Carolina Correia: "O Torreense oferece ótimas condições, tem muitas coisas de clube grande"
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"Sou o que sou hoje pelos valores que o Benfica me ensinou"
- Como o futebol aparece na sua vida?
- Apareceu um bocadinho mais tarde do que o habitual. Comecei a jogar com 9-10 anos. Foi o meu primo que me incentivou a dar os primeiros toques, e comecei a ganhar o gosto. Quando entrei para o 5.º ano, creio que com 11 anos, integrei a equipa de futsal da escola e comecei a participar em torneios, ganhando cada vez mais gosto pelo futsal. Quando percebi que gostava mesmo de fazer aquilo, tive a oportunidade de ir para as escolinhas do Benfica. Experimentei futebol e apaixonei-me por ele.
- Quando percebe que dava para fazer do futebol a sua atividade principal?
- No início, ainda era bastante nova e via o futebol como diversão. À medida que os anos foram passando, fui crescendo, traçando mais objetivos e levando o futebol mais a sério. Por volta dos 16 anos, quando recebi o convite do Benfica, comecei realmente a mudar a minha perspetiva em relação ao futebol. Comecei a levar o futebol mais a sério, passo a passo.
- Quais foram os maiores desafios no início de carreira?
- Quando comecei a jogar futebol, não sei se foi sorte, mas nunca joguei com rapazes, integrei logo uma equipa feminina. Não sei se isso é bom ou mau, talvez não tenha tido os mesmos estímulos que teria se tivesse jogado com rapazes, mas, quando era criança, uma das minhas principais dificuldades foi abdicar de várias coisas para seguir este caminho, desde tempo com a família e amigos. Tive a sorte de estar sempre em Lisboa, perto da família, mas nem sempre tive a oportunidade de estar presente em todos os eventos com eles.
- Como recorda a sua passagem pelo Benfica? Foi uma etapa importante para aquilo que a Carolina é hoje?
- O Benfica é um clube grande, um dos maiores do mundo. Transmite muitos valores importantes para uma jogadora. Tive o privilégio de fazer parte do clube durante toda a minha formação até à equipa A. Cresci muito, tive a oportunidade de jogar com as melhores jogadoras de Portugal e evoluí bastante. Sinto que sou o que sou hoje pelos valores que o Benfica me ensinou e transmitiu. Vivi um profissionalismo que nem todas as jogadoras conseguem experimentar numa carreira futebolística.
- Deu-lhe uma maturidade diferente numa fase tão inicial da sua carreira?
- Fui obrigada a crescer um bocadinho mais rápido. No Benfica, estive com as melhores, tive várias conversas com grandes jogadoras e isso fez com que eu crescesse um pouco mais depressa. Foi no plantel sénior que tive de dar um salto ainda maior. Tive o privilégio de participar em outras competições, o que contribuiu muito para o meu desenvolvimento, e foi uma experiência muito boa.
"Torreense é um clube com ótimas condições"
- Sai do Benfica e muda-se para o Torreense. Como foi essa mudança?
- Óbvio que foi uma mudança difícil. Estive muitos anos no Benfica, mas foi uma mudança que fazia sentido. Precisava de jogar. No Benfica, ia tendo alguns minutos, mas estou numa fase da carreira em que preciso de crescer, ganhar certos estímulos e, apesar de não ter sido fácil, senti que era a altura certa. Quem sabe um dia regresse ao Benfica, a vida dá muitas voltas. Mas foi uma mudança que considerei essencial neste momento da minha vida, e o Torreense é um clube com ótimas condições. Embora seja visto por muitos como um clube pequeno, tem muitas coisas de um clube grande. Senti que o Torreense era o lugar certo para continuar a crescer, e estou muito feliz por estar aqui.
- Acredito que tenha encontrado estímulos diferentes. Uma coisa é estar num dito grande e outra é estar num clube como o Torreense em que é muito mais solicitada do ponto de vista defensivo. Sentiu isso?
- É desafiante, queremos jogar contra as melhores e queremos crescer. Estamos aqui para isso, pois só assim evoluímos, enfrentando grandes jogadoras e equipas. Acho que foi uma mudança positiva nesse sentido. Ter a oportunidade de jogar contra grandes equipas é algo que me motiva, e estou muito feliz por isso.
- Cumpre a segunda época de Torreense. Quais as primeiras sensações de nova época?
- Estou feliz por continuar no Torreense. Houve muitas saídas em relação à época passada, com várias jogadoras novas, mas o nosso ADN mantém-se. As novas jogadoras trouxeram muita qualidade para o plantel, e sinto que temos um grupo forte e que já nos conhecemos muito bem. Tenho a certeza de que vamos fazer uma grande época, e espero que consigamos alcançar os nossos objetivos.
- Já disse algumas, mas gostava de lhe perguntar sobre quais considera ser as maiores qualidades do Torreense?
- Considero que o Torreense é uma equipa muito trabalhadora, com uma união incrível, e estamos dispostas a fazer mais e melhor. Somos uma equipa que gosta de ter a bola nos pés, queremos jogar bom futebol, mas também queremos ganhar jogos. Somos uma equipa muito lutadora, ambiciosa, e estamos aqui para fazer melhor do que na época passada. Vamos dar tudo para chegar aos lugares cimeiros.
- O que seria uma boa temporada na vossa perspetiva?
- Como disse anteriormente, queremos fazer melhor do que na época anterior. O nosso objetivo é ficar entre os primeiros 6 lugares. Somos uma equipa muito ambiciosa e tenho a certeza de que a época será muito positiva. Temos jogadoras muito boas individualmente, mas, acima de tudo, somos um grupo bastante unido. Vai ser uma época excelente para a nossa equipa.
- Qual o papel do Torreense na valorização do feminino?
- O Torreense, ao longo dos anos, tem apostado cada vez mais no feminino. Está a proporcionar condições muito boas para o nosso crescimento, e acho que isso é positivo. Aposta na jogadora portuguesa e no futebol feminino, o que é muito gratificante, pois é um voto de confiança na equipa.
- Do ponto vista individual, o que espera desta época?
- Espero continuar a crescer e ajudar o Torreense a chegar aos melhores lugares da tabela. Quero afirmar-me aqui no Torreense. Claro que tenho a ambição de chegar à seleção A, mas é um processo passo a passo. Tenho a certeza de que essa oportunidade vai surgir. Como todos dizem, pode ser fácil chegar lá, mas o mais difícil é manter-se. Trabalho todos os dias para ter essa oportunidade um dia.
"Ambiciono jogar no estrangeiro e na Liga dos Campeões"
- Como analisa a concorrência na sua posição a nível nacional? Há muita qualidade...
- Sim, acho que não é só a nível de defesas centrais; há muitas boas jogadoras portuguesas. Felizmente, o futebol feminino está a crescer, graças à Federação, ao Canal 11 e à Liga. Cada vez mais, os clubes estão a investir no futebol feminino, e a Liga está a crescer. Por isso, acredito que a jogadora portuguesa está a evoluir muito e a ter também o seu reconhecimento fora de Portugal.
- Daquilo que viu nos primeiros jogos, o que lhe parece esta edição da Liga? Mais competitiva? A diferença para Sporting e Benfica é menor?
- Está muito mais forte em relação à época passada. Apesar da diferença em relação ao Sporting, Benfica e SC Braga, as coisas estão a mudar. A diferença ainda é grande, mas está a ser reduzida. A liga está bastante competitiva, já não há uma grande discrepância nos resultados, e é isso que procuramos.
- Quais as principais barreiras que ainda existem no feminino?
- Ainda há uma grande diferença em relação ao futebol praticado por homens, mas estamos a crescer. A FPF já está a apostar cada vez mais no futebol feminino, e acho que o que faz a diferença é a visibilidade. Precisamos de ter mais visibilidade. A mudança para jogar em relva é um passo em frente, assim como a implementação do VAR, mas precisamos de mais promoção e visibilidade. Os orçamentos são diferentes, mas, com o tempo, haveremos de lá chegar. É um caminho longo, mas estamos aqui para lutar por isso.
- Como é que a Carolina encara o seu futuro aos 22 anos? Tem a ambição de jogar no estrangeiro?
- Claro que tenho objetivos traçados. Quero e ambiciono jogar no estrangeiro e na Liga dos Campeões. Mas vou passo a passo. Tenho a certeza de que essa oportunidade vai surgir, e espero estar preparada para ela.
- O que gostaria que dissessem sobre a Carolina e sobre o Torreense no final da temporada?
- Espero que digam que sou uma jogadora completa, que dá tudo em campo, que honra o clube, mas, acima de tudo, que respeita o adversário e é muito lutadora.
Em relação ao Torreense, espero que vejam que é uma equipa muito completa, com a perspetiva de ser um clube grande que consegue disputar os lugares cimeiros.