Quando o Marselha oficializou a chegada de Roberto De Zerbi, em junho passado, foi uma surpresa para muitos observadores, para não falar dos adeptos do clube. Como é que um dos treinadores mais badalados do mundo do futebol pode ter aceite o desafio do Marselha, depois de ter recusado clubes como o Manchester United e o Bayern de Munique?
"Há duas razões. Em primeiro lugar, a seriedade que encontrei em Pablo (Longoria) e Medhi (Benatia). E, em segundo lugar, o Marselha é o Marselha", explicou na sua apresentação, a 9 de julho. Tive uma conversa que não deu em nada antes de ir treinar o Brighton. O futebol é a minha profissão, mas também é uma paixão. Aqui, é algo muito especial. Espero que façamos um bom trabalho e que as pessoas gostem de mim como pessoa e como treinador".
Quando o italiano se apresentou nesse dia, utilizou palavras que definem perfeitamente o Marselha: "Sou um louco por futebol, que o vive de uma forma exagerada". Finalmente, como se tivessem nascido sob a mesma estrela, os caminhos dos Phocéens e do italiano estavam destinados a cruzar-se um dia ou outro. Lucas Bendoni, jornalista e repórter do "Team Di Marzio", aceitou falar-nos deste treinador em ascensão na Europa, depois de duas belas épocas ao leme do Brighton.
Trabalhar na sombra do Marselha
"De Zerbi queria um ambiente amigável e um projeto que lhe desse muita margem de manobra, muito tempo para trabalhar e confiança garantida a médio prazo. Em Marselha, foi esse o projeto desportivo que lhe foi proposto e Roberto aceitou-o de bom grado. Roberto quer trabalhar rodeado de pessoas que o respeitem e que lhe dêem os meios e o tempo necessários para que possa tirar o máximo partido da sua visão do futebol. Foram essas as garantias que o Marselha lhe deu".
Assim, explica o jornalista italiano, as razões que levaram o lombardo a juntar-se ao Canebière. No final, a sua escolha profissional não poderia ter sido mais lógica, tendo em conta as expectativas do treinador italiano. Depois de uma temporada desastrosa em que o Marselha passou por três treinadores, Pablo Longoria e Medhi Benatia demoraram a escolher o perfil certo para o seu técnico. O nome de Roberto De Zerbi acabou por surpreender, após vários dias, senão semanas, de negociações com Paulo Fonseca e Sérgio Conceição. A contratação de De Zerbi contribuiu, sem dúvida, para atrair os jogadores que posteriormente se juntaram ao clube, como Lilian Brassier e Mason Greenwood.
"O Marselha trabalhou na sombra", explica Bendoni. Todos os meios de comunicação falavam de Conceição como o favorito. Para alguns, o negócio já estava fechado, para outros, havia um acordo de princípio e, para outros ainda, o Marselha estava perto de contratar o treinador. Mas, por várias razões, essa opção - embora apreciada pelo clube francês - não se concretizou e Longoria, juntamente com a sua equipa, surpreendeu toda a gente ao conseguir um golpe ainda maior".
"De Zerbi é apreciado há anos pela direção do Marselha e estavam reunidas todas as condições para tentar uma incursão e chegar a um acordo em poucos dias, dada a abertura do treinador a essa possibilidade. Depois, foram necessárias algumas semanas para concluir todos os aspectos burocráticos dos contratos de RDZ e do seu pessoal com o Brighton", acrescenta.
De Zerbi e Marselha encaixam
De Zerbi e o Marselha trabalharão lado a lado no mercado nos próximos dias. De acordo com as informações recolhidas, o italiano está ativamente envolvido, chegando mesmo a telefonar aos jogadores para os convencer a juntarem-se aos Phocéens. O treinador de 45 anos vende o seu futebol, explicando o que espera de um determinado jogador, e os jogadores são recetivos. Entre o clube e o treinador, ambas as partes estão muito motivadas com a ideia de começar a trabalhar oficialmente.
As formalidades foram cumpridas e De Zerbi pôde iniciar a pré-época no início de julho. Os jogos de preparação foram organizados com o objetivo de estabelecer bases tácticas específicas ao seu estilo de jogo. O mercado decorreu de acordo com o planeado e De Zerbi ficou satisfeito com o trabalho realizado pelos seus treinadores. A promessa tinha sido cumprida.
Faltava apenas o arranque oficial da época e, mais uma vez, foi mais do que um sucesso. A vitória por 5-1 sobre o Brest, na Bretanha, é apenas um prenúncio do que o Marselha poderá oferecer esta época, uma equipa que será uma força a ter em conta no campeonato, para gáudio dos adeptos do clube. "O jogo deles é lúdico, vertical e moderno", afirma o italiano. "Não há como não se divertir: as partidas são sempre agradáveis. Além disso, De Zerbi sabe conduzir a sua equipa, é um grande líder".
"É uma parceria arriscada e muito fascinante. Os adeptos do Marselha são exigentes, mas têm de compreender que têm nas mãos um grande treinador e aconselho-os a darem tempo a De Zerbi (como tenho a certeza que os diretores darão) para trabalhar e transmitir as suas ideias aos jogadores".
"No Foggia, tinha uma relação muito forte com os adeptos, cuja paixão é semelhante à dos marselheses. Além disso, ele não sofre com a pressão, como já provou muitas vezes. Ganhou ao AC Milan enquanto treinava o Benevento. Ganhou ao Liverpool, treinando o Brighton. Dois exemplos que demonstram que não tem qualquer problema em jogar abertamente em todas as condições e ganhar, mantendo-se fiel à sua conceção do futebol", conclui.
A mensagem foi passada, e Ccontra o Reims, neste domingo à noite, o italiano fará o seu batismo de fogo num Vélodrome que espera apenas uma coisa: encontrar em Roberto De Zerbi o seu Messias.
