Entrevista Flashscore a Lénio: "O Atlético deu-me a oportunidade para voltar a ser feliz"

"Um dos adjuntos do mister Tiago (Zorro) sabia que eu estava sem clube e da minha situação. Estavam a precisar de um médio com as minhas características e convidou-me para lá ir treinar. Eu não queria ir jogar para muito longe de Lisboa e o resto é história". E que história!

O futebol aparece na vida de Lénio de uma forma "muito curiosa". O tio era árbitro e começou a levá-lo para ver os jogos para os quais tinha sido destacado e foi num desses muitos regressos a casa, no caso depois de uma partida em Loures, que o pequeno Lénio não se calou: "Quero jogar futebol, quero jogar futebol..."

O tio falou com a mãe e na semana seguinte estava a falar com o treinador dos infantis do Loures. De Loures a Massamá, para o Real. De Massamá para Vila Franca de Xira, para o Vilafranquense: "Aprendi muito nos clubes por onde passei, mesmo no Vilafranquense em que não tive muito tempo de jogo. Fez-me crescer como pessoa e jogador".

"Passei uma fase menos boa..."

A transição para o futebol sénior é feita no Alverca. Lénio joga na equipa B dos ribatejanos e na época seguinte, 2019/20, não há qualquer registo desportivo na linha de histórico do jovem médio.

"Não creio que a mudança para o futebol sénior tenha sido complicada. Estava na equipa B do Alverca com pessoal da minha faixa etária. Depois disso é que dei uns passos atrás...", conta o atual camisola 8 do Atlético CP, em conversa com o Flashscore.

"Tive uns problemas. A COVID-19 não ajudou muito, mas pronto. Uma fase menos boa, relativamente a uma ou outra decisão que tomei. Mas são coisas que já estão ultrapassadas e estão no passado", completa, sem querer entrar em grandes detalhes.

Por fim, o Atlético Clube de Portugal. "Foi muito importante. Oportunidade para voltar a ser feliz".

"Sentimento de alívio!"

Após um ano de inatividade, Lénio vai à experiência ao Atlético CP, como recordou o treinador Tiago Zorro em entrevista ao Flashscore, e convence. 609 dias. O tempo que separa o último jogo pelo Alverca B e o primeiro no clube da Tapadinha. Uff, um alívio!

"No primeiro jogo oficial (após o regresso) tive um sentimento que já não sentia há muito tempo. Um sentimento de alívio. Saiu muita pressão dos meus ombros. Depois o resto foi com o tempo: ganhei ritmo e recuperei a confiança. Trabalhei sempre no limite e as coisas começaram a correr bem", descreveu o médio.

O impacto é praticamente imediato. O jovem assume-se como elemento imprescendível no tabuleiro de Tiago Zorro e contribui de forma muito positiva para a primeira subida de divisão. E explode na segunda época, com 13 golos em 33 jogos realizados.

"Tinha noção de que podíamos ganhar o campeonato distrital, mas ser campeão dois anos seguidos nunca me passou pela cabeça. Nunca. É um feito que não está ao alcance de qualquer um", defende.

"Segredo? Pensar jogo a jogo e ter os pés bem assentes na terra. Não somos melhores do que ninguém, mas também não há ninguém muito melhor do que nós. O pensamento foi sempre esse. Assim que nos apurámos para a fase final eu disse que íamos até ao Jamor e ganhar a final", sustenta.

"Da mesma forma que um jogador pode subir, também pode cair"

Lénio ainda não consegue traduzir em palavras tudo aquilo que viveu e sentiu no passado domingo, dia 11, no Estádio Nacional do Jamor: "Não tenho palavras para descrever esse momento. Foi algo tão bonito. Há coisas que não se explicam, sentem-se".

Aos 23 anos, este admirador confesso de Paul Pogba, Toni Kroos, Gedson Fernandes e Renato Sanches superou-se - "o meu objetivo era fazer oito golos (fez 13)" -, mas não se deixa deslumbrar pelo momento.

"Para ser sincero, da mesma forma que um jogador pode subir, também pode cair. Só penso em dar o meu máximo, dia após dia, com a mesma humildade de sempre. Sou o mesmo Lénio, sendo o melhor jogador do Campeonato de Portugal ou não. Se acontecer, será fruto do meu trabalho diário. Devo muito aos meus colegas, à equipa técnica e a todas as pessoas que sempre estiveram comigo, nos bons e maus momentos", analisa.

"Sonho? O meu próximo obejtivo é profissionalizar-me o mais rápido possível", remata.

Convidado a deixar uma mensagem para os mais jovens, por exemplo ao pequeno Lénio que um dia desafiou o tio a convencer a sua mãe a deixá-lo ir para o futebol, o médio aponta a resiliência como fator determinante para o sucesso.

"Diria para não desistirem dos sonhos, só é impossível até acontecer. Quando as coisas não correm assim tão bem, não desistam e trabalhem sempre no limite. Quando as coisas estão mal a única pessoa que consegue sair dessa situação má és tu, com o teu trabalho e com a ajuda das pessoas que tu amas, a tua família e amigos, que estão sempre contigo. Essa é a chave".