Opinião: Suspensão de Messi terá enormes consequências para o futuro do PSG
Castigado por não trabalhar no 1.º de maio, só no PSG é que uma história destas pode acontecer. Depois de ter faltado a uma sessão de treino para cumprir obrigações publicitárias com a Arábia Saudita, Lionel Messi foi castigado como um aluno por ter faltado a uma aula de matemática.
Incapaz de encontrar um meio-termo, o PSG passou de um clube laxista a um anexo do gabinete do papão. Após uma década em que aceitou todos os desvios, todas as humilhações, eis que o pessoal do clube põe apresenta a conta a um ícone por um motivo fútil, uma viagem planeada há muito tempo, antes da derrota contra o Lorient reduzir em 24 horas o tempo de descanso inicialmente agendado.
Messi não jogará contra Troyes e Ajaccio. Vai ultrapassar isso, tal como o salário suspenso. O mais incrível é declará-lo persona non grata no Camp des Loges. É uma espécie de excomunhão, mas não sabemos se por vontade de mostrar os dentes, pela identidade do país de que Messi é embaixador e que tem relações frescas com o Catar, ou para dar a ilusão de que é o PSG que já não quer Messi, quando a tendência era Messi não querer o PSG. Também é questionável se a decisão teria sido a mesma se os dois adversários seguintes estivessem no terço superior da Ligue 1 e não condenadas à descida.
Tendo em conta as discrepâncias de muitos jogadores ao longo dos anos, é caso para perguntar o que levou o staff do PSG a pedir contas a um dos maiores jogadores de todos os tempos, um ícone que claramente não é conhecido por fazer de diva, multiplicar declarações intempestivas e comportamentos inadequados. No entanto, foi ele que tomou a decisão, como se o clube parisiense quisesse mostrar a sua força depois de ter sido criticado pelo seu laxismo patológico.
Foi uma decisão ridícula, porque até há pouco tempo o clube queria prolongar o jogador e exercer a opção de jogar uma terceira época. Agora, é difícil perceber como é que a tendência pode ser invertida. Além disso, como explicar esta sanção quando, em abril, Kylian Mbappé atacou publicamente a comunicação do clube e recebeu um pedido de desculpa dos seus dirigentes?
A chegada de Messi criou expectativas que não puderam ser satisfeitas. Por um lado, chegou a Paris por falta de outra opção, depois da renovação do seu contrato com o Barcelona se ter revelado impossível. A alma extra que trazia com a camisola do Barcelona aos ombros era ilusória para esperar no PSG. Messi fez milagres no Barcelona: abrandou o declínio desportivo do clube e escondeu a má qualidade do futebol durante vários anos. Mas como acreditar que ele poderia repetir tais desempenhos num clube com o qual não tem qualquer ligação sentimental? O sonho de ganhar a Liga dos Campeões foi destruído duas vezes nos oitavos de final, mas será que Messi é o único culpado?
Neste caso, há dois clubes que o podiam comprar há dois anos: o PSG e o Manchester City. Pep Guardiola podia ter insistido com a sua direção, mas será que isso se enquadrava no seu plano de jogo? A relação custo-benefício não era equilibrada. O PSG, por outro lado, correu este risco, porque está numa busca constante de legitimidade popular, o que o leva a todo o tipo de extravagâncias económicas, desde a transferência de Neymar à renovação de Mbappé. O clube não compreendeu que só pode ser uma câmara de ar até ao Mundial, o único objetivo que ainda pode motivar o argentino.
As consequências desta sanção já são mensuráveis, mas a magnitude poderá crescer quando Messi deixar oficialmente de ser jogador do PSG. As suas primeiras declarações são esperadas com expectativa e, desta vez, o argentino não deverá conter-se. Em termos mediáticos, o PSG acaba de cometer um erro colossal. Não há meias medidas neste clube e atacar um ícone era a última coisa a fazer para ganhar respeito.