Congresso da UEFA sob pressão em Paris esta quinta-feira
O conclave do órgão máximo da UEFA poderia ter encenado a unidade da grande família do futebol europeu, depois do revés sofrido às mãos do Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (TJUE), que considerou que a UEFA tinha abusado da sua "posição dominante" para tentar abafar qualquer iniciativa de secessão e a criação de uma competição separada da Liga dos Campeões.
No entanto, será num clima de crise que as 55 federações filiadas se reunirão no centro de conferências Maison de La Mutualité, na capital francesa.
A demissão de Zvonimir Boban do seu cargo de diretor do futebol, a 25 de janeiro, expôs uma clivagem no seio do organismo, causada pelas manobras de Ceferin.
O sucessor de Michel Platini, eleito em setembro de 2016, na sequência da demissão do francês, e reeleito em 2023 para o que seria o seu terceiro e último mandato de quatro anos, vai submeter a votação uma alteração que lhe oferece a possibilidade de se recandidatar em 2027.
Um casus belli para Boban. O antigo médio croata, semifinalista do Campeonato do Mundo de 1998, manifestou a sua "grande preocupação e total desaprovação" face à vaga vontade do presidente esloveno de se manter no poder além de 12 anos, afirmando que abandonava a UEFA em nome de "princípios e valores em que acredita profundamente".
Vozes discordantes?
Tecnicamente, o texto não elimina o limite de três mandatos, uma das principais medidas tomadas em abril de 2017 por Ceferin, após a cascata de escândalos de corrupção que levaram a restrições semelhantes na FIFA e no Comité Olímpico Internacional (COI).
Mas especifica que esta regra, válida para todos os membros do comité executivo, não tem em conta os mandatos "iniciados antes de 1 de julho de 2017", o que é o caso do primeiro mandato do esloveno. A única justificação dada é o "princípio jurídico da não retroatividade".
O líder da confederação europeia não conta ficar por aqui, já que o mesmo conjunto de propostas inclui a revogação do limite de idade de 70 anos para ser eleito ou reeleito para o comité executivo.
Esta medida rompe com outro dos seus compromissos-farol de 2017 e segue as pisadas da FIFA, onde Gianni Infantino viu aprovada uma disposição semelhante, excluindo o período 2016-2019, em que foi eleito para liderar o futebol mundial após a demissão de Sepp Blatter, do cálculo de três mandatos.
Da parte da UEFA, não há preocupações quanto ao resultado da votação, embora a reforma tenha de obter dois terços dos votos para ser adoptada.
Mas o congresso poderá servir de plataforma para algumas vozes discordantes, longe do apoio unânime desejado pelo presidente, algo que enfraquecerá a posição de Ceferin, pelo menos aos olhos do seu "melhor inimigo" Infantino e pouco antes de dois eventos importantes: o Euro-2024 na Alemanha (14 de junho a 14 de julho) e o lançamento na próxima época do novo formato da Liga dos Campeões, concebido como escudo contra uma eventual Superliga.