Entrevista Flashscore a Agostinho Bento: "Não queremos que seja um 3.º ano de frustração"
Em vésperas do arranque da fase de todas as decisões, o Flashscore ouviu oito treinadores que vão lutar pela subida de divisão. Começamos com Agostinho Bento, treinador do Felgueiras, a primeira equipa a assegurar o passaporte para o play-off de subida.
"Não tenho palavras para descrever o que fizemos até agora"
- O Felgueiras 1932 foi a primeira equipa a apurar-se para o play-off de acesso à Liga 2 e terminou a fase regular como a equipa com menos golos sofridos (11), tendo ainda perdido o seu melhor marcador (Tamble Monteiro) pelo caminho. Que balanço faz da fase regular da sua equipa?
- Tenho de realçar o trajeto do Felgueiras, pois foi um trajeto positivo. Esperava que fizessemos um ótimo campeonato, mas mesmo eu fiquei surpreendido com o nosso rendimento, traduzido numa diferença pontual para os nossos adversários (dez pontos para o segundo). Sendo a Liga 3 um campeonato muito competitivo, tenho dúvidas de que outra equipa se classifique no futuro tão rapidamente. Sinceramente, não esperava um apuramento tão rápido, mas a minha equipa foi muito consistente e não tenho palavras para descrever o que fizemos até agora. Mas, infelizmente, de pouco vai servir para esta fase.
- Consegue apontar algum momento que tenha ajudado a definir este desfecho?
- Não há nenhum momento em particular. Creio que a consistência que apresentamos, jornada após jornada, fez-nos acreditar que, acima de tudo, as coisas pudessem ser uma realidade. Mesmo nos jogos em que a equipa não fez exibições muito convincentes, conseguiu ganhar e isso deu-nos algum conforto.
"Vamos ser desafiados ao limite"
- O que espera desta fase de subida?
- Espero uma fase de subida muito complicada e será um desafio para nós, pois começa tudo do zero e tudo o que fizemos até agora não serve para nada. Por muito que possam não assumir no futuro, os oito treinadores terão como esperança subir de divisão, e nós não fugimos à regra. A responsabilidade é igual à dos outros, mas a expectativa criada pelo campeonato que fizemos até agora pode dar-nos, do ponto de vista teórico, mais responsabilidade. Mas encaramos essa responsabilidade e objetivo claro de subir de divisão com naturalidade, fruto do que fizemos e da nossa ambição tremenda. Sabemos que vamos ser desafiados ao limite e que vamos ter de aumentar os níveis.
- O contexto faz com que a preparação sofra alguma alteração? A mensagem é a mesma?
- Nós chegamos até onde chegamos porque preparamos os jogos de forma séria e com muita humildade. Vamos continuar a fazer o mesmo: análise dos adversários ao pormenor, exponenciar as nossas qualidades, esconder as nossas fragilidades e, sobretudo, aumentar os nossos níveis técnicos, táticos e emocionais. Não sei como, mas é isso que temos de fazer, até porque a carga emocional pode aumentar. Nos anos anteriores os primeiros (da fase regular) não conseguiram subir e isso também serve de alerta para nós.
- Entre os oito participantes, podemos incluir o Felgueiras 1932 como candidato ou favorito à subida de divisão?
- Somos todos candidatos à subida. Muita gente vai querer empurrar a responsabilidade para cima dos outros, mas eu não me sinto mais favorito do que outro adversário. No entanto, também não me sinto inferior a ninguém. Sou tão candidato como os outros. Ou seja, não nos colocamos à frente de ninguém, nem atrás de ninguém. Não temos medo de nenhum adversário, mas respeitamos todos ao máximo.
- Esta não é a primeira temporada do mister Agostinho na Liga 3. Por isso, pela sua experiência, que avaliação faz à prova?
- A Liga 3 é uma excelente montra para os seus jogadores e treinadores. Este ano é mais justa do que os anos anteriores, embora continue a achar que não é totalmente justa. Ainda assim, tenho dúvidas de que se não mudar a sua dinâmica, alguns clubes vão ter dificuldades. Os clubes vão precisar de ajuda, porque a longo prazo a prova pode não ter a vitalidade que lhe querem dar.
- Pode concretizar essa ideia?
- Estamos a falar de uma liga quase profissional, com orçamentos altos e com ajudas muito reduzidas de toda a gente. Sabemos que o país está em dificuldades e tenho dúvidas que muitos clubes se aguentem na competição sem a subida.
"Precisamos dos nossos adeptos"
- Qual a mensagem que gostaria de deixar aos adeptos do Felgueiras 1932 nesta fase?
- A mensagem que passo desde há um ano e meio é a de que façam do Felgueiras uma família e que de todos se transformem num. Seremos sempre muito mais fortes enquanto eles estiverem connosco, pois sozinhos, treinadores e jogadores, não fazemos nada. Agradecemos sempre o apoio e esperamos que quando as coisas não estejam tão bem eles sejam o nosso 12.º jogador. Prometemos que vamos fazer tudo para que sejam felizes e que este não seja o 3.º ano de frustração.