Recorde as principais incidências da partida
Minuto 25 no Complexo Desportivo do Alverca. 0-0 no marcador e os ribatejanos ainda à procura da primeira vitória na Liga 3. A bola sobra para Luiz Miguel junto ao canto direito da grande área do Pêro Pinheiro, o jovem médio enche-se de fé e protagoniza um momento para a posteridade: a bola sobe e desce de forma repentina para espanto do guarda-redes Miguel Soares, que ainda se esticou, mas não conseguiu evitar que o esférico fosse ao encontro das redes. Golaço!
"Muita gente pensa que chutei por chutar. Para dizer a verdade, tentei finalizar, mas não daquele jeito. E quando vi a bola tocar na rede foi um alívio que nem sei explicar. Saí para comemorar, dancei e só passou na minha cabeça aquilo que aconteceu na minha vida nos últimos anos. O futebol é momento", explicou Luiz Miguel, em declarações ao Flashscore.
"Claro que (o golo) chegou ao Brasil! Recebi muitas mensagens, de família e amigos, a perguntarem se queria mesmo fazer aquilo e acredito que vão continuar a falar nisso quando lá voltar", referiu, entre risos.
Futebol apareceu aos 15 anos
A família é um dos principais alicerces na vida de Luiz Miguel. Último de 13 filhos, Luiz não teve uma infância nada fácil em Salvador da Bahia. Uma vida de sacrifício circundada por inúmeros vícios de caminho fácil, aqueles que roubam futuro. O futebol foi uma bênção.
"É engraçado que o futebol aparece na minha vida apenas aos 15 anos. Acompanhava, claro, mas não era aquela paixão como é agora. O meu irmão Micael jogava na escolhinha Renascer e houve um dia em que o treinador chamou-me para completar a equipa. Entrei, marquei o golo da vitória e ele gostou tanto de mim que fiquei lá sem pagar. Todo o mundo pagava menos eu", recordou.
"Aconteceu tudo muito rápido. O futebol ajudou-me muito. Era muito difícil viver onde eu morava, muita coisa errada e, graças a Deus, o futebol conseguiu tirar-me de lá para agora ajudar quem eu gosto. Ajudaram-me muitas vezes com comida, roupa... E agora chegou a minha oportunidade de retribuir", prosseguiu.
A vida tira, o futebol dá. O futebol apareceu tarde, mas a uma velocidade vertiginosa. Da escolinha Renascer ao Paulista, para jogar a Copinha, e depois o salto para o Fortaleza antes da COVID-19 deixar o mundo em suspenso e colocar em pausa os sonhos de Luiz Miguel. Não por muito tempo.
"No final de um treino online para o Fortaleza, o Ricky (empresário e amigo), que me ajudou muito em todos os sentidos ligou-me para apresentar a possibilidade de vir para Portugal. Ele é muito brincalhão e não queria acreditar que era verdade. Assim que mandou o contrato veio a lágrima ao olho. Estava a viver o sonho de qualquer garoto brasileiro. Falei com a minha mãe, que começou também a chorar, e vim para o Alverca, onde encontrei duas pessoas - Mateus e Bruno Vicentino - que têm sido muito importantes para mim", lembrou.
"Vai ser difícil parar o Alverca"
Luiz Miguel aterrou em Alverca para integrar a equipa sub-19, passou pela equipa B na temporada passada e assume-se, no arranque de 2023/24, no conjunto principal do emblema ribatejano, pela mão do treinador João Pereira.
Em termos individuais e coletivos a época não começou da melhor forma, mas a confiança regressou e tudo mudou no último fim-de-semana. Primeira vitória, primeiro golo e confiança no máximo para encarar o futuro.
"Não começámos bem, é verdade, mas o futebol tem destas coisas. O mister foi passando sempre muita confiança e, felizmente, a vitória apareceu", analisou o atacante, em conversa com o Flashscore.
"Vou roubar as palavras do mister: 'a bola não está a entrar, mas quando entrar vai ser difícil parar a nossa equipa'. O grupo tem trabalhado muito, está unido e ciente do que temos de fazer. É isso mesmo. Vai ser difícil parar o Alverca agora. Domingo vão ver o mesmo Alverca do último jogo", prometeu.
O raio de luz atingiu Luiz Miguel no último jogo e o futuro é olhado com esperança: "Só quero que no final tudo dê certo. Isto não é como começa, mas sim como termina".
"Converso muito com a minha mãe e lembro das dificuldades. Passei por muito, mas estou orgulhoso do caminho que estou a fazer. Não há nada melhor do que poder ajudar os meus com o futebol. É um sentimento de dever cumprido", rematou.