Suspeitas de discriminação: Galtier denuncia falta de imparcialidade na investigação
O treinador de 57 anos, que interrompeu brevemente o seu exílio no Catar, apresentou-se de forma tranquila perante o tribunal de Nice.
Agora ao leme do Al-Duhail, Christophe Galtier, antigo treinador do PSG que orientou o Nice durante a época 2021-2022, está a ser julgado por assédio e discriminação, crimes puníveis com três anos de prisão e uma multa de 45.000 euros.
O caso veio à tona na primavera, com a revelação de um e-mail enviado à direção do Nice pelo antigo diretor de futebol do clube, Julien Fournier, com quem Galtier mantinha uma relação terrível. No e-mail, que a AFP não conseguiu autenticar, Fournier afirmava que Galtier lhe tinha dito que a equipa "não podia ter tantos negros e muçulmanos" e que o número de jogadores muçulmanos devia ser "limitado ao máximo".
Fournier, contra quem Galtier apresentou uma queixa por difamação, bem como contra dois jornalistas que publicaram o e-mail, não esteve presente no julgamento de sexta-feira.
Segundo os advogados de Christophe Galtier, os investigadores deveriam ter organizado uma reunião presencial com Julien Fournier, ouvido o capitão brasileiro Dante e a equipa médica sobre a gestão do Ramadão. Neste sentido, apresentaram um pedido de declaração de nulidade, que foi anexado ao mérito do processo.
"Estamos a falar de assédio a todos os níveis e não ouvimos o capitão da equipa, Dante, um jogador que fez 300 jogos pelo Nice, porque é Julien Fournier que decide", lamentou o advogado Sébastien Shapira, na sexta-feira.
"Os investigadores que nos foram referidos não tinham qualquer conhecimento de futebol e Julien Fournier deu-lhes a volta", queixou-se o advogado.
"Nos casos de discriminação, em que estamos a lidar com comportamentos discretos que podem ser dissimulados, vamos ouvir as pessoas que podem ter sido discriminadas", respondeu o procurador de Nice, Damien Martinelli.
Slimani e Brahimi não estiveram presentes
De acordo com elementos do processo revelados na semana passada pelo diário L'Équipe, Fournier e vários jogadores e colegas de Christophe Galtier no Nice denunciaram comentários depreciativos do treinador contra os muçulmanos, um clima geral de suspeita de discriminação no balneário e pressões contra os jogadores que faziam jejum durante o Ramadão.
Apresentado por antigos colegas como um homem rígido e discreto, mas muito eficaz, ao longo de uma carreira que começou no Marselha sob a alçada de Pape Diouf, Julien Fournier citou os casos do internacional argelino Islam Slimani, cuja contratação Galtier terá recusado, e de Billal Brahimi, que o treinador se mostrou relutante em integrar, nomeadamente por jejuarem durante o Ramadão.
Estes dois jogadores, apontados como vítimas, não estiveram presentes na audiência. Em relação a estes dois casos, Galtier poderá referir os desempenhos instáveis de Slimani, que passou por vários clubes nos últimos anos, e a falta de experiência de Brahimi, que também teve dificuldades de afirmação com os seus treinadores posteriores. Quanto ao Ramadão, Galtier sempre fez questão de preservar a saúde dos seus jogadores, assim como outros treinadores.