Análise tática à meia-final da Champions: Como o meio-campo ajudou o Real a vencer o Bayern
Embora este jogo tenha tido uma combinação de brilhantismo individual (o golo de Alphonso Davies para o Bayern), erros defensivos (o erro de Manuel Neuer depois de ter feito um jogo fenomenal) e a controvérsia com o VAR nos últimos minutos, vamos analisar o lado tático deste jogo e o que o Real Madrid fez para dar a si próprio uma oportunidade de conquistar o seu 15.º título da Liga dos Campeões.
Sobrecarga no meio-campo
Esta primeira imagem mostra como o Real Madrid se posicionou, teoricamente, neste 4-1-2-1-2 em losango.
No entanto, há quem veja isto como um 4-4-2, e foi assim que o Madrid jogou sem a bola, pressionando num 4-4-2 com Bellingham como médio esquerdo e Fede Valverde como médio direito.
Até se podia ver Toni Kroos e Aurelien Tchouameni a pressionar Konrad Laimer e Aleksandar Pavlovic no topo do campo para os manter de costas para a baliza, o que fazia com que algum entre Valverde ou Bellingham descesse um pouco mais e limitasse o espaço atrás do pivô do meio-campo no momento de pressão.
Mas é a abordagem do Madrid com a posse de bola que atrai tantos olhares, e a filosofia de Carlo Anceloti centrada no relacionismo.
Nesta imagem, podemos ver as posições médias da equipa do Real Madrid antes das substituições, e o que começamos a ver é a formação de um quase 3-5-2, com Kroos (um jogador pivô) a entrar na lateral esquerda para ter bola, Bellingham e Valverde a descerem para o lado de Tchouameni para fazer um meio-campo a três, e os dois laterais a manterem frequentemente a largura.
Isto era visível nas primeiras fases de construção, formando um 3-3 (composto pelos dois defesas centrais e quatro médios centro, enquanto os laterais davam largura), dando ao Real essa sobrecarga profunda em zonas centrais para movimentar a bola com passes a um toque e progredir o jogo como uma unidade até ao meio-campo adversário.
Uma vez na frente, os dois avançados (Vinicius Junior e Rodrygo) tinham licença para ligar, para se movimentarem na frente e para receberem a bola em espaços. Bellingham entrava a partir do meio-campo, fazendo diagonais ou ligando o jogo com os avançados, formando um triângulo ofensivo.
O método era claramente ter uma base forte, permitir que jogadores como Kroos tivessem a bola e influenciassem o jogo, mas também encontrar homens-chave no terço ofensivo e dar-lhes a oportunidade de se expressarem e fazerem as coisas acontecerem.
Foi o que aconteceu com as 12 tentativas de drible de Vini, que completou sete delas, e com as quatro tentativas de Rodrygo, que completou duas delas. Vinicius estava a causar muitos problemas ao Bayern por aquele lado esquerdo, ao sair para receber a bola e partir para cima de Joshua Kimmich. Por isso, o Madrid passou a procurar Vini nessas zonas e a deixá-lo atacar o lateral em todas as oportunidades.
E foi mesmo de um remate desviado de Vini que surgiu o golo do empate, por Joselu, que seguiu o lance e reagiu primeiro ao ressalto.
O outro padrão que vale a pena mencionar, e que alude ainda mais à abordagem relacionista de Ancelotti, é a fluidez entre Valverde e Dani Carvajal na construção.
Houve uma série de ocasiões em que Valverde caía para a linhar para dar linha de passe, e isso determinava o movimento de Carvajal, que não tinha medo de jogar como extremo ou até de ir mais para zonas interiores para dar opções de passe.
Estas movimentações de intercâmbio são familiares no onze do Real Madrid, com Vini e Rodrygo a aparecerem por todo o lado para receberem em espaço, Bellingham a ter muita liberdade para entrar na área ou jogar como falso avançado, e até Tchouameni (essencialmente o número 6) a vaguear por zonas mortas para preencher espaços durante a construção.
Conclusão
Para concluir este jogo, e resumindo o Real Madrid como um todo, a sua estrutura base apresenta-se como preenchimento de zonas e garantir superioridade numérica para opções de passe em fase de construção.
No entanto, depois disso, a liberdade individual para interpretar o jogo e deixar a sua marca acontece graças à criatividade e à química entre jogadores. Ancelotti incentiva os seus jogadores a expressarem-se, a ajudarem-se mutuamente criando opções de passe, cabendo-lhes a responsabilidade de se movimentarem em conjunto para cobrir as zonas do campo.
Também é importante dar os parabéns a Joselu na conclusão deste jogo. O avançado de 34 anos jogou nove minutos vindo do banco, fez dois remates, marcou em ambos e escreveu o seu nome na história do Real Madrid (ainda mais se o clube vencer a competição a 1 de junho).