Rita Dias: "Famalicão tem um projeto muito inteligente"
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"Nunca pensei que fosse chegar tão rápido à Liga"
- Como é que o futebol aparece na sua vida?
- Joguei futebol desde sempre, já está no sangue. Os meus pais jogaram ambos, então acho que foi algo natural. Desde pequena, jogava com os meus irmãos e com amigos na rua e na escola. Quando tive idade para ir para uma equipa feminina, lá fui.
- Quando surge esse primeiro contacto com o futebol federado?
- Tinha 12-13 anos, joguei numa equipa da minha zona. Chatearam muito a minha mãe para que eu pudesse jogar, e foi na ADC Sosense. Era só mesmo para me divertir e jogar. Foram bons tempos.
- Como recorda esses tempos?
- Eram tempos muito divertidos, porque não via o futebol como vejo agora, de forma mais profissional. Era uma criança e só queria correr atrás da bola, chutar, fintar… Era isso que me dava felicidade. Gostava de ir treinar e de ir aos jogos. Naquela fase, não pensamos no que o futebol nos pode dar no futuro; aproveitamos para estar com as amigas e desfrutar mesmo do futebol.
- E quando percebe que dava para um bocadinho mais?
- A minha irmã (Ana Dias) entrou no futebol e começou a jogar na Liga e na Seleção, e eu comecei a pensar: 'também quero chegar à Liga e ir à Seleção'. Passados dois anos a jogar futebol de 7, comecei a ambicionar mais e a focar-me muito nisso. Depois, integrei a equipa sénior do Ferreirense, e foi a partir desse momento que comecei a evoluir.
- Chegas muito nova à Liga...
- Com 15-16 anos, foi realmente um sonho. Nunca pensei que fosse chegar tão rápido. Acho que ainda não estava verdadeiramente consciente do espaço onde estava, mas tive muito apoio das minhas colegas, e isso fez toda a diferença. Nessa idade, não temos bem noção do que jogamos e de que forma podemos ajudar a equipa.
- Agora, aos 22 anos, a Rita contabiliza sete épocas e mais de 100 jogos na Liga. O que isso lhe diz?
- São muitos anos. Acho que foi tudo de forma natural, e continua a ser um sonho. Tento dar o meu melhor. Como atletas, temos altos e baixos, mas retiro muitas coisas positivas. Foram anos de muita evolução, tanto a nível pessoal como profissional. Agora, sonho e luto por mais.
"Esta última vitória foi um despertar para nós"
- O Famalicão aparece na sua vida a meio da época passada. Como surgiu essa possibilidade?
- Estava no Valadares quando surgiu a oportunidade. Acho que foi uma boa decisão para mim. Não era sempre opção no Valadares e procurava outras coisas naquele momento. Vi no Famalicão uma grande oportunidade para dar um passo importante, e não podia estar mais feliz.
- Para quem não conhece, que projeto está a ser criado em Famalicão?
- É um projeto que aposta nitidamente na formação. Temos jovens jogadoras muito talentosas, e o objetivo é desenvolvê-las. É um projeto muito inteligente e ambicioso, porque elas são o nosso futuro. É uma boa visão.
- Esta vitória sobre o Vilaverdense (7-1) acaba por ser muito importante, não é verdade?
- Era um jogo que sabíamos que era bastante importante, era ganhar ou ganhar. Entrámos com isso em mente e acho que deu para ver no jogo que demos tudo. Era importante a nível anímico, e esta vitória foi super importante para o grupo, além de ser um sinal positivo para nós. Foi um despertar, uma vitória mais do que justa, num jogo de sentido único. Também foi importante para os objetivos do clube.
- Quais são esses os objetivos?
- Os objetivos passam pela manutenção e por realçar a qualidade da formação do clube.
- Um golo e duas assistências para si nesse jogo. Importante?
- É sempre importante, mas não o mais importante. Não consigo nada sozinha. Tenho um grupo de colegas incrível, acho que tudo surgiu de forma natural, e só lhes posso agradecer. Ajudamo-nos muito. Fico muito contente, claro.
- Entramos agora num período de pausa competitiva. Como estão a olhar para ela?
- A paragem é importante também, pois podemos trabalhar em coisas que não estão tão bem, e isso é fundamental. Vamos ter jogos muito importantes, portanto, isto é perfeito para trabalhar e estudar os nossos adversários.
- O que podemos esperar então ainda do Famalicão?
- Temos um grupo extremamente unido e ambicioso, que dará sempre o melhor em todos os jogos. Acho que estamos a trabalhar muito bem com a nossa equipa técnica e os resultados vão acabar por surgir.
"É um orgulho ver os estádios cheios pelo feminino"
- Qual a análise que faz da Liga BPI?
- Nitidamente, uma liga que está em grande desenvolvimento. Acho que esta época é a mais competitiva de sempre e a tendência será cada vez mais essa. Equipas muito fortes, jogos com resultados incertos, com exceções, claro. A visibilidade é maior para os outros países e muitas jogadoras estrangeiras ambicionam vir para Portugal.
- Como tem visto a evolução do feminino no geral?
- Evolução gritante. Lembro-me de estar com 15-16 anos e termos 15 pessoas a ver o nosso jogo. Melhoraram muito as condições. Daqui a 6-7 anos, espero que continue assim e é muito gratificante. É um orgulho ver os estádios cheios pelo feminino. Também há qualidade no feminino, sem tirar mérito ao masculino, e acho que as pessoas deviam apostar mais e ver jogos no feminino, porque não se vão arrepender.
- O que esperaa que esta época lhe dê do ponto de vista mais individual?
- O que eu pretendo é sempre conseguir mostrar o meu futebol, ajudar o clube que represento, neste momento o Famalicão, que é um grande clube. Por isso, quero ajudar o projeto do Famalicão e o seu futuro, não sei. Claro que ambiciono mais e chegar a um patamar mais alto, e se conseguir, serei ainda mais feliz.
- Algum peso por vestir a camisola 10?
- Sempre gostei do número 10. Lembro-me de receber sempre uma camisola com o número 10. Surgiu a possibilidade e aceitei.
"O meu sonho é jogar com a minha irmã Ana"
- Sei que a Rita tem uma grande referência em casa. A sua irmã Ana Dias, atualmente ao serviço dos mexicanos do Tigres. Como é a vossa relação?
- É muito boa. Falamos todos os dias, partilhamos momentos, futebol e vida. Tenho essa cumplicidade com ela. É o meu exemplo máximo, é o reflexo do trabalho, esforço e dedicação. Sempre vi de perto tudo o que conquistou e o seu esforço. Será sempre a minha referência.
- Ela está na final do campeonato mexicano e está novamente nas eleitas do selecionador Francisco Neto...
- É um orgulho enorme tudo o que ela conquista. É surreal tudo o que ela faz, tudo motivo de admiração. Teve a oportunidade de ir para o México e está a correr muito bem, é um nome já sonante no nosso futebol, uma das melhores para mim, e é um orgulho vê-la de novo na Seleção. Mérito por todo o esforço e trabalho que tem desenvolvido.
- Gostava de jogar com ela?
- É um sonho. O meu maior sonho é jogar com ela, na seleção e/ou no clube.
- Falam muito sobre isso?
- Sim, sim, é um sonho partilhado pelas duas. Neste momento, estamos em fases diferentes, mas vou trabalhar para que isso aconteça.
- Acredita que encaixavam bem na mesma equipa?
- Eu acho que sim. Ela é mais explosiva e forte fisicamente, eu com mais qualidade de passe, para a meter a fazer golos.
"O futebol sempre foi um refúgio para mim"
- Quais os conselhos que costuma dar às mais jovens?
- Nunca deixem de ser elas próprias, de se divertirem com responsabilidade. Se formos fiéis ao nosso futebol, sem pressão, é um grande passo para conseguirmos mostrar o que conseguimos fazer. O trabalho leva a grandes conquistas e recompensas.
- A Rita pensa muito no futuro?
- Já pensei mais sobre isso. Atualmente, vivo muito o presente. Gosto de estar focada no presente, ambiciono estar muito longe, em outras ligas talvez, mas o meu foco total está no presente.
- Seleção é um dos objetivos?
- Não sou diferente. Acho que o sonho de qualquer uma é representar o país. É o máximo no futebol.
- O que o futebol significa para si?
- Significa muito! Já abdiquei de muito por causa do futebol. Tem um peso muito grande, mesmo muito grande na minha vida. Futebol, família, futebol, família... e estudos também. O futebol sempre foi um refúgio para mim. É o meu passatempo favorito.
- Tocou aí na questão dos estudos...
- Estou a tirar a licenciatura em Geologia na Universidade de Aveiro. Não é fácil, mas tento conciliar ao máximo os dois mundos.