No há nenhum jogador que tenha sido mais influente nas duas últimas partidas da Itália do que Davide Frattesi. O médio romano é o retrato do inesperado triunfo de sexta-feira passada em Paris, e do triunfo de ontem à noite em Budapeste, em termos de desempenho e eficácia, e está a viver o seu melhor momento de sempre. No Inter de Milão, joga pouco ou, pelo menos, não é um titular indiscutível.
Um tiro no peito, como se quisesse deixar claro que cada parte dele é afiada, a da faca azul mais afiada do momento. Para um treinador como Luciano Spalletti, que gosta de alguém que vai mais além e tem um instinto aguçado para o jogo, Frattesi é um jogador fundamental. Autor de um golo no Parque dos Príncipes, onde colocou a Azzurra à frente da França, repetiu-se na Bozsik Arena. Dois golos com assinatura, confirmando a sua eficácia e diligência em momentos de paridade, onde tudo é mais difícil de inverter. O médio de 24 anos tem a capacidade de quebrar a rocha quando ela é mais dura.
Momento certo
Frattesi é o símbolo atual da nova Itália de Luciano Spalletti, um treinador historicamente estético, que está a fazer uma abjuração do seu credo futebolístico, concentrando-se numa defesa de três homens e num meio-campo de cinco elementos, em que os avançados são praticamente meios-pontos capazes de surpreender os adversários, inserindo-se a partir dos "meios espaços", aqueles espaços entre eles que são difíceis de interpretar e marcar na fase defensiva. Deste ponto de vista, Frattesi é agora um jogador consagrado, pela forma como ataca o espaço e consegue afastar-se dos adversários.
O golo de ontem em Budapeste foi uma mistura de posicionamento, instinto e técnica. Ele não só chegou na hora certa ao cruzamento de Dimarco, como também sabia que o melhor seria bater com o peito. E, além disso, mandou a bola para o canto mais distante. O canto inexpugnável. O seu estatuto de principal escolha para a Azzurra reflete-se nos seis golos que marcou sob a direção de Spalletti, o que faz dele o melhor marcador, com mais quatro golos do que muitos outros, alguns dos quais avançados.
Paradoxo
E num panorama bastante desolador do ponto de vista ofensivo, a solução Frattesi parece ser a mais pertinente neste momento, embora o puzzle ofensivo ainda precise de ser resolvido. Além disso, neste momento, o número 16 da Azzurra destaca-se como titular devido à ausência de Nicolò Barella, um dos pilares também da seleção nacional e do próprio Inter, onde, de momento, o romano é suplente.
É evidente, neste momento, que a situação de Frattesi é bastante contraditória, uma vez que estamos a falar de um jogador cuja utilização é limitada por uma questão de função. De facto, tanto Frattesi como Barella estão habituados a orbitar na zona centro-direita e a inserir-se depois a reboque. Tentar fazê-los coexistir é mais um problema de Spalletti do que de Inzaghi, que terá muitos jogos para gerir.
Além disso, na seleção italiana, o retorno do dinâmico e obstinado Tonali também fechou a vaga de meia-esquerda, um lugar que Frattesi já mostrou que pode ocupar. Será que o desafio de Spalletti não será prescindir do ex-milanista para colocar o sardo, para muitos, e o romano juntos? Por enquanto, no entanto, Frattesi é o azul mais amado. E com boas razões. Porque sem ele, também autor da jogada que deu origem ao golo de Moise Kean, a Itália não estaria a liderar o grupo A da Liga das Nações.