Entrevista Flashscore a Luís Rocha: "Consegui o primeiro contrato profissional aos 27 anos"
"Trabalhei no McDonald's e numa loja de roupa"
- O Luís está de novo envolvido na luta pela subida. De alguma forma esta ida para o Santa Clara faz de si uma espécie de jogador rotulado com apostas de subida de divisão?
- Mais do que ser rotulado, o importante é estar envolvido em clubes que querem atingir objetivos bons, neste casos subidas, e estar envolvido em vitórias. Sinto-me orgulhoso por corresponder às expectativas que criam sobre mim.
- O Luís cumpriu a formação no Vitória. O seu pensamento estava em chegar à primeira equipa?
- Quando somos crianças, temos sempre o sonho ou objetivo de representar o clube em que estamos a ser formados. Sou de Guimarães e tenho essa paixão de ser vitoriano. Claro que tinha esse objetivo. Não se concretizou, mas foi de outra maneira. Demorou, mas com um pouco de sorte consegui concretizar um objetivo na minha vida.
- Se tivesse nascido 20 anos mais tarde sente que seria mais fácil chegar à primeira equipa?
- É difícil saber, mas nos dias de hoje acredito que seria mais fácil. Os clubes vêem as camadas jovens com outros olhos. No meu tempo era difícil algum miúdo da formação chegar à equipa sénior.
- Como se costuma dizer na gíria, o Luís andou alguns anos a comer o pão que o diabo amassou até chegar a profissional aos 27 anos. Como foi lidar com isso?
- Confesso que não foi nada fácil. Nesses tempos, nunca imaginava que chegaria à primeira divisão. Nem profissional era. Só aos 27 anos consegui o primeiro contrato profissional no Covilhã. Jogava na 2.ª B e 3.ª divisões e conciliava com outro trabalho. Trabalhei no McDonald's e numa loja de roupa, o sonho foi esfumando-se. Estaria a mentir se dissesse que acreditava ser possível chegar à Liga. Mas fui trabalhando, sempre com prazer em treinar e jogar. Acredito que a minha consistência, resiliência e capacidade de sofrimento fizeram com que chegasse até aqui.
- A alcunha de "Rambo" vem daí?
- É uma alcunha que vem desde miúdo. Num dia chuvoso, um colega do meu irmão disse-me que se fizesse cambalhotas pelas ervas molhadas me começava a chamar de Rambo e lá fui eu. Não tinha medo de ninguém.
Olhar diferente para jogadores com mais de 30 anos
- Aparece a oportunidade em Freamunde e, curiosamente, tem um jogo marcante contra o Santa Clara, não é verdade?
- Os meus primeiros tempos no Freamunde não estavam a ser fáceis e recordo-me que nessa semana que antecede o Santa Clara os dois centrais - Luís Pedro e Pedro Monteiro - estavam à bica. Um deles é expulso e o outro vê o quinto amarelo. Então vamos para o Santa Clara com uma nova dupla de centrais, ganhamos 1-0 e faço o golo da vitória nos descontos. Foi um ponto de viragem para mim.
- Acaba por chegar à Liga e tem ainda uma curta experiência no estrangeiro. Foi curta por iniciativa sua?
- Sim, na Bielorrússia. Aqui em Portugal acolhemos muito bem o jogador estrangeiro, mas lá é diferente. Estava a jogar ao início, mas depois houve um jogo difícil, em que sofremos uma derrota pesada e eu e mais outro colega saímos da equipa. Foi difícil. Depois aparece o Famalicão com objetivo de subida e uma coisa levou à outra. Optei por sair de lá.
- Subida no Famalicão, subida no Farense, subida no Chaves... Tudo já para lá dos 30 anos. Sente que já se olha mais para jogadores experientes na Liga 2?
- Não só na Liga 2, como no principal escalão. Acho que já se olha de maneira diferente para um jogador que passa a barreira dos 30. Também é muito mais fácil para um jogador nessas idades manter um bom rendimento, com muitas ferramentas que temos à disposição.
- Depois da subida em Faro, a terceira acontece em Chaves, num play-off em Moreira de Cónegos...
- Tive muita pena do Moreirense ter descido e o destino meteu-me no Moreirense para um ano top em que fizemos história.
- Nesse dia da subida em Moreira, há uma célebre fotografia do Luís Rocha a carregar uma grade de cerveja. Como é que o empregado olhou para vocês?
- Fomos buscar cervejas ao café, mesmo em frente ao estádio (do Moreirense). Entrámos vestidos à Chaves e os adeptos do Moreirense receberam-nos super bem e quiseram tirar fotos connosco. Acabei por sair de lá em tronco nu porque tive de deixar o pólo a um adepto que me pediu muito.
"Acredito que vamos ser felizes"
- O projeto do Santa Clara tem o que precisa para a subida?
- Ainda é muito cedo para se dizer. A Liga 2 é imprevisível, também fantástica por isso, mas sim, acho que o Santa Clara tem todas as condições. Temos um grande grupo de trabalho, um grande grupo de homens e isso é muito importante para criar um grande balneário, pois é nos momentos difíceis que esse espírito vem ao de cima.
- Quais os principais adversários nessa corrida?
- É muito cedo para se dizer. Mas o AVS está a fazer excelente campeonato, o Paços de Ferreira tem grande nome e vai melhorar... Não vou individualizar porque o nível de competitividade é muito forte. E, às vezes, o maior adversário somos nós mesmos. Mas temos um grande grupo e acredito que vamos ser felizes lá no fim.