Entrevista Flashscore a Rui Bruno: "Há muita paixão nas gentes de Fafe"
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O início desta história é semelhante a tantas outras. O amor por uma bola de futebol apareceu muito cedo na vida de Rui Bruno. Os primeiros passos foram dados no Coimbrões, antes da mudança para o FC Porto, "ainda sem perceber muito bem o que era representar um clube de tamanha grandeza".
Seguiram-se vários anos no Boavista, um "clube muito especial", num processo de formação "complicado", em que o sonho não estava ao alcance de todos. Aos 16 anos, o central esquerdino, que tem como principais referências Sergio Ramos, Maldini, Bastoni e Gonçalo Inácio, tomou consciência: "é isto que quero para a minha vida". E foi à luta.
Pelo meio de uma licenciatura em Gestão, Rui Bruno passou pela Liga Revelação antes de desembarcar no Leça, no Campeonato de Portugal, onde viveu uma "época muito bonita" em que contrariaram todas as expectativas. No verão de 2022 assina contrato profissional com o Leixões, mas uma lesão alterou todos os planos e "as coisas acabaram por correr mal". Recomeçou no Montalegre, na Liga 3.
O destino levou-o até Fafe, onde reencontrou o treinador Luís Pinto, e tem sido sido peça fundamental na linha defensiva dos justiceiros. Está "feliz" e deu disso conta nesta entrevista ao Flashscore.
"O Fafe é um clube muito familiar"
- O Rui cumpre a 2.ª época na Liga 3, agora ao serviço do Fafe depois de uma temporada no Montalegre. Mais adaptado à competição? E como foi recebido no novo clube?
- O primeiro ano em Montalegre foi muito importante, porque a diferença entre o Campeonato de Portugal e a Liga 3 ainda é acentuada. Há muito mais equilíbrio entre as equipas, com jogos muito imprevisíveis. Vi com muito bons olhos a vinda para Fafe. Já tinha trabalhado com o mister Luís Pinto no Leça e gostava muito dele. Fui muito bem recebido e criámos um ambiente muito porreiro no balneário. A estrutura transmite confiança no meu trabalho e as coisas estão a caminhar no sentido certo. Em termos coletivos, sentia que a equipa estava a fazer as coisas certas, mas os resultados não estavam a aparecer. Felizmente, agora estamos numa fase melhor e há outra alegria no balneário, que torna tudo muito mais fácil.
- Numa série bastante competitiva, o que é que estas duas vitórias recentes consecutivas podem trazer nesta reta final da fase regular?
- A Liga 3 é um campeonato muito curto nesta primeira fase. Portanto, cada jogo tem uma importância ainda maior e acredito que o segredo é ir jogo a jogo, acreditando sempre muito em nós. Estas duas vitórias deram confiança, mas temos de ter os pés bem assentes na terra. Passamos já por uma fase complicada e isso deixou-nos em alerta para o que aí vem.
- Tendo em conta tudo aquilo que já viram das outras equipas, acredita que o Fafe tem condições para terminar nos quatro primeiros lugares (em posição de acesso ao play-off de subida)?
- Acredito mesmo muito. Não só pelo valor do plantel como em toda a estrutura técnica. Temos estado a desempenhar um bom trabalho, sempre com treinos muito intensos, e sinto que todos os jogadores têm qualidade para estar lá dentro. Não somos a equipa com maior investimento, mas na Liga 3 as equipas estão muito niveladas, excetuando talvez um Felgueiras que tem protagonizado um futebol bonito de se ver. Prevejo uma luta até ao fim. Sendo a manutenção um dos principais objetivos de todos os clubes, é lógico que todos vão querer terminar nos quatro primeiros.
- Que realidade encontrou no Fafe?
- É um clube muito familiar, com adeptos muito fervorosos. Sinto que têm uma enorme vontade de ganhar e acabam por colocar-nos uma exigência que acaba por ser benéfica. Deixa-nos alerta e a querer mais. Há muita paixão nas gentes de Fafe. Tem sido uma agradável surpresa.
"A mente é muito importante"
- O Fafe não sofreu golos nos dois últimos jogos. Acredito que esse registo seja muito importante, sobretudo, para quem é defesa.
- É o principal objetivo de todas as defesas. Como sempre disse aos meus colegas antes dos jogos, esse é o nosso trabalho, porque se deixarmos a nossa baliza a zero estamos sempre mais perto de ganhar. Esse tem de ser o nosso objetivo.
- Vocês já jogaram com linha de quatro e de cinco. É muito diferente para um central?
- É bastante diferente, porque acaba por exigir outras coisas. Numa linha de cinco, os centrais acabam quase por assumir quase uma função de lateral, porque, no nosso caso, o nosso ala funciona quase como extremo. É um sistema que temos visto com cada vez mais frequência no futebol português e mundial, um sistema que obriga a um trabalho muito rigoroso. Nós aceitámos muito bem essa proposta e temos trabalhado muito sobre ele.
- Acredita que essa variabilidade tática acaba ser um trunfo contra os adversários?
- Acho que acaba por ser importante. Por exemplo, no jogo contra o Vianense (0-1) começamos com sistema de cinco e, salvo erro, aos 60 minutos, alteramos para 4-3-3 e foi aí que fizemos o golo. Não sei se foi por termos confundido o adversário, mas é sempre vantajoso saber jogar em mais do que um sistema.
- Aos 24 anos, como se sente e imagina o futuro?
- Uma carreira de futebolista é complicada. A mente é muito importante e ao longo da formação vamos desvalorizando isso. Mas quando chegas a uma determinada idade começas a dar valor ao teu mindset. É muito importante não te deixares afetar por qualquer coisa. E eu vejo-me com 24 anos com o meu melhor mindset. Sinto que confio cada vez mais em mim e nas minhas capacidades. Vivo o melhor momento no que diz respeito ao ter a mente em concordância com o corpo.
- Sente essa influência/importância do lado mental dentro de campo?
- Muito! Nos primeiros anos de sénior erras um passe no início do jogo e começas a duvidar de tudo. Agora é diferente. Não sinto isso. Sei que faço as coisas bem durante a semana e por isso vou estar mais perto de que tudo corra bem ao fim de semana. Mas se correr mal é porque são coisas normais. Os erros são normais. Antes era uma aversão para mim errar, agora aceito muito melhor. Ia para o jogo a pensar que não podia errar, agora vou com o pensamento de que as coisas vão correr bem. No fundo, confio mais em mim.
"Trabalho para que o futuro seja risonho"
- Até onde vai o sonho?
- O sonho faz parte, mas vejo mais como um objetivo. O sonho é muito vago e o objetivo é bem definido: quero fazer uma grande época na Liga 3, para no futuro dar passos firmes e sólidos. Antigamente pensava muito no futuro, mas isso tirava o meu foco do presente. Eu tenho o objetivo de chegar à Liga, mas o meu foco não é esse. O meu foco é o presente e isso passa por fazer a melhor época possível no Fafe. Vou trabalhar para que o meu futuro seja risonho.
- Que mensagem quer deixar aos adeptos do Fafe?
- Acreditem em nós e apoiem-nos sempre. Nunca nos vai faltar atitude e ambição de vencer. Este grupo é muito ambicioso e está a criar essa ambição também na estrutura.