Yan Said: "Eu já não digo que sou o filho do Wender, ele é que é o pai do Yan"
Acompanhe a estreia do SC Braga B na Liga 3
O jovem avançado nasceu no ano em que o pai deixou a Naval com destino ao Minho e cresceu no seio do universo braguista. Contaminado pelo bichinho do futebol, aos três anos entrou para as escolhinhas do SC Braga e tornou-se homem e profissional no clube que aprendeu a amar.
Aos 21 anos, e depois de quatro épocas com participação na equipa B, Yan Said recebeu a braçadeira do conjunto secundário dos minhotos e não esconde a "ambição" para a nova temporada. Os elogios à Cidade Desportiva, o futuro do clube, a ligação a Wender e a Custódio Castro, o sonho da estreia na equipa principal e muito mais, nesta entrevista exclusiva ao Flashscore.
"O caminho para a equipa principal é cada vez mais possível"
- Como está a correr a preparação para a nova época?
- Está a correr bem. Temos uma equipa jovem, com muitas caras novas, mas a ambição que a formação tem vindo a mostrar começa a ser comum em todos os anos. É mais fácil trabalhar assim.
- É um dos elementos mais experientes da equipa e tem apenas 21 anos. Além disso, vai assumir a braçadeira de capitão este ano. Como se sente nesse papel?
- É um bocado estranho pela idade, mas os contextos é que dão experiência e fazem-nos crescer enquanto atletas e pessoas. Esta nomeação de capitão também demonstra a confiança do mister em mim. Já trabalhamos noutras épocas e faz-me sentir que eu consigo transportar as suas ideias para o grupo e ser, assim, uma voz mais ativa.
- A Cidade Desportiva tem crescido a olhos vistos, através do lançamento de vários talentos nos últimos anos. Quais as sensações em relação a isso?
- É bastante gratificante ver o crescimento do clube e da formação. Conheço bem os cantos à casa e isso faz de mim um bracarense e braguista. Claro que o crescimento e construção da Cidade Desportiva 1 e 2 vai aumentando a responsabilidade, mas também aumenta a qualidade do trabalho e dos atletas. Nós temos algumas caras novas de qualidade que vão ajudar a equipa B a conquistar os seus objetivos.
- Como vê a aposta do clube na formação?
- É um orgulho ver esta aposta. A cada ano que passa as condições vão melhorando e o profissionalismo tem de ir aumentando. A academia é uma responsabilidade, pois temos de ir crescendo, sabendo que também temos a responsabilidade de ter resultados.
- Sentem que o caminho para a equipa principal está cada vez mais possível para os jovens da formação?
- Sim! É cada vez mais possível. Temos muitos exemplos nos últimos anos que começaram as épocas nas equipa B e sub-23 e foram conseguindo impor-se na equipa principal. Temos de pegar nesses bons exemplos e fazer o nosso caminho. (...) Estando na academia, quando acabamos o treino e olhamos para o treino da equipa A, sentimos que estamos mais perto dos nossos objetivos.
- Quando tem a oportunidade de ir treinar à equipa A, quais são os conselhos que os mais velhos lhe passam?
- Dizem-me que não importa se estamos na formação ou não e que temos de mostrar personalidade, não ter medo de meter o pé. O SC Braga é um só.
"Estou muito confiante para esta temporada"
- Está aí à porta a nova época da Liga 3. Quais são os objetivos so SC Braga B?
- Os objetivos têm sido sempre claros e à medida que as épocas passam vão ficando ainda mais: evoluir jogadores para estarem prontos para contexto equipa A, lutar para ganhar cada jogo, dar o máximo e estar entre os primeiros quatro classificados na primeira fase.
- Como é que se encontra em termos pessoais?
- Estou muito confiante para esta temporada. A época passada foi boa e quero transportar as boas exibições e golos, para afirmar-me cada vez mais como jogador e ajudar os meus colegas. No fundo quero fazer melhor a nível individual como a nível coletivo.
- O Yan passou um mau momento na temporada passada (n.d.r. desperdiçou uma grande oportunidade no jogo contra o Atlético que poderia ter dado a subida à Liga 2). Como ultrapassou?
- Foi um bocado complicado. Nas primeiras horas senti-me muito triste porque esse golo poderia ter dado a subida, mas depois conversei com os meus colegas, com o meu pai e com o mister e percebi que são coisas que acontecem no futebol. O futebol é mesmo isso, uma montanha-russa de emoções. Quando fazes o golo estás no ponto mais alto, quando falhas estás no mais baixo. Temos de ir aprendendo a viver com isso. Nem sempre vamos ser os melhores, nem vamos ser sempre os piores. (...) Senti a confiança das pessoas que trabalhavam comigo diariamente e isso fez-me sentir mais positivo e a querer atacar esta época de uma forma parecida.
- Conhecemos a sua qualidade dentro de campo, mas como é em termos de personalidade?
- Depois de refletir muito e de ver o que faço nos jogos, sou uma pessoa muito fria em relação a emoções. Sou mais racional. Nem quando faço 1-2 golos sinto-me o melhor, nem quando falho me sinto o pior. A vivência que tenho dentro de casa, por causa do meu pai, e também pelo exemplo do mister, que também esteve ao mais alto nível, fez-me e faz-me crescer nessa parte mental. Temos todos de encontrar o equilíbrio. No campo temos de ter a nossa mente a 1000, mas fora temos de ser mais razoáveis e pensar mais do que agir com as emoções.
- Trabalha com o mister Custódio há alguns anos. Existe uma boa ligação entre os dois?
- Antes de o mister virar treinador, acompanhei o último ano dele no SC Braga e via a forma como se dedicava, e quando virei jogador consegui perceber ainda mais. É um treinador determinante para a minha evolução enquanto jogador. Nunca deixou de me cobrar e de me motivar bastante. É uma pessoa que gosta de contar histórias e vivências para ajudar os atletas e isso é bom para nós que almejamos chegar ao nível em que ele jogou, que foi de elite. Portanto, convivendo com ele e percebendo o que ele gosta, seja a jogar ou de comportamentos, fica mais fácil ter boa relação.
"Sempre fui um fã incondicional do meu pai"
- Acredito que Wender (pai) também terá sido peça fundamental e uma inspiração para si. De que forma é que ele marcou este caminho do Yan e a forma como vê o futebol?
- Marcou bastante. Sempre fui um fã incondicional do meu pai. Via os vídeos dele e tentava acompanhar os jogos. Mesmo agora, quando ele joga a brincar, como foi na Liga Legends, fui lá ver e é sempre um gosto. Foi ele que me passou este bichinho, a mim e ao meu irmão. Era um jogador extraordinário e quando o via a jogar e a marcar os meus olhos ficavam a brilhar de emoção. O meu pai sempre me ensinou muito. (...) Sabemos que a vida de jogador é complicada por causa dos horários, mas sempre mostou estar disponível para nós.
- Deve ser o seu maior fã, mas também o seu maior crítico. Como reage ele aos seus jogos?
- Ele vai acompanhar muitos jogos no estádio, mas quando chego a casa também vejo os jogos e ele fica a ver comigo e começamos a comentar os lances sobre o que podia melhorar. Essa troca de ideias faz-me crescer e moldar a minha personalidade de jogador dentro e fora de campo.
- Sente que já conseguiu provar que é mais do que o filho do Wender?
- Sim, tenho a certeza que sim. As pessoas que estão por fora e não percebem o que passamos e do que abdicamos para chegar ao nosso sonho... Para elas, às vezes, é mais fácil diminuir as conquistas dizendo essas coisas. Mas sempre me deixou tranquilo. Não sou pessoa de reagir de forma emocional, sempre tive os pés assentes no chão. Sei que o meu pai foi um grande jogador, que conquistou muito no futebol e é normal haver essa comparação. Agora, por brincadeira, eu digo que já não sou o filho do Wender, mas que ele é que é pai do Yan.
- O Yan disse no passado que a história do seu pai estava feita e que ia tentar fazer a sua própria história. Em que capítulo está?
- Ainda vai no início. Ainda tenho muito para escrever e para conquistar no mundo do futebol. Tenho objetivos, mas esses objetivos ainda estão longe e passam por ser cada vez melhor pessoa. Não quero dar um passo maior do que a perna. Temos de ser pacientes.
- A estreia na equipa principal é um capítulo muito desejado?
- Está guardado desde o ano passado. Não havia melhor forma de fazer essa estreia nos campeonatos profissionais a não ser no SC Braga. Entrei com três anos nas escolinhas, depois voltei com 10 anos, depois de morar em Chipre e foi sempre o clube que representei. É um capítulo que tem de ser guardado, porque é um objetivo que quero e tenho em mente. Já tive a experiência de ficar no banco, isso aumenta o bichinho de querer estrear, e isso só mostra que estou no caminho certo. Se continuar a trabalhar acredito que consigo esse objetivo.
"Não há nada que faça o SC Braga recuar na sua evolução"
- Qual a sua opinião sobre a Liga 3?
- Acho que a Liga 3 veio acrescentar muito aquilo que é a evolução do futebol português. Desde o seu início temos muitos casos de jogadores que deram o salto para Liga 2 e Liga. É um bom projeto, porque dá visibilidade aos atletas e clubes. Competitividade? Cada ano que passa vai aumentando a competitividade, com equipas que apostam muito para a subida. É um campeonato também muito experiente, com jogadores de muita rodagem e isso ajuda na evolução das equipas B que estão nesse campeonato, pois ajuda na maturação dos nossos jogadores.
- A estreia é já esta sexta-feira, dia 2, frente ao Trofense.
- Estou a contar os dias. O bom do futebol é o jogo e a competição. Podemos esperar um SC Braga B muito forte na estreia e no campeonato, sendo uma equipa que almeja grandes objetivos e feitos. Temos uma grande responsabilidade de mostrar qualidade dos nossos jovens.
- O que podem esperar mais os adeptos do SC Braga?
- São adeptos que gostam de acompanhar e no ano passado apoiaram muito a nossa equipa desde o início do campeonato. O que podem esperar? O que apresentamos o ano passado: equipa forte, equipa ofensiva, que tem os seus princípios e, independentemente do estádio, uma equipa que vai jogar sempre para ganhar. Temos objetivos e temos tudo para os conquistar.
- Enquanto adepto, como perspetiva o futuro do clube?
- Perspetivo coisas grandiosas. Acho que o SC Braga vai aumentar ainda mais a sua grandeza a nível nacional e internacional. Como adepto e jogador que almeja a equipa principal, espero que esta evolução nunca pare e haja mais adeptos a apoiar. Isso é que pode fazer com que o clube continue a evoluir. Não há nada que faça o SC Braga recuar na sua evolução. O caminho é muito risonho.
- Gostava de terminar com esta pergunta: o que significa o SC Braga na sua vida?
- Significa o Yan Said como uma pequena criança que ia ver o pai e também significa o Yan Said como jogador. O SC Braga já viu todas as fases que tive como jogador e observou a minha evolução. Se sou o que sou é pelo SC Braga e pelas pessoas com quem trabalhei, pelo meu pai que tem uma parte muito grande nesta matéria. O futebol é tudo para mim e o SC Braga partilha essa parte com família e amigos. Deu-me tudo enquanto jogador, é um motivo de orgulho representar estas cores e só tenho de agradecer e dar a resposta dentro de campo.
- É um dos grandes amores da sua vida?
- Sim!