Futebol na China mais “equilibrado” após período de exuberância e falências
“O campeonato está muito mais equilibrado, organizado e estruturado”, descreveu o empresário português, que desde 2010 negoceia a transferência de futebolistas para o país asiático, notando: “Os nomes dos jogadores contratados são menos sonantes, mas a competitividade é maior”.
Natural do Porto, o empresário de 44 anos intermediou, só neste mercado de inverno, as transferências de quatro jogadores para clubes chineses: Wilson Manafá, para o Shanghai Shenhua, Guga Rodrigues e Mamadou Traoré, para o Beijing Guoan, e Lazar Rosić, para o Changchun Yatai.
Em entrevista à Lusa, Pedro Neto considerou que a Superliga chinesa, a prova máxima do futebol no país, é agora uma liga “profissional, não à custa dos jogadores, mas pela estrutura que foi criada, em termos de federação e organização dos clubes”.
“Hoje, não falta absolutamente nada aos clubes”, vincou.
O futebol na China está a reerguer-se após três anos da política de zero casos de covid-19, que ditou o encerramento das fronteiras e paralisou a atividade económica.
Durante aquele período, a competição foi disputada em estádios vazios e vários jogos foram adiados durante semanas ou meses. Devido aos bloqueios rigorosos, os jogadores permaneceram presos em hotéis e várias estrelas estrangeiras não conseguiram voltar do exterior e acabaram por ser dispensadas.
Dezenas de clubes entraram em falência, expondo a insustentabilidade dos gastos que nos anos anteriores à pandemia abalaram o mercado de transferências: entre 2016 e 2019, estrelas como Alex Teixeira, Hulk, Carlos Tévez ou Ricardo Goulart rumaram à China, em contratações avaliadas em dezenas de milhões de euros e beneficiando de salários sem precedentes.
A contratação de estrelas foi “importante” para “cativar” o interesse do público pela modalidade, mas, hoje, os adeptos vão aos estádios para “apoiar a equipa e não para ver determinado jogador”, resumiu Neto.
“Uma das coisas muito importantes que mudou no campeonato chinês foi a relação com o adepto. Isso é um sinal muito positivo para a liga", explicou o empresário.
Os clubes chineses nunca foram sustentáveis, mas as grandes empresas do país, desde o ramo imobiliário à gestão portuária, suportaram durante muitos anos o orçamento das equipas, coincidindo com o desejo do governo de converter o país numa potência futebolística.
A exuberância dos gastos resultou, porém, num maior escrutínio por parte das autoridades, que impuseram um teto salarial de dois milhões de euros e passaram a taxar a 100% as contratações de futebolistas estrangeiros acima de 5,5 milhões de euros.
“O teto salarial é muito importante, porque os clubes estão agora todos a competir com as mesmas armas”, observou Pedro Neto à Lusa.
Uma campanha anticorrupção resultou também na punição de dezenas de funcionários da Associação de Futebol da China (CFA). Esta semana, um tribunal do país condenou a prisão perpétua Chen Xuyuan, que liderou a CFA, entre 2019 e 2023, por corrupção.
O governo chinês anunciou também, na quarta-feira, uma reforma para o desenvolvimento do futebol de base, que visa estabelecer, até 2025, um "canal de crescimento para jovens jogadores" e formar um "sistema de formação de talentos" que integre o desporto e a educação.
Designada Liga de Futebol de Base da China, a competição vai ser o principal torneio juvenil do país, com “maior cobertura, participação, nível de competição e influência social”, lê-se no documento.
Pedro Neto constatou “maior foco” na formação e na qualidade dos treinadores, fruto da “contingência financeira” dos últimos anos.
“O treinador chinês evoluiu bastante. A nova geração é inteligente e sabe como trabalhar”, notou.