Derlei elege reviravolta na Grécia como basilar na Taça UEFA do FC Porto
“Acabámos por ser aplaudidos no final do jogo pelos próprios gregos. Isso mostra que a maturidade daquela equipa tinha chegado a um patamar no qual teríamos condições de lutar pelo troféu com todas as armas”, salientou à agência Lusa o ex-avançado luso-brasileiro, que foi um dos melhores marcadores dessa edição da prova, com 11 golos, dois dos quais em Atenas.
Em 20 de março de 2003, num lotado Estádio Apostolos Nikolaidis, o FC Porto venceu o Panathinaikos (2-0, após prolongamento) e inverteu o desaire sofrido uma semana antes no já demolido Estádio das Antas (0-1), graças ao tento do polaco Emmanuel Olisabede.
“Por acaso, acabei por ser reconhecido com os dois golos (aos 16 e 103 minutos), mas a maneira como a equipa reagiu nesse embate na Grécia… Já sabíamos que iria ser uma guerra, até porque naquele ano o Panathinaikos ainda não tinha perdido no seu estádio para as competições europeias e nós teríamos de quebrar esse tabu”, enquadrou Derlei.
Galvanizado pelos sucessivos triunfos nas rondas anteriores diante de Polónia Varsóvia, Áustria Viena, Lens ou Denizlispor, o FC Porto ‘virava’ pela segunda vez na sua história uma eliminatória em provas da UEFA a atuar na segunda mão na condição de visitante.
Nas meias-finais, os ‘dragões’ também começaram a perder na receção à Lazio, com um golo madrugador do argentino Claudio López, mas contariam com os tentos de Maniche, Derlei, que voltou a ‘bisar’, e Hélder Postiga para eternizar essa ‘serenata à chuva' (4-1).
“Quando eles marcaram, já estávamos a imaginar que teríamos de virar o duelo naquele momento, pois é muito mais difícil de o fazer a jogar contra as equipas italianas em Itália. Felizmente, passámos para a frente antes do intervalo e fomos para os balneários com o resultado na mão. Na segunda parte, demos continuidade à maneira como estávamos a competir, mantendo os níveis de agressividade e de intensidade bastante fortes”, notou.
Expulso nessa noite, o treinador José Mourinho teve de assistir da bancada ao ‘nulo’ em Roma (0-0), cujos momentos mais aflitivos variaram entre a expulsão de Postiga perto do intervalo e um penálti de Claudio López travado por Vítor Baía durante a segunda parte.
O defesa central internacional português Fernando Couto, que já tinha sido lançado no FC Porto, os argentinos Diego Simeone, que hoje treina o Atlético de Madrid, e Claudio López, os sérvios Dejan Stankovic e Sinisa Mihajlovic, falecido em 2022, Angelo Peruzzi ou Stefano Fiore despontavam na equipa comandada por Roberto Mancini, atual selecionador de Itália.
“Na verdade, acredito que a Lazio era a equipa mais cara a nível de orçamento (entre os quatro semifinalistas) e tinha grandes jogadores. Tudo podia acontecer nas meias-finais, mas, como lográmos um excelente resultado em casa, jogámos muito mais tranquilos na segunda mão e, sabendo do nosso potencial, poderíamos ter feito golos”, avaliou Derlei.
O anseio de uma final europeia 100% portuense foi impossibilitado pelo Celtic, ao impor-se à mesma hora ao Boavista (0-1), no Bessa, com Henrik Larsson a desfazer o empate trazido de Glasgow (1-1), onde já tinha ‘anulado’ um autogolo do belga Joos Valgaeren.
Em 21 de maio de 2003, no Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha, a decisão sorriu ao FC Porto (3-2, após prolongamento), que arrebatou pela primeira vez a Taça UEFA e consumou o quarto troféu internacional da sua história, com dois tentos de Derlei (45+1 e 115 minutos) e um do russo Dmitri Alenitchev (54), contra um ‘bis’ de Larsson (47 e 57).
“Foi um jogo bastante intenso e com duas equipas em busca do ataque. Sabíamos que o Celtic era ofensivo e muito forte, sobretudo no jogo aéreo, pelo que teríamos de manter aquela intensidade que mostrámos durante o ano para termos superioridade na questão técnica. Felizmente, conseguimos estar à frente do marcador e obrigá-los a um esforço extra. Isso fez com que ficássemos mais serenos e cometêssemos menos erros”, frisou.
Indiferente ao domínio de adeptos escoceses dentro e fora do estádio, Derlei ‘arrancou’ a expulsão, com duplo cartão amarelo, ao franco-guineense Bobo Baldé, aos 96 minutos, e tornou-se ‘herói’ aos 115, ao anotar o seu 11.º tento na competição e igualar o sueco Henrik Larsson, do Celtic, no topo dos ‘artilheiros’ da prova, sendo eleito o melhor jogador da final.
Depois de um passe em rutura de Maniche na direção do recém-entrado Marco Ferreira, que o guarda-redes Robert Douglas ainda afastou para a frente, o luso-brasileiro resgatou o esférico na área contrária, fintou Jackie McNamara e viu o seu ‘tiro’ vencer a oposição do guardião e do sueco Johan Mjällby, que ainda fez uma espargata, deixando os ‘dragões’ em êxtase.
“Não há um golo mais bonito (entre os 11 que fez na Taça UEFA). Na verdade, todos são importantes, mas há aqueles que marcam e esse ficará para sempre na história. O meu primeiro golo (na final) foi extremamente importante, mas o segundo deu o título. Nem é pela sua beleza, mas fica guardado com carinho na memória de todos os portistas e dos muitos portugueses que torciam por nós nessa noite”, concluiu Derlei, que venceu ainda uma Liga dos Campeões (2003/04) e uma Taça Intercontinental (2004) com o FC Porto.