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Telma Pereira: "O Marítimo tem uma equipa muito humilde, mas ambiciosa"

Rodrigo Coimbra
Telma Pereira em destaque no Marítimo
Telma Pereira em destaque no MarítimoCs Marítimo
O Flash Feminino é a nova rubrica quinzenal do Flashscore, dedicada a destacar as principais protagonistas da Liga Feminina. Neste espaço, traremos entrevistas exclusivas com as jogadoras que brilham nos relvados nacionais. A nossa sétima convidada é Telma Pereira, jogadora do Marítimo.

Acompanhe o Marítimo no Flashscore 

De campeã olímpica no futsal ao futebol: "Senti que era o momento"

- Como o desporto aparece na sua vida?

- O meu pai foi jogador profissional de futebol, por isso todos os domingos ia com a minha mãe ver os jogos, e em casa o futebol também estava por todo o lado. Posso dizer que o desporto nasceu um pouco comigo.

Telma Pereira deixou o futsal pelo amor ao futebol
Telma Pereira deixou o futsal pelo amor ao futebolCS Marítimo/Opta by Stats Perform

- Mas começa pelo futsal. Porquê?

- Sempre preferi o futebol ao futsal. Eu jogava futebol com os rapazes, mas a certa altura tive de deixar de jogar com eles. Sou de Fafe e, perto de minha casa, existe o Nun'Álvares, que está na primeira divisão a lutar pelo título, uma equipa que sempre apostou no futsal e esteve em grandes palcos. Na altura, o futebol feminino ainda não estava no patamar de hoje; não existiam tantas equipas como há agora, principalmente perto de onde morava. Acabei por ir para o futsal feminino com 13 anos, e foi aí que nasceu o meu amor pelo futsal. As coisas correram bem: fui à seleção distrital de Braga, fui à seleção nacional, onde fui capitã, e conquistámos os Jogos Olímpicos da Juventude. Esqueci um pouco o futebol nessa fase, até que ele começou a crescer.

- As coisas estavam a correr bem, com presença regular da Telma nas seleções jovens, tendo sido capitã nos tais Jogos Olímpicos da Juventude, e ao fim de seis anos decidi despedir-se do futsal. Como explica essa decisão?

- Foi a decisão que tomei. O futebol feminino começou a crescer muito em Portugal; foi a primeira vez que a seleção feminina foi ao Europeu e começou a aparecer na TV. Acompanhei esse Euro (2017) com o meu pai e foi aí que percebi que o futebol estava a evoluir muito. Surgiram o Benfica, o SC Braga, o Sporting, e as jogadoras começaram a tornar-se profissionais - algo que, no futsal, é quase impensável… Fiquei com esse bichinho na cabeça; tinha 19 anos e queria muito experimentar para ver se conseguia chegar ao patamar de profissional. Era conhecida no futsal, mas no futebol não era… E senti que aquele era o momento.

- As pessoas foram apanhadas desprevenidas?

- Quem era mais próximo sabia que eu sempre preferi o futebol ao futsal como desporto, mas, obviamente, quem me acompanhava no futsal não estava à espera. Foi um choque. Recebi muitas mensagens e chamadas a dizer para não o fazer e que me ia arrepender, mas sei que sempre tive as pessoas certas ao meu lado. Disseram-me sempre que, se me arrependesse, podia voltar, que estariam lá para mim. Tinha esse conforto e essa segurança. Já passaram quatro anos, e todos os anos recebo mensagens de alguém a perguntar se quero voltar ao futsal…

Telma Pereira foi campeã olímpica no futsal
Telma Pereira foi campeã olímpica no futsalFPF

- E nunca pensou em voltar?

- Nunca. Por mais que as coisas nem sempre corram bem, nunca me cansei de evoluir, jogar e continuar nesta vida que o futebol me está a proporcionar - algo que no futsal não conseguiria alcançar.

- Pode parecer muito parecido, mas existem muitas diferenças entre futsal e futebol. Correu bem a mudança?

- Foi muito difícil adaptar-me no início. No futsal, é preciso ter muita intensidade em pouco tempo. Ou seja, consigo dar toda a minha intensidade em cinco minutos e depois sair para respirar um bocadinho. No futebol, se dou toda a minha intensidade nos primeiros cinco minutos, morro para o resto do jogo e ainda faltam 85'. No início, eu dava tudo; era a intensidade que tinha e pensava que não conseguia mais. Acho que o mais difícil foi adaptar-me fisicamente. A nível tático, não custou muito, até acho que o futsal é mais complicado nesse aspeto. No futsal, tens de pensar mais rápido. Tive de aprender a gerir os momentos e a intensidade para conseguir aguentar os 90 minutos.

Telma Pereira cumpre segunda época no Marítimo
Telma Pereira cumpre segunda época no MarítimoCS Marítimo

"Fiquei sem o futebol durante tanto tempo que comecei a dar mais valor aos pormenores"

- Entra pela porta do Gil Vicente e passa para o Famalicão, onde a estrelinha foi consigo e conquistou uma Taça de Portugal. Como recorda esses primeiros tempos?

- Comecei no Gil Vicente, fiz uma época e meia lá, e a meio da segunda época fui para o Famalicão. Passei de jogadora amadora a jogadora profissional, o que foi completamente diferente. O ritmo de jogo e de treino era muito mais intenso, e no início custou-me adaptar, mas eles sempre perceberam que eu podia acrescentar algo. Fiz lá uma época e meia. Na primeira meia época, fomos à final da Taça, e na segunda época fomos novamente à final e ganhámos ao SC Braga. A estrelinha acompanhou-me, e fui a duas finais em três anos de futebol. Fico muito contente. Ninguém acreditava que eu iria conseguir, e, de repente, era jogadora profissional e tinha duas finais da Taça. Por isso, nunca pensei em voltar ao futsal para fugir do futebol. O caminho que percorri foi perfeito.

- Seguiu-se a mudança para a ilha da Madeira... 

- Foi tudo muito rápido. Recebi uma proposta do Marítimo e disseram-me que tinha uma semana para decidir. Eu, sendo menina dos papás e nunca tendo saído de casa, decidir abandonar tudo e vir para a ilha em uma semana foi completamente complicado. Mas a verdade é que era uma excelente proposta, um excelente projeto. Os meus pais apoiaram-me sempre, e foi por eles que tomei a melhor decisão. Foi uma semana complicada, sem conseguir despedir-me de toda a gente. Mas foi a melhor coisa que fiz, e na altura fiquei muito feliz por ter vindo para cá. Receberam-me muito bem, e hoje estou muito feliz.

Tabela classificativa da Liga
Tabela classificativa da LigaFlashscore

- Nesse processo acaba por sofrer uma lesão que a deixa afastada dos relvados durante 10 meses e 18 dias. Difícil?

- Esta lesão é muito complicada para qualquer atleta. Por mais que tenhas uma excelente recuperação, não consegues fugir aos nove meses de paragem. Nunca tinha tido uma lesão grave, nunca tinha parado mais do que um mês, e passar por isso longe de casa custou muito, porque precisamos dos nossos nesses momentos, nem que seja para tentar esquecer aquilo que estamos a passar. Mas, felizmente, estou num clube onde me deram todo o suporte, ajudaram-me muito e permitiram que fizesse grande parte da recuperação perto de casa. Isso foi importante a nível mental. Quando estás bem mentalmente, as coisas acabam por correr bem.

Nunca estamos à espera de uma lesão dessas, ainda para mais quando embarcamos num projeto longe de casa, e passados três meses temos de parar e sabemos que não vamos jogar mais (nessa época). Fica-se a pensar: porquê eu? Na altura, com a ambição de chegar à seleção sub-23, foi complicado. É como se nos cortassem as pernas. Mas agora, está tudo a correr bem.

- Sente que está "mais forte do que nunca" como anunciou no seu regresso?

- Sinto-me mais forte do que nunca. Não porque esteja mais forte fisicamente, mas a nível mental. Passei por tanta coisa, que nem conseguia ver futebol porque ficava triste. Quando passas por algo assim, aprendes a dar mais valor às coisas. Sinto que foi isso que me aconteceu. Fiquei sem o futebol durante tanto tempo que comecei a dar muito mais valor a cada pormenor. Venho com mais vontade, a valorizar mais as coisas, como a alimentação, o reforço muscular e tantas outras coisas.

Telma elogia equipa do Marítimo
Telma elogia equipa do MarítimoCS Marítimo

"Conseguimos fazer melhor do que na época passada"

- Falemos sobre a equipa do Marítimo. Para quem só acompanha ao fim de semana e não sabe como são as dinâmicas, que equipa é esta?

- Acho que o Marítimo tem uma equipa muito humilde, mas ambiciosa. Sabemos o que temos e o que somos, e conseguimos perceber que, com aquilo que temos, se formos humildes e dermos o nosso máximo, vamos conseguir chegar a um nível que ninguém espera. Acredito muito que, no início, na cabeça das pessoas o Marítimo não estava nas melhores condições para fazer uma época como a do ano passado, mas, sinceramente, por causa disso também, temos perfeita noção de que conseguimos fazer melhor do que na época passada. É isso que queremos.

Na época passada, principalmente na primeira fase, fomos a equipa que mais surpreendeu, e este ano queremos voltar a surpreender. Sabemos da nossa qualidade, somos humildes e queremos que nos respeitem. Acho que tem acontecido isso. Acho que os resultados são reflexo da nossa humildade, trabalho e respeito. Somos uma equipa que veio para surpreender.

- Os próximos jogos são contra Famalicão (Liga), SC Braga (Liga), FC Porto (Taça de Portugal) e Benfica (Taça da Liga), um ciclo com adversários exigentes em várias competições. Preparadas?

- A verdade é que estamos a olhar jogo a jogo. Neste momento, não existem jogos a meio da semana, temos tempo para preparar cada jogo de semana a semana. O próximo é contra o Famalicão, e o objetivo da equipa é a vitória, logo depois temos o SC Braga aqui em casa. A verdade é que ainda ninguém conseguiu ganhar na nossa casa, e qualquer equipa que venha à Madeira vem com respeito. Vamos estar aqui para defender a nossa casa e vamos encarar os jogos para fazer o melhor resultado possível para nós. E o melhor resultado é a vitória. Mas temos de ter os pés bem assentes na terra. (...) Não gosto de favoritismos; dentro de campo são 11 para 11. 

- Qual é a sua análise à presente edição da Liga?

- Sinceramente, acho que este ano vai ser muito mais equilibrado, até porque o campeonato vai exigir isso. Descem 3 equipas diretamente, ninguém quer descer, e todas vão lutar por todos os pontos. Além disso, temos a questão das três equipas na Champions – uma direta e duas no play-off. Toda a gente quer estar no topo e fugir daqueles três lugares de despromoção. No fundo, ninguém quer perder pontos, as equipas estão mais equilibradas e há um maior investimento em todas as equipas. Só por aí, o campeonato fica mais equilibrado e competitivo.

- O que seria uma boa época para o Marítimo?

- O primeiro objetivo é, obviamente, a manutenção. A partir daí, é sonhar. Neste momento, estamos em 5.º lugar, temos um calendário que nos pode levar mais acima e sabemos que todas as equipas vão perder pontos, algumas com adversários que menos imaginam. Temos de olhar só para nós, fazer os nossos pontos e, no final, fazemos as contas. Depois da manutenção, o objetivo é continuar a subir, subir, subir, e vamos ver onde vamos parar.

Telma Pereira tem um objetivo bem claro
Telma Pereira tem um objetivo bem claroCS Marítimo

"Seleção é um sonho e um objetivo"

- A Telma fez recentemente 24 anos. Como olha para o futuro?

- Costumo dizer que gosto de viver uma época de cada vez. O futebol é o momento. Tens jogadores que ninguém conhece e que dão um salto enorme após uma época. Vivo uma época de cada vez e, no final, vou ver o que consegui. Obviamente que tenho sonhos, como qualquer uma, mas só penso em fazer uma excelente época no Marítimo e, no final, logo vejo. Gosto de me focar no que estou a viver agora, sobretudo depois da lesão que tive. No ano passado, vinha cheia de sonhos e ambições e, do nada, tudo acabou. Portanto, só penso em fazer o que gosto, nas condições que tenho, ser feliz e aproveitar ao máximo. Se correr bem, no fim vou decidir o melhor para mim.

- O que gostava que dissessem sobre a Telma e sobre o Marítimo no final da temporada?

- Quero que digam que fomos uma surpresa. Que digam que não esperavam este Marítimo, que fez uma época espetacular e superou as expectativas. A nível individual, espero que me vejam como uma peça essencial nesse Marítimo surpreendente.

Os próximos jogos do Marítimo
Os próximos jogos do MarítimoFlashscore

- Mestre em Engenharia e Gestão Industrial pela Universidade do Minho, internacional portuguesa durante a sua passagem pelo futsal e profissional de futebol no Marítimo. Que conselho tem para as mais novas que sonham com muito do que já conquistou?

- O primeiro conselho que dou é não olhar para o futebol como o único futuro. É muito possível conciliar (com os estudos). Outro é: tens de definir as tuas prioridades, se calhar não consegues levar a vida que os teus colegas da faculdade levam, mas se realmente queres isso, tens de fazer por isso. O que aconselho é continuar a jogar, treinar, gostar do futebol, jogar por diversão e continuar nos estudos, percebendo que, no fim do futebol, há outro caminho muito grande a percorrer, que vai definir a qualidade de vida que vamos ter depois do futebol. É muito importante pensar no futuro.

- E nesse futuro, no caso o futuro da Telma, conseguimos ver a Seleção de futebol?

- É um sonho e um objetivo. Já tive essa oportunidade no futsal, sei o que é bom e o reconhecimento que vem com isso. É um objetivo que tenho neste momento.

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