Publicidade
Publicidade
Publicidade
Mais
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Carolina Pocinho: "Estoril tem apostado em mim e dado confiança"

Rodrigo Coimbra
Carolina Pocinho tem sido opção regular no onze do Estoril Praia
Carolina Pocinho tem sido opção regular no onze do Estoril PraiaGD Estoril Praia, Flashscore
O Flash Feminino é a nova rubrica quinzenal do Flashscore, dedicada a destacar as principais protagonistas da Liga Feminina. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com as jogadoras que brilham nos relvados nacionais. A nossa sexta convidada é Carolina Pocinho, jogadora do Estoril Praia.

Acompanhe o Estoril Praia no Flashscore

"Amor ao futebol ultrapassa muitas das dificuldades"

- Como o futebol aparece na sua vida? Na minha pesquisa percebi que a Carolina também praticou outras modalidades, como basquetebol e andebol... O futebol ganhou essa corrida no final?

- O futebol ganhou sempre. Desde pequena, jogava futebol com amigos e primos, só que os meus pais sempre tiveram receio que jogasse com rapazes. Na minha zona não existia uma equipa feminina, só o Cadima, que era longe. Acabei por praticar outros desportos até poder, de facto, ingressar numa equipa feminina. Passei pelo andebol, fiz natação, basquetebol e ainda experimentei ténis quando fui um ano para Torres Vedras, e só aos 16 anos é que ingressei no futebol, quando criaram o clube de Condeixa.

Carolina Pocinho é uma das capitãs do Estoril
Carolina Pocinho é uma das capitãs do EstorilGD Estoril Praia

- Nenhuma outra apaixonou tanto como o futebol?

- Apaixonaram, mas o futebol sempre foi a minha paixão desde que nasci; sempre andei agarrada a uma bola. Na escola, até jogavamos com os pacotes dos iogurtes quando nos tiravam as bolas.

- Calculo que tenha sido uma felicidade quando abriram o feminino no Condeixa. Como foi?

- Foi incrível, exatamente aquilo que sempre esperei desde miúda. Foi um sonho tornado realidade; na altura, não tinha noção do que era jogar numa equipa feminina. Os meus pais sofreram um bocadinho, entre levar-me e buscar-me aos treinos, e fizeram alguns ajustes para conseguirem realizar o meu sonho.

- Acompanha o Condeixa até à Liga. Especial percorrer esse caminho com o clube da terra?

- Fiz seis ou sete épocas no Condeixa; já estávamos a tentar a subida há dois anos. O Covid facilitou um bocadinho as contas, mas tínhamos uma equipa capaz, que foi crescendo ao longo dos anos e que merecia pisar grandes palcos. O homem do leme na subida de divisão no Condeixa foi o mister José Sobral. Depois fomos lideradas por Marco Ramos na época seguinte, na Liga, onde fizemos, mais uma vez, história pelo clube, indo à fase de campeão. Na altura, a liga era dividida entre zona norte e sul, e depois fase de campeão e fase de despromoção. Já tínhamos feito a nossa parte, era só desfrutar os jogos grandes e deixar uma boa imagem do clube. E foi uma época de sonho.

- Deixa o Condeixa, mas continua sempre na Liga. Quais os principais desafios em vários clubes e realidades?

- Foi difícil. Aprendemos muito a nível pessoal, bem mais do que a nível futebolístico, porque são realidades diferentes. Sonhamos com contextos profissionais em que nos dão tudo, mas muitas vezes a realidade não é essa e temos de fazer sacrifícios, o que nos faz crescer muito a todos os níveis. Temos de lidar com pressões e situações até externas ao futebol, que temos de saber ultrapassar da melhor forma possível. Dentro de campo, temos de dar tudo de nós. Mas as coisas vão melhorando à medida que os anos passam.

- O amor à camisola é o que faz não desistir?

- Tem sido o amor à camisola e ao futebol no geral. Durante muitos anos, passa-nos pela cabeça desistir e que estamos a chegar ao limite, mas o amor ao futebol ultrapassa muitas das dificuldades.

Carolina Pocinho mostra-se agradecida ao Estoril
Carolina Pocinho mostra-se agradecida ao EstorilGrupo Desportivo Estoril Praia

"Estoril ajudou-me a limpar a cabeça"

- Qual o balanço que faz deste novo desafio no Estoril?

- Está a correr bem, melhor do que estava à espera. É um clube que me ajudou a limpar a cabeça. Venho de uma época em que, futebolisticamente, tive menos minutos, mas cresci muito a nível pessoal. É um clube que me tem dado clareza, tem apostado em mim e dado confiança. É uma zona linda, perto da praia, e adoro. Sempre quis viver perto da praia. O clube está a esforçar-se, tem uma direção nova, e estão a tentar dar as melhores condições possíveis para atingir o alto nível e fazer uma época incrível.

- Quais as principais qualidades do vosso grupo?

- Entreajuda e raça. Temos um plantel muito jovem, e isso é favorável, porque todas querem mostrar o seu valor. Para muitas, é a primeira vez na primeira divisão e querem provar que são capazes de jogar a este nível. A raça é o que as vai ajudar. A nível de qualidade, talvez não possamos bater-nos de frente com alguns clubes, mas há muitos jogos que são ganhos pela atitude, alma e coração, e nisso ultrapassamos, provavelmente, qualquer equipa.

Tabela classificativa da Liga
Tabela classificativa da LigaFlashscore

- Aos 25 anos, a Carolina é mesmo uma das mais experientes. Qual tem sido o papel? Até pelo facto de ser capitã, sente-se importante para ajudar a equipa a crescer?

- Sim. Já passei por esse papel no Condeixa. Aqui é um pouco diferente, porque há muitas jogadoras jovens e temos a responsabilidade de mostrar o caminho correto, que não é fácil andar por aqui e que é uma realidade completamente diferente. As mentalidades têm de ser mudadas a partir da entrada num registo mais profissional. Cabe a nós, mais velhas, passar isso e mostrar que nada se faz de um dia para o outro. É preciso trabalho, sacrifício e vir todos os dias para o treino e evoluir. Temos o exemplo do Cristiano Ronaldo; não é só o talento que chega. Para estar aqui muitos anos, é preciso muito sacrifício e trabalho fora de treino.

- Tiveram um início de época complicado, em que apanharam Benfica, Sporting e SC Braga. Mas perguto-lhe o que seria uma boa época para o Estoril?

- Seria ficar acima da linha de água, seria ótima se ficássemos a meio da tabela. Sobre o início, não correu mal de todo; apanhámos equipas do topo que podem discutir o título, mas foi bom para nós. Como temos muitas jogadoras sem noção da realidade da Liga, foi bom para dar o choque e entender que há muitas coisas que não chegam, e isso ajudou-nos a unir. Criámos uma grande entreajuda, e isso tem ajudado nos resultados que tivemos. Vai ser difícil, mas acho que vai correr bem.

Carolina disputa a bola com Cláudia Neto
Carolina disputa a bola com Cláudia NetoGrupo Desportivo Estoril Praia

"O nome que o clube tem já ajuda muito a promover o feminino"

- O que tem a dizer sobre a Liga? Está mais forte este ano?

- A nível da Liga, está a melhorar, e é uma realidade. O VAR veio ajudar muito em certos casos; a parte do relvado também é muito importante para apoiar as jogadoras, sobretudo ao nível de lesões. Há muita coisa que é necessário ainda evoluir, mas acho que os clubes estão a conseguir progredir e a dar cada vez mais condições. A FPF também tem ajudado os clubes com menos posses. A nível do Estoril, para um regresso, estão a conseguir igualar os níveis de clubes que já estavam na Liga. É uma direção nova, que nos ouve e se esforça para atender ao que necessitamos. Claro que não é fácil para um clube que vem da segunda, mas vai ser uma boa época porque temos a ajuda deles.

- Qual o papel que o Estoril pode ter na afirmação e volução do feminino?

- O nome que o clube tem já ajuda muito a promover o feminino. Sentimos muito carinho por parte dos adeptos. Não estávamos de todo à espera do apoio que recebemos no Coimbra da Mota. O clube quer valorizar e manter-se na primeira divisão. As pessoas querem demonstrar que estão ao nosso lado, presentes e são caras que vemos todos os dias. Isso ajuda muito na nossa valorização. Sentimos que, se necessitarmos de algo, eles vão ajudar.

- E quais os principais obstáculos que o feminino ainda atravessa?

- Em geral, a parte monetária ainda é muito importante. O futebol feminino ainda não gera muitas receitas, uma realidade que prejudica os clubes. Isso complica o caminho até à profissionalização.

Carolina Pocinho é uma das capitãs do Estoril
Carolina Pocinho é uma das capitãs do EstorilGrupo Desportivo Estoril Praia

"Não era suposto estar a jogar este ano"

- A Carolina está com 25 anos. O que lhe pergunto é se pensa muito no futuro e se hoje o vê de forma diferente?

- Penso que a realidade do feminino não é a mesma do masculino. Não vamos viver com o que recebemos nos anos anteriores. Já vejo o meu futuro de forma diferente do que via o ano passado, sim, porque não era suposto estar a jogar este ano. Já tinha metido isso na minha cabeça, que se calhar não jogava mais. Às vezes, os sacrifícios não valem tanto a pena; depende das épocas e do que fica na cabeça. No entanto, devido a esta oportunidade, a equipa técnica e a direção dão-me confiança, o que faz com que pense de forma diferente em relação ao próximo ano. Mas não quero pensar onde vou chegar; primeiro quero que esta época corra bem, porque pode não haver futuro se não correr bem.

Quero chegar a um patamar diferente, ter condições diferentes. Quero continuar a viver o sonho de criança e alcançar o patamar que sempre sonhei. Se calhar, o degrau que desci no ano passado, posso conseguir subir dois ou três este ano.

- O Estoril deu-lhe uma nova perspetiva?

- Sim, deu-me a luz ao fundo do túnel. 

Os próximos jogos do Estoril
Os próximos jogos do EstorilFlashscore

- Também por esse testemunho, que conselho é que a Carolina daria às meninas que estão agora a começar?

- Digo-lhes que o talento não chega; é preciso muito sacrifício e trabalho. Mas, para não desistirem, pois vai ser uma realidade que vão adorar. Têm de desfrutar do caminho primeiro para, depois, quando chegarem aqui, perceberem e viverem com toda a clareza o quão bonito é jogar nestes campos e nesta realidade de primeira divisão. Hoje, felizmente, têm todas as oportunidades possíveis, portanto é trabalhar, desfrutar e pensar que uma época menos conseguida não é motivo para desistir.

- O que gostava que dissessem da Carolina e do Estoril no final da temporada?

- Sobre mim, a nível profissional e desportivo, que eu dei tudo o que tinha a dar. Não deixei nenhum lance por perdido, amei o símbolo e fiz o que fiz para demonstrar que eu e o clube podemos chegar mais longe; e que ajudei a todos os níveis.

Depois, gostava que se dissesse que o clube deu tudo o que tinha; fizemos o que podíamos e o que não podíamos. Não foi na raça que não nos venceram, e que fiquem felizes porque, a partir de agora, se fizermos o que temos feito, vamos ser muito felizes.

Mais sobre o Flash Feminino

Entrevista de Rodrigo Coimbra
Entrevista de Rodrigo CoimbraFlashscore