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Entrevista Flashscore a Hugo Vieira: "Não se pode desassociar o rendimento desportivo do financeiro"

Coordenador da formação falou ainda sobre nomes emergentes e a saída de David Carmo
Coordenador da formação falou ainda sobre nomes emergentes e a saída de David CarmoSC Braga
Hugo Vieira é coordenador da formação do SC Braga desde 2015. De lá para cá, assistiu ao crescimento exponencial da receita do clube com as vendas do viveiro bracarense: Francisco Trincão, Bruno Jordão, Pedro Neto, Vitinha, David Carmo são alguns dos nomes que rechearam os cofres do clube que, graças ao apuramento da equipa principal para a Liga dos Campeões, vai pela primeira vez na sua história disputar a Youth League.

Em entrevista ao Flashscore, o responsável abre o livro do que está agora dentro da cidade desportiva do clube e comenta os assuntos do momento do universo bracarense: a participação na Liga dos Campeões, a estreia na Youth League, o rendimento desportivo e financeiro dos jovens talentos e as expetativas para esta temporada, além de abordar ainda o eclipse de David Carmo desde que chegou ao FC Porto.

- O que significa para o clube e a formação que coordena esta segunda fase da cidade desportiva?

- Antes de mais, obrigado pelo convite. Esta segunda fase da cidade desportiva é mais um passo que o clube dá no seu engrandecimento, vem servir, nomeadamente, o futebol profissional - equipa principal e equipa B -, serve de forma muito fort as modalidades também. Não tenho dúvidas que vai haver um crescimento enorme em todas elas. Na formação vamos usufruir da parte do alojamento dos mais jovens e de outras valências que lá teremos.

- Quem já visitou este espaço, dá para perceber que é de excelência a nível internacional. Isso pode ajudar nesta aposta de projeção do SC Braga, não só a nível nacional, mas fora de portas?

- É claramente uma projeção enorme para o SC Braga. É um projeto que neste momento - porque ainda não está finalizado e arrancou a terceira fase do mini-estádio - é uma afirmação do SC Braga, das ambições e da visão do nosso presidente de catapultar o clube para patamares ainda maiores. Esta segunda fase veio colocar-nos na vanguarda nacional, mas também internacional. Tenho oportunidade de ir conhecendo outras realidades e aquilo que o SC Braga tem hoje à disposição das pessoas que lá trabalham e dos seus atletas é do melhor que há a nível nacional e internacional.

- O SC Braga está de regresso à Liga dos Campeões, é a primeira vez com o Hugo como coordenador da formação. Acompanha o dia-a-dia destes miúdos, como é que se vive dentro da academia?

- Vive-se de uma forma entusiasta. Os miúdos estão muito contentes, até porque a ida à Champions proporciona que alguns destes miúdos possam - pela primeira vez na história do SC Braga - participar na Youth League. Estamos muito contentes, alguns miúdos - temos aqui dos 4 anos até às idades mais avançadas - nunca assistiram ao clube na Liga dos Campeões. Toda a gente neste universo está satisfeitíssima com o que foi alcançado e nunca é demais parabenizar a equipa principal e equipa técnica.

Hugo Vieira é coordenador da formação bracarense desde 2015
Hugo Vieira é coordenador da formação bracarense desde 2015Flashscore

A Youth League era um dos temas desta conversa, o facto de ser uma participação histórica. Com que jogadores e ambições o SC Braga se vai apresentar nesta competição?

- A nossa ambição é ter uma participação que seja muito positiva. Quem está no SC Braga, independentemente do escalão que represente, tem que ser alguém com uma mentalidade vencedora e forte ambição. A nossa ambição é fazer uma boa prova, é uma grande vitrine para estes jovens jogadores, é mais uma motivação, os jogadores que vão participar são, maioritariamente, os miúdos de 2005 e podemos utilizar alguns de 2004. 

Alguns que até fazem parte do plantel principal do SC Braga... Poderão ser chamados?

- Sim. Neste momento, jogadores de 2005, temos espalhados por quatro escalões: sub-19, sub-23, equipa B e equipa principal, com o Roger a fazer parte do plantel principal e pode participar nessa prova. Estamos ansiosos que comece, tenho a certeza que vamos representar o SC Braga à altura da exigência atual, em qualquer terreno e qualquer prova. Temos de estar imbuídos num espírito de missão e ambição de maneira a fazer o nosso melhor.

O ano passado no escalão de sub-23 venceram a Taça Revelação e o torneio de abertura. Ainda assim, sub-15, sub-17 e sub-19 não chegou ao pódio em nenhum destes escalões.

- Fomos campeões nacionais da segunda divisão de sub-17 com a equipa de sub-16 na época passada, com a geração de 2007, consideramos que essa é particularmente forte. Temos grandes expetativas, o ano passado fizeram uma prova muito interessante, tendo em conta que eram um ano mais novos numa competição onde estiveram presentes todas as equipas nacionais. Foi uma resposta muito boa dos miúdos que este ano são sub-17.

Então pode dizer-se que este ano podemos falar dessa equipa como aquela em que poderá haver uma expetativa maior.

- As expetativas são grandes em todos os escalões. Pelo comportamento do ano anterior, temos mais expetativas nessa equipa, mas sinceramente acredito que possamos fazer coisas giras noutros escalões. A equipa B ainda está inserida no processo formativo, em que temos as nossas ambições também, que passam pela subida de divisão. A Liga 3 é um campeonato muito competitivo, de muita exigência, equipas batidas com jogadores que já estiveram presentes na primeira e segunda divisão, mas a qualidade que apresentamos em termos individuais faz-me acreditar que podemos fazer um campeonato interessante. Os sub-23 acredito que têm uma boa oportunidade de chegar onde ainda não chegaram, que é conseguir o título nacional. Não começamos da melhor maneira, mas acredito que as coisas se vão encarreirar. Mesmo nos outros escalões, temos as nossas ambições, temos uma equipa de juniores muito competitiva, com muitos miúdos de primeiro ano. Tem sido assim nos últimos anos. Isso não nos tira a ambição, nem o sonho de lutar por alguma coisa.

Hugo Vieira quer que os jovens aproveitem a vitrine da Youth League
Hugo Vieira quer que os jovens aproveitem a vitrine da Youth LeagueSC Braga

- Com uma filosofia transversal, métodos iguais, esquemas táticos, é com essa base que o trabalho é feito?

- A metodologia e filosofia são iguais, a nível de sistemas... No início deste projeto, quando entrei na altura com o Rui Santos a coordenador técnico, decidimos naquela fase que seria importante que o sistema tático fosse transversal com uma ou outra nuance. Ao longo dos últimos anos, apercebemo-nos de algumas situações e abrimos o leque, até porque para os miúdos fazerem todo o processo formativo a jogar sempre no mesmo sistema, achamos que pode ser castrante no conhecimento e dinâmicas do jogo. Em tudo o resto, é transversal. 

Com o acompanhamento de perto por parte da equipa principal. O técnico Artur Jorge, que também já passou pela formação, tem alguma palavra a dizer?

- Há uma comunicação entre a formação e o futebol profissional. Vamos trocando impressões, mantendo o contacto. Não vou dizer que andamos de braços dados a tomar decisões, até porque a exigência a todos os níveis de trabalhar na equipa principal não deixa muito tempo e espaço para outras coisas. Há uma ligação saudável e é isso que nós queremos manter.

- No entanto, neste ano de Champions, estão apenas cinco jogadores que fizeram parte dos escalões de formação: Tiago Sá, Hornicek, Roger, Álvaro Djaló e Djibril Soumaré. É um número um pouco aquém de outros anos, é pela exigência da Champions ou da equipa principal?

- É um número que vai ao encontro do nosso projeto e ambição. É verdade que temos cinco, o (Rodrigo) Macedo esteve no plantel principal e foi empretado ao Moreirense. Nos últimos anos também têm sido vendidos jogadores da formação, isso faz parte do processo. O Roger foi um processo de reintegração no plantel principal, o Djibril passou dos sub-23 para a equipa principal, o Álvaro é o ano em que se está a afirmar, tendo já feito coisas boas na época passada, outros lá estão que irão ganhar o seu espaço. E outros que cá estão que vão lá chegar nos próximos anos, não tenho dúvidas disso. É o processo natural, a exigência de uma equipa na Champions é claramente maior. A gestão da época desportiva vai ser de uma exigência maior. Uma coisa é jogar uma vez por semana, outra é jogar na Liga Europa - onde a exigência já é tremenda -, mas a Champions é diferente. A verdade é essa e hoje o SC Braga tem jogadores no seu plantel que já passaram por esse processo. É uma mais-valia para fazer crescer os mais novos também.

- Para fechar o capítulo formação, queria recuar às vendas que o Hugo frisou: Trincão, Pedro Neto, Vitinha, David Carmo, Francisco Moura, Samu Costa, (Leonardo) Buta... Há aqui nomes na calha para serem os próximos a render algum dinheiro ao clube? Ou estarem em condições na equipa principal?

- Neste projeto, o objetivo é fazer com que o maior número de jovens chegue ao plantel principal. A partir daí, tirar rendimento desportivo e financeiro, a meu ver não se podem desassociar estas coisas. Tem corrido bem nos últimos anos, tanto a nível desportivo, como financeiro. Estamos muito felizes porque conseguimos ver que dentro desses números a cidade desportiva, a nossa formação está bem inserida nesses resultados, sentimo-nos parte do projeto que é o universo SC Braga e acreditamos que nos próximos anos apareçam outros jovens jogadores oriundos da formação a poderem dar rendimento, tanto desportivo, como financeiro.

As maiores vendas do SC Braga desde que Hugo Vieira assumiu a coordenação da formação
As maiores vendas do SC Braga desde que Hugo Vieira assumiu a coordenação da formaçãoFlashscore

- David Carmo é um jogador que se afirmou no SC Braga,teve um período complicado com uma lesão grave que o Hugo acompanhou de perto, foi transferido para o FC Porto com grande expetativa e entretanto eclipsou-se no futebol nacional. Sei que não faz parte do universo do clube, mas como vê este desenvolvimento?

- Vejo o David claramente como um central de alto nível, tem todas essas características. Foi vendido num momento de forma brutal, estava muito bem, trouxe ao de cima todas as qualidades físicas e técnicas, um pé esquerdo muito bom, a velocidade que é uma característica importante para um defesa central e por isso é que alguém pagou o que pagou por ele. Ao dia de hoje, estando ele relegado para um segundo plano no plantel do FC Porto, deixa-me um bocadinho, não vou dizer perplexo, mas surpreendido. Se formos a analisar algumas grandes contratações do FC Porto que demoraram algum tempo a adaptarem-se a essa realidade, pode ser esse o processo que está a ser feito com o David Carmo.

- Olhando para o panaroma nacional e internacional e fruto do seu conhecimento da posição de defesa central, vê aqui nomes de topo nesta posição? Alguma referência que salte à vista?

- Sempre existiram nomes de referência. Há muito bons jogadores a nível nacional nessa posição, alguns com mais experiência do que outros, uns que oferecem coisas diferentes. A nível internacional há nomes de referência, um deles é nacional, que é o Rúben Dias. Neste momento aqui no SC Braga temos uma referência, em termos de maturidade... Eu vejo o central muitas vezes como uma dupla, se bem que hoje também há trios, mas uns ajudam a fazer os outros. A vinda do José (Fonte) para o SC Braga pode, além do seu rendimento, ajudar-nos a fazer crescer o clube e os outros (defesas). Ainda agora no jogo da Champions (contra o Panathinaikos), o Seerdar (Saatçi) entrou muito bem, é um miúdo. Temos cá outros que podem chegar lá acima e podem ser referências. Nos outros clubes também os há. O António Silva é um miúdo, mas já está muito bem cotado no futebol internacional, como tal há muita qualidade nessa posição no nosso futebol.

Enquanto espetador - e não coordenador -, como olha para este arranque do campeonato? Uma luta a quatro com os suspeitos do costume?

Este arranque de campeonato, comparativamente com os últimos anos foi um pouco diferente. Já com algumas surpresas e sustos, acredito que o campeonato possa vir a ser algo mais competitivo. Há algumas equipas fora dos crónicos candidatos que poderão ter mais qualquer coisa a dizer, pelo menos a dificultar a vida aos que estão nos lugares cimeiros. A minha experiência no futebol faz com que eu olhe para o campeonato a partir da quarta ou quinta jornada. É nessa altura que fecham os mercados, os níveis físicos se vão equilibrando, porque há equipas que começam mais cedo e há uma série de coisas que, numa fase inicial, podem desnivelar. A partir daí, dá para perceber quem é quem. Tenho gostado de algumas coisas que tenho visto. Há muitas coisas no futebol que criam instabilidade, nomeadamente o mercado. Depois estabiliza-se. Há os compromissos europeus de um desgaste imenso, agosto é um mês carregadíssimo. Da nossa parte, tivemos um desaire no primeiro jogo do campeonato, mas que para mim não belisca o trabalho feito. Temos todas as condições para fazer um bom campeonato, que será difícil e desgastante com a Liga dos Campeões.

Ainda assim mantém-se a estratégia de não assumir o SC Braga como candidato ao título...

- A nossa estratégia é fazermos bem, tentarmos que o amanhã seja melhor do que o hoje e vai sendo esse o nosso lema. 

- Para fechar, voltando à condição de coordenador da formação, fala com os miúdos todos os dias. Certamente viram a agitação do mercado com o êxodo para o futebol árabe, como é que se olha para esta nova perspetiva e como olham os miúdos para ela?

- Não é uma coisa que se fale muito, principalmente com os mais novos. Se olharmos para os sub-19, sub-23 e equipa B, vão vendo essa situação como mais uma porta aberta num mercado do futebol cada vez mais global. Olham com alguma naturalidade para a abertura do mercado e com desconfiança, comparando com outros episódios de mercados que abriram pujantes e entretanto desapareceram, como o mercado chinês. Mas é mais uma porta que se abre.