Opinião: Sangue novo ainda sem oportunidade, muitas dúvidas e questões
Há umas semanas escrevi um artigo de opinião sobre os seis passos do novo ciclo da Seleção. Julgava eu que voltaria a escrever sobre resultados menos bons porque as jogadoras jovens precisariam de tempo para errar, crescer e tornarem-se indiscutíveis.
A primeira convocatória para a esta fase de grupos da Liga das Nações surpreendeu-nos pela mudança de alguns nomes e, pelo que fazia entender, pelo adeus de algumas jogadoras à Seleção. No entanto, nesta segunda convocatória vemos novamente o nome de Carolina Mendes, no meu ponto de vista, injustificado.
Mas, da convocatória até à escolha do onze inicial ainda há um tempo e trabalho que nos permite pensar e repensar nas opções que dão mais garantias à equipa.
Nesta dupla jornada com a Áustria, devastadora em termos emocionais e de futebol, vimos abrir-se uma página de dúvidas e questões que facilmente poderiam ser colocadas numa conferência de imprensa a Francisco Neto.
1 - Nova aposta na dupla Diana Silva e Jéssica Silva. Porquê?
Ignorando o facto de a avançado do Sporting ter apenas um golo marcado na presente época, em todas as competições, e da número 11 do Benfica ter estado de fora dos relvados mais de um mês parece-me, ainda assim, que se pode questionar a decisão.
2 - Não será importante perceber que esta dupla ofensiva tem características demasiado semelhantes e que não estão num bom momento?
Todos sabemos que o Selecionador Nacional gosta de explorar a velocidade destas jogadoras para encontrar espaços entre centrais-laterais e, mais recorrente ainda, nos corredores. Mas o facto de deixarmos de ter uma referência ofensiva nas zonas de finalização torna-se uma preocupação dado que nunca conseguimos concretizar jogadas quando esses espaços estão descobertos.
3 - Por que é que Ana Capeta e Telma Encarnação têm de partir tanta pedra para ter uma oportunidade?
De vez em quando lá vai surgindo uma oportunidade, mas é sempre “areia para os olhos”. Capeta já provou vezes sem conta que a sua intensidade de jogo e a forma como luta no último terço podem ser caraterísticas muito bem aproveitadas pelo Selecionador. No entanto, raramente são.
Já Telma é a melhor finalizadora portuguesa da história do futebol feminino em Portugal, não há ninguém que faça golos como ela. Mas nos últimos três jogos pela Seleção jogou apenas 20 minutos…
4 - Lúcia Alves, quanto tempo teremos que esperar para a lateral com melhor rendimento em Portugal ser titular?
Não se consegue entender. Neste momento, Lúcia é das jogadoras mais influentes do Benfica por tudo o que consegue dar ao futebol no coletivo e pelo seu ótimo momento de forma em termos individuais. Uma oportunidade de jogar o segundo jogo com a Áustria em terras lusas não seria assim tão descabido. Compreende-se a opção de jogar com uma lateral de pé esquerdo no corredor indicado, mas a coerência das decisões não existiu num espaço de cinco dias.
5 - Fátima Pinto e não Mariana Azevedo. Porquê?
Levamos na convocatória quatro centrais, se contarmos que Maria Miller foi pensada também para essa possibilidade, e no momento da lesão de Ana Seiça optamos por adaptar uma média e deixar duas jogadoras da posição no banco.
Terá que haver um argumento mais válido do que “está em fase de adaptação” para justificar esta decisão. No entanto, há que reconhecer a polivalência de Fátima Pinto e a sua capacidade de fazer cumprir posicionalmente qualquer posição do meio-campo defensivo.
Deixo apenas cinco questões, poderiam ser outras tantas, mas os pontos de vista dos treinadores são sempre diferentes. Há que realçar que quando saímos do Mundial não estava tudo bem e que agora não está tudo mal. Terá que haver discernimento para entender que as opções do selecionador Francisco Neto são sempre passíveis de questões, não fosse a profissão dele a de treinador de futebol.
Contudo, os portugueses que acompanham a Seleção feminina de forma assídua também gostavam que houvesse sangue novo, algo que já é bastante justificado.