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Entrevista Flashscore a Guilherme: "Golo contra o Sporting foi talvez o mais importante da minha carreira"

Guilherme Bianchini
Guilherme atuou pelo Legia Varsóvia contra o Real Madrid em 2016
Guilherme atuou pelo Legia Varsóvia contra o Real Madrid em 2016AFP
Natural de Três Rios-RJ, o médio Guilherme (32 anos) só atuou no Brasil durante uma temporada, pelo Goiás, em 2023. Mesmo com propostas para ficar no país, preferiu voltar ao futebol chinês, para o Changchun Yatai. Num dos seus pontos altos na carreira, pelos polacos do Legia Varsóvia, chegou a enfrentar o Real Madrid de Cristiano Ronaldo na Liga dos Campeões — mas foi outro craque que o impressionou mais.

Em conversa exclusiva com o Flashscore, Guilherme passou em revista as principais aventuras da sua carreira. Após o início em Portugal e o brilho na Polónia, o médio atuou pelo Benevento, de Itália. Apesar da curta passagem, o brasileiro tem ótimas lembranças do período no calcio, sobretudo pelo trabalho com o técnico Roberto De Zerbi, hoje sensação na Europa, apontado como o melhor de sua carreira.

Guilherme em ação pelo Legia contra o Real Madrid em 2016
Guilherme em ação pelo Legia contra o Real Madrid em 2016AFP

Carinho pelo Legia Varsóvia

Guilherme viveu um dos seus pontos altos no Legia Varsóvia, da Polónia, clube onde atuou por mais tempo — quatro anos, 150 jogos, 21 golos e 23 assistências. Também foi lá que o médio teve o seu período mais vitorioso, com quatro títulos da Liga Polaca e três da Taça da Polónia. Ele chegou a receber sondagens para defender a seleção do país.

"A minha passagem na Polónia foi muito bacana, tenho um amor por aquele clube muito gigante. O Legia faz parte da minha carreira e da minha vida de uma maneira diferente dos outros clubes porque me identifiquei muito com os adeptos, com a paixão deles", explica.

Jogo épico contra Real Madrid de CR7

Com Guilherme entre os destaques, o Legia voltou à fase de grupos da Liga dos Campeões após 21 anos, em 2016/17. O sorteio colocou os polacos no grupo do Real Madrid de Cristiano Ronaldo, Benzema, Kroos e companhia, que era o atual campeão e viria a conquistar o tri. Depois de perder 1-5 em Espanha, o conjunto de Varsóvia recebeu os merengues sem grandes expectativas, mas surpreendeu e empatou 3-3.

"Esse é o jogo mais marcante da minha carreira. Foi espetacular. Por punição da UEFA, estávamos sem os nossos adeptos. Mas foi fantástico, estávamos a vencer o Real até aos minutos finais, eles empataram. No jogo em Madrid eu tive uma conversa bem bacana com o Marcelo, trocamos até camisola. O Marcelo é um cara de uma humildade gigantesca. Já no jogo da segunda mão nós entrámos leves para jogar, sem responsabilidade", recorda Guilherme.

Guilherme trocou de camisola com Marcelo após o jogo no Santiago Bernabéu
Guilherme trocou de camisola com Marcelo após o jogo no Santiago BernabéuProfimedia

"Nós sabíamos que a equipa deles era melhor, que era uma grande equipa. E nós surpreendemos. Eles entraram um pouquinho... não desmerecendo, mas um pouco relaxados. E no final ainda me lembro que eles saíram meio nervosos porque não estavam à espera de um empate, e perdendo até aos minutos finais. O nível daquele Real era realmente assustador. O ritmo e a dinâmica que imprimiam era algo muito difícil de parar".

As notas de Legia e Real no duelo da Champions em 2016/17
As notas de Legia e Real no duelo da Champions em 2016/17Flashscore

Questionado sobre o melhor jogador que enfrentou, o brasileiro foge do óbvio. "Muitos pensam Cristiano Ronaldo, mas é o Bale. Nos jogos que joguei contra, foi quem mais me surpreendeu. Ele tinha tudo: força, velocidade, marcava, atacava", diz Guilherme.

Golo decisivo na Champions

O grupo do Legia também contava com Borussia Dortmund e Sporting. Contra os alemães, os polacos sofreram duas goleadas: 0-6 em casa e um inusitado 8-4 fora, o jogo com mais golos na era moderna da Champions. Na última ronda, a equipa de Guilherme recebeu o Sporting em confronto direto por vaga na Liga Europa. E deu Legia, por 1-0, com gol do próprio Guilherme.

"Foi um golo marcante para mim e para a história do clube, uma sensação inexplicável. Essa Champions vai ficar para sempre na minha memória e na dos adeptos", resume o brasileiro, que viveu uma história curiosa com sua família no duelo.

"Foi engraçado porque os meus irmãos tinham passagens compradas para ir ver o jogo do Real Madrid, e de repente, uma semana antes, saiu a notícia de que seria à porta fechada. Bateu aquela tristeza. A minha esposa disse: 'Troca a passagem e marca para o jogo contra o Sporting, vai ser o último. Não tem graça eles viajarem até aqui e o jogo ser fechado'. E nós mudamos o bilhete deles", conta.

Fugidinha para tratar lesão

"Eu estava com uma dor tremenda no adutor. Três, quatro dias. Estava a ir para outra cidade tratar, escondido do clube, porque o médico queria um tratamento e eu queria outro. Eu estava a fazer duas horas e meia de carro, voltava, tratava para esse jogo. E no final fui coroado com a presença deles (irmãos), e fazer um golo tão marcante para a história do clube foi muito importante para mim, talvez o mais importante da minha carreira".

De Zerbi, o melhor treinador

No fim do contrato com o Legia, em dezembro de 2017, Guilherme recebeu um convite do técnico Roberto De Zerbi para atuar no Benevento, da Itália. Mesmo com a equipa como lanterna-vermelha da Serie A, destinado à despromoção, o brasileiro aceitou a proposta para sua única experiência numa das grandes ligas da Europa. Apesar da queda e de uma lesão no seu melhor momento, as memórias são positivas.

"Adorei jogar em Itália, queria ter continuado. Tive um pouco de azar porque sofri uma lesão grave no joelho, mas não me arrependo de nada. O meu contrato terminava com o Legia, e recebi uma ligação do De Zerbi, que hoje está no Brighton. Foi o melhor treinador que tive na carreira", afirma Guilherme. 

De Zerbi marcou a carreira de Guilherme no Benevento
De Zerbi marcou a carreira de Guilherme no BeneventoProfimedia

"O Benevento tinha só um ponto no campeonato, as pessoas na Polónia chamavam-me de louco. 'Como você vai trocar o campeão, uma história linda aqui no clube, por um que já está praticamente despromovido'. Mas eu já tinha o desejo de trabalhar com o De Zerbi, e ele ligou-me com uma convicção tão grande, falando como a equipa iria jogar, quem ele iria trazer para me ajudar. Eu queria testar-me nesse nível, independentemente se o clube cairia ou não. E foi maravilhoso".

Após a despromoção com o Benevento, De Zerbi assumiu o Sassuolo — e quis levar Guilherme com ele. O brasileiro conta que chegou a ter todos os papéis encaminhados para a transferência, mas o negócio não se concretizou. O médio acabou por seguir para o Yeni Malatyaspor, o primeiro de seus três clubes na Turquia.

"A minha passagem por Itália marcou-me bastante porque trabalhei com um treinador que mudou a minha visão do jogo, a minha perspetiva. Até hoje ninguém conseguiu ensinar-me tanto como o De Zerbi me ensinou em tão pouco tempo. Ele é um fanático pelo jogo e pelo alto rendimento, então tenta extrair ao máximo tudo aquilo de qualidade que você tem", diz.

O lado humano de De Zerbi

Guilherme chegou ao Benevento quando a sua esposa estava grávida de oito meses. Antes de se mudar para uma casa, o brasileiro morou no mesmo hotel onde De Zerbi vivia. Numa de suas primeiras noites, o médio recebeu uma chamada do técnico às 23:00, pedindo que descesse até à receção.

"Desci lá, ele abraçou-me e disse: 'Eu liguei-te, eu pedi a tua contratação, e é o seguinte: sei que a tua esposa está grávida, você deve estar preocupado, mas fica tranquilo, só se preocupa em jogar futebol. Se o seu filho precisar de leite às 3:00 da manhã, eu vou levar na boca dele'. Aquilo deu-me uma força absurda. Se eu tivesse que me rasgar todo por esse cara dentro de campo eu ia rasgar”, relembra.

"O fator primordial do De Zerbi é que não importa a equipa em que ele está. Ele tem uma maneira de jogar, uma identidade, e vai fazer com que acredites que ela é possível. Era prazeroso porque a gente ia jogar contra Inter de Milão, Juventus, e tinha a posse de bola, desfrutava do jogo. Foi um cara realmente diferente de tudo que já vivenciei", explica Guilherme.

"A nossa equipa realmente tinha deficiências, e isso era visível, mas ele encorajava tanto aqueles jogadores que no final eles já estavam a fazer aquilo com maestria. O jogador de futebol, hoje, é confiança. Ele passava essa confiança com tanta convicção, e depois no jogo as coisas aconteciam, então o jogador começava a acreditar que ele realmente era capaz".

Ambiente na Turquia

A Turquia foi a última paragem de Guilherme antes da China, com passagens por Yeni Malatyaspor, Trabzonspor e Göztepe. O médio compara o fanatismo dos turcos com o dos brasileiros, mas diz que o ambiente nos estádios por lá é inigualável.

Guilherme atuou pelo Trabzonspor em 2020
Guilherme atuou pelo Trabzonspor em 2020Profimedia

"É um povo que, quando gosta de você, vai carregar-te no colo até onde você for. Em nenhum país onde joguei os adeptos vivem tanto o jogo como na Turquia. Joguei clássico contra o Fenerbahçe, e é um ambiente surreal. Meu filho de três anos não conseguia ir ao estádio porque, se eu levasse, tinha que ser com auricular no ouvido", afirma. 

"O barulho quando o Fenerbahçe pegava na bola era tão alto que podia prejudicar a audição dele. É algo que me marcou. Adeptos, ambiente de jogo... igual na Turquia nunca vi em lugar nenhum. É tudo isso que falam e mais um pouco", garante Guilherme.