Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

André Veras e o papel de diretor desportivo: "Um mundo que não tem horários"

Rodrigo Coimbra
André Veras acumula funções de diretor desportivo e team manager no Trofense
André Veras acumula funções de diretor desportivo e team manager no TrofenseArquivo Pessoal
A figura do diretor desportivo assume cada vez mais importância no panorama nacional. Uma figura outrora desvalorizada passou a ganhar uma especial atenção por parte dos clubes e André Veras abriu-nos a porta da sua grande paixão. Em entrevista ao Flashscore, o jovem dirigente recordou-nos o seu percurso no futebol e falou-nos sobre as dificuldades do seu mais recente desafio no Trofense, da Liga.

O futebol é o berço de André Veras. Corre-lhe nas veias. O pai trabalhou como diretor do Chaves e a mãe também chegou a desempenhar funções no clube transmontano. Podemos dizer que cresceu no antigo estádio do Chaves. "A minha vida era passada lá. Desde os meus três-quatro anos que ando nos meandros do futebol".

Como seria de esperar, aos cinco anos, entrou para as escolinhas do Chaves e percorreu os escalões todos de formação, com passagem pela AD Flaviense pelo meio, até ao patamar senior dos flavienses. No segundo ano de futebol 'adulto' decidiu abraçar uma oportunidade em Espanha e "algumas escolhas erradas" acabaram por influenciar uma trajetória que não atingiu os patamares projetados.

"Não tínhamos tanta informação e apoio como existe nos dias de hoje. Isso fez com que a minha carreira acabasse mais cedo do ponto de vista profissional e fosse mais para o lado do lazer, em que tive de acumular com outro trabalho", recorda André Veras, em entrevista ao Flashscore.

Na etapa final desse percurso futebolístico, André encontrou uma porta que lhe mudou a vida. O Montalegre, dos irmãos Paulo e José Manuel Viage, é um marco significativo para a sua segunda vida no futebol. Após três temporadas muito positivas, o antigo médio sofreu uma lesão no menisco e isso não afetou a confiança da direção do emblema da AF Vila Real.

O desafio de André Veras no Trofense
O desafio de André Veras no TrofenseArquivo Pessoal/Opta by Stats Perform

"Fizeram-me o convite para regressar ao clube como jogador ou dirigente. Aos 29 anos, vi ali uma janela de oportunidade para abraçar esta profissão (diretor desportivo) num clube perto da minha terra e com o objetivo de alavancar o clube nas divisões nacionais", explica.

E termina assim a página de futebolista: "Achei que não faria sentido continuar como jogador. Foi uma decisão difícil, mas não me arrependo dela".

"É uma profissão apaixonante"

O Montalegre abriu-lhe as portas, seguiram-se passagens pelas estruturas de SC Braga (2018-2020) e Torreense (2022-2023), antes de abraçar o mais recente projeto no Trofense (Liga 3) a convite do treinador Nuno Manta Santos. Zero arrependido. O stress diário do diretor desportivo é a dopamina que o corpo precisa. 

"É um mundo que não tem horários, não tem dias, não tem folgas... Parece que o dia tem mais do que 24 horas e há pessoas que não entendem isso. Felizmente, já começa a haver um maior respeito pela categoria de diretor desportivo e do seu trabalho. É um importante elo de ligação entre a estrutura e tudo o que envolve o dia a dia da equipa, mercado e parceiros. É uma posição muito importante para desbloquear processos", explica André Veras ao Flashscore.

"Estar perto da equipa é algo que me apaixona e me mantém vivo com as poucas horas de sono que tenho com essa dinâmica", sustenta.

E é esse papel que procura ter no Trofense. De organização, de estruturação, de ligação, e de tantas outras coisas, num clube que precisava de um abanão depois de uma fase de alguma instabilidade.

André Veras assumiu desafio no Trofense
André Veras assumiu desafio no TrofenseArquivo Pessoal

"O Trofense está a crescer a todos os níveis"

- Como surgiu a oportunidade de ir para o Trofense?

- Estava em casa no meu sossego quando o mister (Nuno Manta Santos) me ligou a dizer que ia abraçar o projeto do Trofense e que a nova administração estava à procura de um diretor desportivo. O Mister e eu somos muito parecidos: pessoas dedicadas, empenhadas e disciplinadas. Surgiu a proposta e foi fácil aceitar, pelo desafio e pela história do clube.

- Que clube encontra?

- Toda a gente ouvia as histórias sobre o Trofense, mas quem ouve por fora não acreditaria que isto estaria assim tão mau. Foi penoso. As portas estavam todas fechadas e o trabalho inicial foi limpar a imagem do que era o Trofense que não pagava a ninguém. A administração tem feito muitos esforços e tem conseguido colocar o Trofense numa posição muito estável. Têm sido incansáveis e só posso dar os parabéns por isso. E neste momento, o Trofense começa a estar num patamar outra vez idêntico ao que era antigamente, um clube apetecível e que toda a gente olha com outros olhos. Depois das dificuldades que tivemos, continuamos com este desafio para mais uma época. 

Os últimos resultados do Trofense
Os últimos resultados do TrofenseFlashscore

- Foi ainda mais difícil por a entrada acontecer quando a época já estava em andamento?

- A maior dificuldade foi chegarmos e termos o clube bloqueado em todos os níveis. O plantel também tinha algumas limitações e foi preciso ir ao mercado para o reestruturar. A nossa credibilidade e passado deu-nos esse conforto na abordagem a jogadores e empresários, pois perceberam que para nós (André Veras e Nuno Manta Santos) cá estarmos era um projeto com pernas para andar e sabiam que nos íamos debater sempre pelas condições de trabalho. 

foi um ano difícil, em que tivemos de reestruturar o clube, desde a nutrição ao departamento médico, e ao mesmo tempo competir. Mas penso que fizemos ver as pessoas que conseguimos superar as dificuldades e fazer ver às pessoas que havia muito para melhorar e crescer. (...) A manutenção soube muito bem.

- O campeonato terminou com o objetivo alcançado. E agora?

- O trabalho não para, pois o tempo é curto entre uma época e outra. É preciso planificar para que nada falhe, apesar de nem tudo ser perfeito. Já houve convite para continuar na estrutura e está tudo encaminhado para se começarem a tomar as primeiras decisões para a época 2024/25. Neste momento, estou na sombra a planear os apoios dos parceiros e a pré-época com os vários departamentos.

André Veras não esconde ambição
André Veras não esconde ambiçãoArquivo Pessoal

"Quero chegar a níveis mais altos"

- O que os adeptos do Trofense podem esperar de 2024/25?

- Em primeiro, tenho de agradecer-lhes por não deixarem de apoiar a equipa nos momentos difíceis. Sempre fui muito grato por isso e o que lhes posso prometer é que nunca vai faltar trabalho nem compromisso. Quero colocar o Trofense nos patamares que lhe pertencem, mas não vou fazê-lo a todo o custo, nem de qualquer maneira, porque isso levou o Trofense à condição em que estava quando cheguei. Por isso, temos de ter os pés bem assentes no chão e darmos passos sustentados para que isso não volte a acontecer. 

Queremos crescer e potencializar a marca Trofense. E para isso vai sempre existir o máximo de rigor e disciplina.

- E quais são as suas ambições pessoais?

- A ambição existe sempre e eu sou uma pessoa ambiciosa. Eu visto a camisola a 100% e vou fazer sempre o melhor, olhando também, claro, para a minha evolução e promoção. Sou grato pela oportunidade que me foi confiada por esta administração e estou focado em levar o Trofense a outros patamares. Mas a ambição não fica por aqui. Quero chegar a níveis mais altos e quem sabe a patamares internacionais. Não escondo isso.

Vemos cada vez mais bons trabalhos de diretores desportivos portugueses. A verdade é que somos bons naquilo que fazemos e a ambição é infinita. Mas neste momento o foco é o Trofense. Acredito que isso vai alavancar-me para outros patamares.