o jogador de Bondy sairia no inverno. No entanto, o jogador afastou os rumores ao declarar na zona mista após um jogo que isso não era verdade, com o único objetivo de manter intacto o seu plano de ataque: evitar prejudicar as relações com os dirigentes parisienses para poder sonhar com uma saída no verão.

Chegou finalmente o Campeonato do Mundo, que foi uma lufada de ar fresco para o francês. Kylian Mbappé é feliz quando está de azul. O nível demonstrado no Mundial-2022 provou-o (estatísticas) e a fotografia com Emir Al Thani, na cerimónia de entrega dos troféus, comprova a indiferença que o jogador tinha, já nessa altura, em relação ao accionista maioritário do seu clube.

Mbappé na cerimónia de entrega do troféu do Campeonato do Mundo.
Mbappé na cerimónia de entrega do troféu do Campeonato do Mundo.Flashscore

Naturalmente, as eliminações frente ao Bayern de Munique, na Liga dos Campeões, e ao Marselha, na Taça de França, não ajudaram. Kylian Mbappé vê claramente que o PSG não está a ter sucesso e que está longe da competitividade que lhe foi prometida. Em off the record, a partir de março, começaram a surgir os rumores de que o jogador tinha perdido a cabeça no clube e que a única coisa que lhe interessava eram as suas "estatísticas".

Por fim, tudo isto culminou no famoso vídeo do clube da capital a anunciar a campanha de lugares anuais para a época 2023-2024, onde o jogador é apresentado quase sozinho. De facto, no vídeo, o jogador natural de Bondy é o único jogador do Paris Saint-Germain a falar. Sentado sozinho nas bancadas do Parc des Princes, exprime a ligação ao clube, à cidade e aos adeptos. Foi então que o avançado parisiense declarou publicamente que não lhe explicaram o porquê de ter feito uma entrevista num dia de marketing. Reiterou a importância de poder gerir os seus direitos de imagem individuais, um assunto que lhe é muito importante, e concluiu dizendo que o PSG não é "Kylian Saint-Germain".

"Kylian fica aqui porque Paris Saint-Germain o coloca na melhor posição para ser o melhor do mundo", disse Nasser al-Khelaïfi no dia da renovação de contrato. Hoje, o Manchester City conseguiu um triplete histórico e Erling Halaand, com apenas 22 anos, corre o sério risco de ganhar a Bola de Ouro, algo que, como sabemos, é um dos grandes objetivos do francês.

O que se segue?

Então porquê informar agora o PSG? Porque Kylian Mbappé sabe que não vai prolongar o contrato na próxima época e tanto ele como o clube querem resolver o assunto o mais rapidamente possível para evitar que se transforme em mais uma novela. Na terça-feira, o internacional francês acrescentou mais uma camada, afirmando num comunicado enviado à AFP que tinha informado o clube parisiense, desde 15 de julho de 2022 - há quase um ano - de que não desejava prolongar o contrato. O único objectivo da carta era confirmar por escrito o que já tinha sido dito oralmente.

Esta declaração oficial confirma apenas uma coisa: a estratégia do jogador para negociar a sua saída é diferente da de 2021. Recordamos a declaração sobre os troféus do Sindicato Nacional de Futebolistas Profissionais de França (UNFP) em 2021.

"Este é o único troféu que me faltava. Estou realmente muito feliz. Quero agradecer a todas as pessoas que fazem parte deste campeonato. Consegui adaptar-me no meu primeiro ano e mudar de posição este ano. Houve algumas desilusões, mas isso faz parte do futebol. Este é um momento muito importante para mim. Cheguei a um segundo ponto de viragem na minha carreira. Descobri muitas coisas aqui. Sinto que talvez seja altura de assumir mais responsabilidades. Espero que seja no PSG, o que seria um grande prazer. Ou talvez seja noutro lugar, num novo projeto. Gostaria de dizer obrigado", disse na altura.

Hoje, o jogador tem uma visão diferente das coisas quando é chamado a falar, como aconteceu após o jogo da última jornada da Ligue 1 desta época : "O que eu espero do PSG? Não espero nada, só estou aqui para jogar, ainda tenho contrato, o clube faz o que pode e eu contento-me com o que o clube faz".

Mbappé depois de conquistar o seu 11.º título de campeão francês do PSG
Mbappé depois de conquistar o seu 11.º título de campeão francês do PSGAFP

Resiliência ou pragmatismo? Em todo o caso, Kylian Mbappé tinha um plano muito diferente do passado, pois a experiência mostrou-lhe uma série de coisas, entre as quais não ofender os dirigentes catari. Para isso, é preciso mudar a comunicação ao longo do ano e fazer as coisas na ordem certa quando se trata de anunciar o desejo de sair. Em junho, a decisão foi anunciada numa carta, seguida de uma explicação à AFP. Em 2021, a comitiva não divulgou nada à imprensa até meados de agosto, um acontecimento que apanhou o PSG de surpresa. Hoje, o clube tem conhecimento da situação desde muito cedo e pode preparar-se para um eventual mercado sem a estrela no plantel.

"A natureza da mediocridade é acreditar que se é superior", disse La Rochefoucauld. Alguns elementos do clube da capital acreditaram ser eméritos, inigualáveis e extraordinários quando o francês prolongou o contrato, apesar de tudo apontar para a sua saída. No entanto, o dinheiro, a política e as promessas desportivas efémeras serviram apenas para atrasar um destino que já estava traçado. Uma coisa é certa - e como já foi sublinhado acima - este caso terá mostrado a incompetência das mesmas pessoas do Paris Saint-Germain que acreditam que, com muita riqueza é possível conseguir o que se quer com um estalar de dedos. 

Estas são as mesmas pessoas que dirigem as federações europeias de clubes e são apoiadas pela UEFA e pela FIFA. E querem entrar na Premier League e fazer o que ninguém fez antes: deitar a mão em duas instituições diferentes para controlar ainda melhor o seu novo negócio. 

Muitos apontaram o dedo a alguns clubes que tentaram mudar as coisas - Superliga Europeia -, mas também são os primeiros a criticarem os problemas que o futebol atual apresenta. Será que o projeto de uns é mais coerente do que o atual? O certo é que, pelo menos, têm o mérito de terem proposto um plano B.

 

O futebol europeu está mal, mas já o sabíamos há muito tempo. Felizmente, alguns clubes de longa data mantêm-se firmes face a este novo jogo. E talvez até consigam contratar o melhor jogador do mundo: Kylian Mbappé.