Carolina Mendes: "Ainda falta desbravar muito caminho, mas está mais fácil para as novas gerações"
"Projeto do Racing tem um futuro brilhante"
- Como foi recebida e como têm sido os primeiros dias no Racing Power?
- Já conhecia praticamente todas as jogadoras do plantel, até já tinha tido a oportunidade de ser colega de equipa de algumas em outros contextos. Fui muito bem recebida e acarinhada e espero conseguir retribuir todo o carinho.
- Está a correr bem a pré-época?
- A pré-temporada é sempre muito exigente do ponto de vista físico, mas serve para preparar-nos para o que aí vem, e é bom que assim seja. É bom ter esta exigência para depois podermos corresponder bem ao longo da época. Esse é o principal objetivo desta fase. Agora, claro, tem sido difícil. O calor não ajuda.
- Que projeto encontrou?
- O Racing Power é um clube muito recente, mas o que já alcançou neste curto espaço de tempo diz muito da grandeza e da forma como se trabalha aqui dentro. Não é fácil fazer aquilo que foi feito, sobretudo no ano passado, em que terminou o campeonato no 3.º lugar logo no primeiro ano. O que vi e vejo é que tem um potencial e um futuro brilhante pela frente.
- Podemos dizer que ficou surpreendida?
- Sim, acho que foi a equipa que surpreendeu toda a gente. É muito bom poder fazer parte deste grupo e quero ajudar da melhor forma possível para que este ano seja no mínimo igual.
- Quais os objetivos que lhe foram apresentados? E o que espera com esta mudança?
- Queremos sempre fazer mais e melhor. Já tive a oportunidade de trabalhar com o mister (João Marques) e sei a exigência dele e sei que só entra em projetos vencedores. Estando eu neste projeto, a minha ambição e objetivos também passam pelos objetivos do clube. Ou seja, ser só o finalista da Taça não chega, queremos ganhar a Taça. E no campeonato não chega o terceiro lugar, queremos mais. Mas é preciso trabalhar muito.
- Sente que a equipa tem a qualidade necessária para atingir as metas propostas para 2024/25?
- É sempre giro quando temos este mix de jogadoras mais velhas e mais novas. Temos muitas jovens com muita qualidade e um potencial muito grande. Eu sendo uma referência, cabe a mim mostrar-lhes qual o caminho para estarem ao mais alto nível.
"Queremos conquistar a Supertaça"
- Como é que a Carolina se sente com este novo desafio?
- Eu estou muito feliz por estar aqui e por ter abraçado este novo projeto na minha carreira. Enquanto jogadora profissional quero dar o máximo de mim e ajudar a equipa. Estou mais perto de casa, isso também é algo muito bom porque senti um bocado falta dessa parte familiar e amigos nos últimos anos. Isso vai dar-me uma energia maior para a nova época.
- Quais os objetivos pessoais?
- Enquanto jogadora de Seleção, tenho uma responsabilidade acrescida. Não posso baixar o ritmo nem acomodar-me. A Seleção não é um espaço garantido e tenho de provar sempre que mereço lá estar.
- O primeiro jogo é contra o Sporting para a Supertaça. Como encaram essa partida?
- Vai ser o primeiro embate do Racing e vamos perceber um pouco como estamos. Vamos querer ganhar essa competição e espera-se um jogo muito difícil, frente a um adversário muito competente. Queremos dar o nosso melhor, passar à segunda fase e conquistar o troféu.
- Qual a sua opinião sobre a evolução da Liga?
- Noto uma evolução muito grande. Há investimento muito maior por parte das equipas e isso resulta em maior competitividade. Percebemos isso no último Campeonato. Eu espero que a competitividade continue a aumentar e acho que estamos no bom caminho. Ainda não é perfeito, não é... Mas na minha opinião a ajuda da FPF aos clubes tem sido muito importante.
- Uma das alterações para a nova época é a questão dos relvados naturais. É algo que faça realmente diferença para vocês jogadoras?
- Faz, é uma diferença muito grande. Há muito mais lesões nos sintéticos… Claro que podem acontecer nos relvados naturais, mas a probabilidade é maior nos sintéticos. Para nós essa mudança é ótima. Lutamos por melhores condições e as condições não são só monetárias. Às vezes estas pequenas coisas fazem diferença. Acho que o passo fundamental seria a profissionalização da Liga.
- Nota que isso também resulta num maior interesse por parte do público?
- Com todo o respeito, é mais atrativo ir a um estádio como o Jamor, por exemplo, do que ir a um sintético de um municipal qualquer. Queremos que as pessoas estejam mais ligadas.
"É uma obrigação irmos ao Euro-2025"
- Qual a importância da Seleção na sua vida?
- Tem toda a importância. Entrei muito miúda e vou sair mulher. Na altura em que cheguei ainda era completamente amador e fez-me querer mais e querer evoluir mais enquanto jogadora. São muitos anos na Seleção, muitos anos a ser chamada e isso demonstra a minha competência e o facto de ser muito profissional naquilo que faço. Devo muito ao espaço Seleção enquanto pessoa e jogadora. Vou sempre pertencer à família seleção.
- A Carolina é a 8.ª mais internacional e a 3.ª melhor marcadora. Melhor do que imaginava?
- Por ser ainda muito amador, era algo que nunca pensei que pudesse chegar tão longe. Quando olho para trás sinto uma satisfação enorme pelo caminho que está a ser feito. Ainda falta desbravar muito, mas está mais fácil para as gerações mais jovens e isso deixa-me muito feliz. O futuro é risonho.
- A Carolina marcou o primeiro golo de sempre de Portugal numa fase final de um Europeu e esteve ainda no Euro-2022 e no Mundial-2023. Podemos dizer que Portugal está obrigado a marcar presença no Euro-2025?
- Sim. Nesta fase, posso assumir isso. Neste momento é uma obrigação irmos ao Euro. O nível que a Seleção apresenta é nível de Seleção de Europeu e sentimos essa obrigação e queremos estar lá. Nós antes sonhávamos, era um sonho longínquo, e conseguimos chegar lá. Agora já não é sonho, é uma realidade. Temos de estar porque temos qualidade. O mindset é completamente diferente e isso é bom. Demonstra que o nível de Portugal está muito alto.
- Antes havia um respeito muito grande pelas outras seleções, agora já se nota uma capacidade muito boa de Portugal encarar qualquer adversário olhos-nos-olhos. Sentem isso dentro de campo?
- Já se sente o respeito das outras seleções. Já olham para nós de maneira diferente e esse respeito ganha-se por aquilo que temos vindo a fazer e pela qualidade que temos apresentado nos últimos anos. É a evolução do futebol português no feminino. Há cada vez mais jogadoras de qualidade. Ainda falta muita coisa, mas estamos no bom caminho. Sentimos que somos muito diferentes do que éramos há uns anos. Ainda não estamos ao nível das melhroes, temos de manter os pés bem assentes no chão, mas vamos estar. Temos consciência do nosso valor.
- A Carolina tem sido presença regular nas últimas convocatórias. Tem o objetivo de ir ao Euro-2025?
- Sim, estou na máxima força para começar a época. Estou muito feliz por este desafio, pois precisava de alguma mudança na minha carreira e surgiu no timing certo. Eu enquanto for jogadora vou ter essa ambição de representar a Seleção. Depois já sabemos como funcionam as escolhas. Ou seja, não depende única e exclusivamente de mim. Mas se for competente, é mais fácil estar nessa lista para representar o nosso país, que é sempre um orgulho.
- É sempre especial ouvir o Hino?
- É sempre um momento único. Não há Hinos iguais, é sempre momento especial e diferente.
- Tem entrado muita juventude no espaço Seleção. Sente que essas jovens chegam muito mais preparadas?
- Sem dúvida. Há mais camadas jovens na Seleção, e uma miúda que hoje chega às A, já passou pelas sub-15, sub-16, sub-18. Ou seja, já têm muitos jogos internacionais e isso faz com que cheguem muito mais preparadas.
- Consegue imaginar Portugal a passar de forma recorrente a fase de grupos de uma grande competição e a lutar pela conquista de um Euro, por exemplo?
- Sim, consigo ver isso. E não acho que vá ser num futuro assim tão longínquo. Vai levar o seu tempo, mas acho que vai ser num futuro próximo e espero estar cá para ver isso. Acredito mesmo que é possível, até sermos campeãs da Europa e do Mundo. Mas não é amanhã, nem depois.
"Se fosse homem tinha o futuro garantido"
- Passou por Espanha, Itália, Rússia, Suécia, Islândia e, claro, Portugal. Olhando para trás, tem sido bom, muito bom ou excelente?
- Tem sido uma viagem muito boa, com altos e baixos. Acho que fiz o meu caminho e ainda estou a fazer, sempre baseado no que seria melhor para mim. Não me arrependo de nada.
- O que diria à Carolina se ela estivesse agora a começar?
- Para acreditar nela e para ir sem receios e sem medos.
- O que transmite às mais jovens do Racing Power?
- Muitas vezes existem inseguranças e medos quando estamos a começar, por isso tento transmitir confiança, mesmo para treinarem mais. Com trabalho conseguimos alcançar tudo. Estas gerações mais novas, não será por falta de qualidade que estas miúdas não conseguem chegar lá. Se quiserem podem chegar onde quiserem.
- Parece uma vida fácil, mas é uma vida de muito sacrifício por uma paixão pelo futebol. A Carolina pensa no que virá a seguir ao futebol?
- Sim, claro que sim. Abdiquei de muitas coisa: amigos, família, casamentos de amigas... Raramente estava presente. Esse tempo em família é muito importante, mas quando temos uma paixão tão grande é isso que nos move, esse amor tão puro. Isso leva-nos a deixar tudo para trás e lutar.
- Se fosse homem tinha o futuro garantido, deixava o futebol e estava bem... Claro que penso nisso... Não é que me assuste muito, mas fui jogadora a vida toda. Tenho curso de fisioterapeuta, mas nunca exerci. Acho que vou sempre partir em desvantagem. Agora, acho que vou colher alguns frutos do que plantei.
- Última pergunta: o que gostava que dissesem do Racing Power no final da temporada?
- Títulos. Queria a afirmação desta equipa com títulos.
Nota: Entrevista realizada durante o estágio do Racing Power em Pinhel