Momento Flash da semana: Uma noite memorável em Old Trafford em três atos
Recorde as principais incidências da partida
O Manchester United somou os primeiros pontos na fase de grupos da Liga dos Campeões, na passada terça-feira, quando recebeu e venceu o Copenhaga (1-0), em Old Trafford. Uma história que podia resumir-se de forma simplista desta forma, mas que contou com vários capítulos que tornaram a noite de 24 de outubro absolutamente memorável no Teatro dos Sonhos. Sobretudo para os principais protagonistas.
Do malogrado Sir Bobby Charlton a Harry Maguire, duas figuras quase antagónicas na história dos red devils, o triunfo da equipa de Erik Ten Hag, não só pelo momento que vive em 2023/24, teve uma aura muito especial e desdobra-se em três atos nas próximas linhas.
A homenagem
758 jogos e 249 golos em 17 anos como jogador do Manchester United. Sir Bobby Charlton é um nome incontornável na história do futebol inglês. Campeão do mundo em 1966, numa caminhada em que a Inglaterra deixou pelo caminho a seleção portuguesa de Eusébio, José Augusto, José Torres, Mário Coluna e restantes magriços, o antigo médio despediu-se da vida terrena, aos 86 anos, no passado sábado, dia 21, poucas horas antes do seu Manchester United entrar em campo para vencer o Sheffield United (1-2).
Um golo do português Diogo Dalot prestou a um homem que ficará na história como a personificação do cavalheiro da era dourada do futebol inglês, mas o grande tributo estava reservado para o dia de ontem, em Old Trafford, com uma bonita e sentida homenagem perante milhares de adeptos.
Acompanhado pelo som de um gaiteiro solitário, o treinador do United, Erik ten Hag, levou uma coroa de flores para o centro do campo antes do pontapé de saída do encontro, juntamente com o antigo colega de equipa de Charlton, Alex Stepney, e o capitão da equipa de juniores do clube, Dan Gore.
Em seguida, foi respeitado de forma irrepreensível o minuto de silêncio num Old Trafford lotado.
A expiação
"Cumprimento da pena ou castigo". É desta forma, entre outras, que o dicionário da Língua portuguesa define o termo "expiação". No dicionário do futebol, acrescentamos que podia ser descrito como "Harry Maguire". O central inglês passou pelo purgatório para completar a sua redenção na noite de ontem.
"Estou muito orgulhoso da forma como reagi nos últimos 12 meses, temos que continuar. Estou muito feliz", disse o camisola 5 do Manchester United após o final do encontro.
Aos 30 anos e na 5.ª época como profissional do clube, Harry Maguire viu o treinador Erik Ten Hag retirar-lhe a braçadeira de capitão no arranque da temporada, que viria a ser entregue ao português Bruno Fernandes. Um processo doloroso, como deu conta o internacional inglês, e que adensou ainda mais a nuvem negra que pairava sobre ele em Old Trafford.
Desde que foi contratado por uma verba a rondar os 85 milhões de euros, Maguire sentiu sempre alguma desconfiança por parte dos adeptos do United, sendo mesmo motivo de chacota viral nas redes sociais através de vários memes.
Não desistiu e ontem vestiu a capa de herói improvável para voar nas alturas e anotar de cabeça o golo triunfal.
A redenção
Outro herói improvável: André Onana. O guarda-redes camaronês é parte central de uma das principais revoluções de Erik Ten Hag para a nova temporada. O treinador neerlandês abdicou de David De Gea e fez força para a contratação de um novo número 1 para a baliza, sendo o eleito um jogador com quem tinha trabalhado no Ajax.
Onana chegou a Old Trafford com o rótulo de um dos "melhores do mundo" na sua posição, mas foi acumulando vários erros grosseiros nas primeiras aparições, incluindo um que ditou a derrota em Munique (4-3), na Liga dos Campeões.
"O meu arranque no Manchester United não tem sido muito bom, não é como eu queria. Este foi um dos meus piores jogos, mas temos uma ambição muito grande. É um momento difícil, mas temos de ficar unidos e trabalhar no duro", disse no final desse jogo.
O guardião de 27 anos continuou a mostrar alguma insegurança entre os postes nos jogos seguintes, mas a confiança de Ten Hag e a consistência de jogo levou-o até o jogo de ontem, frente ao Copenhaga, onde virou herói com uma defesa estupenda a uma grande penalidade batida por Jordan Larsson no último lance do encontro.