Pequenos também têm direito a sonhar: primeira grande decisão da Liga dos Campeões 2023/24
Kópavogur é dificilmente um nome que esteja na memória dos adeptos do futebol europeu. Com duas bancadas e capacidade para 3.009 adeptos, este estádio na Islândia dificilmente se compara com Camp Nou, Santiago Bernabéu, Anfield, Old Trafford ou Giuseppe Meazza. Recintos icónicos do futebol europeu onde basta fechar os olhos e surge um momento que fica gravado no imaginário coletivo do desporto no Velho Continente.
Contudo, é aqui onde se vai tomar a primeira grande decisão da edição 2023/24 da Liga dos Campeões. Breidablik, campeão da Islândia que eliminou o Tre Penne, e Buducnost, campeão do Montenegro que deixou pelo caminho o Atletic d'Escaldes, vão disputar a final da ronda preliminar que dará acesso à primeira pré-eliminatória da Champions.
O sonho de disputar uma fase de grupos ainda está lá ao longe, mas para os clubes das quatro piores associações do ranking da UEFA (São Marino, Andorra, Islândia e Montenegro) esta é a porta de entrada para o largo dos tubarões e a possibilidade de ficar um passo mais próximo dos milhões.
Quem vencer o duelo já sabe que terá de medir forças com o Shamrock Rovers, que conquistou o campeonato da República da Irlanda. E se é certo que o vencedor da fase preliminar nunca conseguiu avançar outra ronda, na época passada, o Víkingur esteve a um golo de eliminar o Malmo, da Suécia. Um sinal de que o impossível pode tornar-se, afinal, possível.
Os sonhadores
De um lado vai estar a equipa da casa, o Breidablik. Depois de disputar o primeiro jogo de futebol em 1957, a equipa de Kópavogsvollur subiu ao primeiro escalão em 1971. Depois de vários anos a oscilar entre primeira e segunda divisão, estabeleceu, a partir de 2006 como um dos emblemas fortes do futebol islandês. O primeiro troféu foi a Taça, em 2009, o primeiro campeonato surgiu em 2010, o mesmo ano em que jogou pela primeira vez na Europa (perdeu por 0-3 no agregado com o Motherwell). 2022 marcou o regresso aos títulos, sendo que são já sete no palmarés.
O ponto alto da história surgiu em 2013/14 quando venceu o Sturm Graz (1-0), na Áustria. Foi o primeiro triunfo europeu fora de casa e único até 20221 quando triunfou no Luxemburgo, em casa do Racing.
Agora vão tentar pela primeira vez sair da ronda preliminar da Liga dos Campeões, naquela que é apenas a segunda participação na prova milionária. Em 2011 foram eliminados pelo Rosenborg (2-5).
Do outro lado vai estar o Buducnost, campeão do Montenegro e com uma longa tradição nos Balcãs onde jogou na Jugoslávia e Sérvia e Montenegro antes da independência, em 2006. Clube formador de Predrag Mijatovic, o emblema já venceu seis campeonatos locais e ficou no segundo lugar em nove ocasiões.
É, também, a equipa do país com mais participações nas provas europeias. Estreou-se em 1980 na Taça Intertoto, competição onde venceu o Deportivo Corunha em 2006, talvez a vitória mais simbólica da história europeia.
Desde que o Montenegro se tornou independente, o Montenegro já disputou as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões em cinco ocasiões, mas acabou sempre eliminado às mãos do Tampere United, Slask Wroclaw, Partizan, Ludogorets e HJK.
Em 2022/23 espera regressar novamente à primeira pré-eliminatória, sendo que esta é a primeira vez em que tem de passar pela ronda preliminar.
Pela frente vai ter um velho conhecido. Em 2022/23, Buducnost e Breidablik defrontaram-se na segunda ronda preliminar da Liga Conferência. Na altura, a vitória sorriu aos islandeses num duelo marcado por muita polémica, sobretudo na primeira mão. Raznatovic (agressão), Mirkovic (segundo amarelo por insultos ao banco rival e teve de sair acompanhado por um segurança) e ao treinador Nedovic. O treinador dos nórdicos disse que nunca tinha isto uma equipa com “tanta raiva”, mas conseguiu seguir em frente. O Breidablik acabou eliminado na ronda seguinte pelo Basakasehir.
Não terá o elã de Istambul, não se vai reconhecer Miodrag Dzudovic como um estratega brilhante ou olhar para Óskar Thorvaldsson como um técnico reconhecido, mas o sonho será o mesmo de Pep Guardiola e Simone Inzaghi: ouvir o mágico hino e ficar um passo mais perto da glória europeia.