Esquerda, centro ou direita: Kokçu ainda procura encontrar o seu espaço no Benfica
Siga as principais incidências
Para este artigo fica desde já a questão: será culpa do próprio Kokçu ou de Roger Schmidt?
Como se diz em Portugal, "a culpa não morre solteira", o que significa que o turco e o alemão dividem responsabilidades para que a temporada de Kokçu esteja longe do nível que se esperava à partida para a época 2023/24.
Se é Kokçu, com o seu talento, que pode fazer a diferença dentro de campo, também se esperava que Roger Schmidt, técnico que desejava a contratação do médio que conheceu na Eredivisie, soubesse que tipo de jogar estaria a contratar e onde o encaixar, mas a verdade é que tal parece não ter acontecido.
Os números
Numa análise mais redutora, comecemos por ver os números do jogador de 23 anos desde que chegou ao Benfica - 32 jogos pelas águias, dois golos marcados, nove assistências realizadas.
No capítulo do passe, Kokçu até está a uma assistência do melhor registo da carreira, mas o médio não tem feito a diferença como certamente se esperaria. O registo goleador está distante do que apresentou na época passada (12 golos marcados) pelo Feyenoord, com vários remates de fora da área a entrarem no lote dos principais highlights dos vídeos "Kokçu: welcome to Benfica".
Pelo que vinha fazendo nos Países Baixos e pelo que se foi vendo, a qualidade de Kokçu era inegável, mas faltava perceber de que forma poderia o turco encaixar no plantel encarnado.
Início atribulado
A estreia oficial não tardou. Titular na Supertaça, Kokçu não começou logo a convencer, o que não foi surpresa, tendo em conta que tinha acabado de chegar ao Estádio da Luz.
Mas a verdade é que os jogos foram passando e o médio turco continuava a parecer distante do nível que se esperaria à partida.
A pausa internacional e alguns jogos menos conseguidos das águias, nomeadamente na Liga dos Campeões, fizeram com que passasse a ter estatuto de suplente. Com Roger Schmidt a dar a oportunidade a Florentino, um médio com um perfil bem diferente, era evidente que o alemão procurava coisas diferentes para o meio-campo encarnado.
Depois dessa fase e de alguns problemas físicos, o turco acabou por voltar ao onze com alguma naturalidade, embora numa posição ligeiramente diferente.
Ainda à procura de lugar
Se é verdade que Kokçu é um dos jogadores mais utilizados no Benfica, também é verdade que Roger Schmidt parece ainda não ter percebido qual a posição ideal para o jogador de 23 anos.
Com João Neves a assumir o controlo do meio-campo, o técnico alemão foi hesitando ao colocar o turco ao lado do internacional português, embora ambos tenham vindo a fazer parte do mesmo onze com regularidade.
Será o próprio João Neves o problema de Orkun Kokçu? É que o turco parece ofuscado pela forma como o jovem português toma conta do miolo encarnado, desdobrando-se em missões defensivas, construção de jogo e transporte de bola. Nesse sentido, qual o papel de Kokçu no Benfica? Para Roger Schmidt, essa parece ser a questão de um milhão de euros.
Voltando ao que já tinha acontecido esta temporada, o técnico alemão procurou fazer do turco uma espécie de João Mário no Clássico com o FC Porto, colocando-o à esquerda, no início da partida e, mais tarde, à direita.
Numa prova cabal de que o próprio Roger Schmidt ainda procura a melhor posição de Kokçu, a partida no Dragão foi um exemplo claro de que, nesta fase, o turco é mais um problema do que uma solução para o alemão.
Entregue ao pendor ofensivo de João Mário, à criatividade de Francisco Conceição e às dificuldades de Morato (a lateral esquerda suspira por Grimaldo), Kokçu foi mais vítima do que réu, embora tenha de ser responsabilizado pelas vezes que acompanhou o lateral portista à distância, com o mero auxílio da visão.
Quando passou para a direita, as dificuldades defensivas reduziram-se, mas ofensivamente foi a sombra que tinha sido no lado contrário, apesar das várias trocas de posição com Rafa, que tentou encontrar espaço para fazer o que o turco não conseguiu.
Depois de 45 minutos onde voltou a não justificar o investimento, Kokçu vai certamente procurar dar uma resposta nos próximos jogos, mas o facto de não saber ao certo em que posição irá jogar daqui para a frente dificulta a missão do internacional turco.
À esquerda, ao centro ou à direita? No Dragão, simplesmente não apareceu.