Opinião: Vislumbre Aquém da Responsabilidade (VAR)
Todos já ouvimos dizer que “não se constrói uma casa pelo telhado” ou que “na vida não devemos saltar etapas”. Dá que pensar…
Onde é que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tinha a cabeça quando decidiu anunciar que a Liga Feminina seria a primeira na Europa a ter vídeo-árbitro (VAR)? No momento desta revelação muito protagonismo foi dado ao órgão máximo do nosso futebol em Portugal, protagonismo positivo para fora e alguma relutância dentro de portas.
Quem anda nestas andanças e partilha balneários em contentores, sintéticos sem condições, ou bancadas sem cobertura, e onde reina ainda o amadorismo, sem culpa, de alguns clubes, sabia que esta era uma decisão precipitada. Sabia que maior parte dos clubes não reuniam as condições para aplicar os materiais necessários para ser possível colocar em funcionamento esta ferramenta.
Há clubes na Liga Portugal 2, segunda divisão masculina, que tiveram dificuldades em cumprir os critérios e diretrizes para ser passível de aplicar a exigência vigente na Liga Portugal. Como é que será para as equipas femininas que, na sua maioria, nem possuem instalações próprias?
Este fim-de-semana não houve VAR nas meias-finais da Supertaça Feminina porque, segundo as informações fornecidas pelo Canal 11, um dos dois estádios não possuía condições para aplicar esta nova tecnologia.
Portanto, não teria sido mais importante apoiar os clubes para que tivessem condições para jogar em relvados naturais, quando cada vez mais se fala do quão prejudicial é para as mulheres jogarem em sintético? Depois de um Mundial, onde vimos inúmeras jogadoras importantes ficarem de fora da mais prestigiada competição do mundo, não seria importante investir na profissionalização do futebol feminino e dar, assim, as condições necessárias às atletas para se focarem a 100% na sua forma física em vez de dividirem o seu tempo e energia entre trabalho e treinos?
Transmissão televisiva
Também é triste pensar que este fim-de-semana não foi possível ver um único jogo da primeira eliminatória da Taça da Liga Feminina em direto. Nem no Canal 11, nem em streaming.
É importante não esquecer que o Torreense lutou contra muitas dificuldades para continuar a ter equipa esta época, que o Länk Vilaverdense não tem condições para pagar adequadamente às suas jogadoras, que o Damaiense teve que esperar um novo investidor para, pelo menos, manter algumas jogadoras da época passada, que o Valadares continua a sobreviver devido aos conhecimentos do Presidente para convencer bons patrocinadores, e que o Albergaria e Ouriense vão tentando manter-se à tona nesta tempestade de reajustes financeiros.
Estes clubes, estas jogadoras, estes dirigentes merecem ter algum reconhecimento e, também merecem, que a sua visibilidade não seja apenas uma consequência de quando defrontam os “grandes”.
Rescaldo da Taça da Liga
Disputou-se este domingo a primeira mão da eliminatória da jornada inaugural da Taça da Liga Feminina 2023/24, fechando o primeiro fim-de-semana em que competiram todas as equipas do escalão mais elevado do futebol feminino em Portugal.
De Norte a Sul houve jogos para apreciar, uns com resultados equilibrados e outros mais surpreendentes. O mais positivo é que na segunda mão desta eliminatória ainda se poderá ver bom futebol e disputa até ao fim.
O Clube Albergaria recebeu o Atlético Ouriense (1-0), um onze com várias estreias para as albergarienses, de Ourém vieram muitas caras conhecidas que tentaram levar de Aveiro uma vitória, mas não foi possível. A equipa da casa abriu o marcador aos quinze minutos com um auto-golo de Patrícia Pacheco, o resultado manteve-se até ao final do jogo.
O CS Marítimo viajou até ao continente para defrontar o SCU Torreense e tentar levar a discussão da eliminatória para sua casa. Apresentou-se com um onze inicial altamente competitivo e que nos deixa ainda mais curiosos para o que pode ser este campeonato. O Torreense viu voltar uma das suas jogadoras mais promissoras, Paloma Lemos - a avançada goleadora regressa após uma longa paragem de 10 meses -, e irá à Madeira tentar ajudar a sua equipa a recuperar da margem mínima de 0-1 que perderam em casa.
O Damaiense recebeu o Valadares Gaia FC (0-3) e nem teve tempo para se adaptar ao jogo. Malu Schmidt, que regressa ao Valadares após uma época no Länk Vilaverdense, abriu o marcador aos quatro minutos. Na segunda parte as gaienses fecharam o resultado em três golos sem resposta, com golos de Beatriz Barbosa e Cristiana Vieira.
Por fim, o Racing Power FC impôs o resultado mais dilatado desta primeira eliminatória, ao vencer o Vilaverdente, por 7-1. O clube recém-promovido à Liga Feminina fechou a primeira parte a vencer por quatro golos sem resposta e na segunda aumentou a vantagem para mais três golos.
Refira-se que a segunda mão disputa-se a 10 de setembro. Marítimo e Torreense jogam às 11:00 e os restantes jogos jogam-se às 15:00.