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Entrevista Flashscore a Nené: "AVS? Temos uma grande equipa, acho que não é surpresa"

Manuel Chaves, Tiago Alexandre
Nené chegou ao AVS esta temporada
Nené chegou ao AVS esta temporadaAFS Vila das Aves
A mítica frase "velhos são os trapos" podia aplicar-se perfeitamente ao ponta de lança. Aos 40 anos, Nené continua a mostrar a sua veia goleadora no AVS, atual líder da Liga 2, e esta temporada já apontou seis golos em nove partidas pelo emblema nortenho. Em entrevista exclusiva ao Flashscore, o brasileiro recordou os primeiros tempos em Portugal, elegeu o melhor jogador e treinador com quem se cruzou e falou sobre a experiência no AVS.

- Primeiramente obrigado por ter aceitado o convite do Flashscore. Como é que se chega aos 40 anos com essa cara de menino?

- Agradeço também a oportunidade e o convite. Como é que se chega? É muita dedicação. Começamos a plantar com 19, 20, 21 anos, para depois recolher os frutos quando chegarmos aos 40. Plantei muitas coisas lá atrás, com empenho, trabalho, com as coisas que me falaram. Hoje chego aos 40 anos com toda essa disposição para fazer o que eu gosto.

- Chegou a Portugal muito cedo. Fez uma época no Nacional por empréstimo do Cruzeiro, foi o melhor marcador da Liga e saltou para Itália onde teve o auge da sua carreira. Quando chegou a Portugal vinha com essa ideia de triunfar no futebol europeu?

- Cheguei ao Nacional com um lesão no tornozelo e praticamente desacreditado. O treinador disse que não contava comigo, tive a oportunidade de vir a Portugal com a equipa B do Cruzeiro e isso abriu-me as portas. Vim por empréstimo, mas jamais imaginei fazer o percurso que fiz pelo Nacional. Na primeira oportunidade de jogar na Europa consegui todos os objetivos.

- Como foi a aventura italiana? O que é que o Calcio deu ao Nené enquanto jogador e homem?

- Muita maturidade. Estive nove anos em Itália. Cada ano que passa no futebol, ganha maturidade e experiência. Hoje, com 40 anos, essa maturidade ajuda-me nos jogos que faço pelo AVS. Só tenho a agradecer aos clubes por onde passei.

Em Portugal, Nené já atuou no Nacional, Moreirense, Leixões, Vilafranquense e AVS
Em Portugal, Nené já atuou no Nacional, Moreirense, Leixões, Vilafranquense e AVSAFS Vila das Aves/Opta by Stats Perform

- Imaginava chegar aos 40 anos e estar a jogar a este nível?

- Sinceramente não esperava chegar aos 40 anos e estar a jogar a alto nível. Jogo na Liga 2, mas não só jogo como consigo ajudar a equipa da melhor maneira possível. Quando voltei a Portugal, pelo Moreirense, jamais imaginei conseguir fazer o que tenho feito.

- Dizer Nené é o mesmo que dizer golo - só nesta passagem pela Liga 2 leva 42 golos. Qual é a sua relação com o golo? Onde está o seu instinto goleador?

- Nem eu parei para fazer esses cálculos (risos). O maior exemplo foi o que aconteceu no nosso último jogo: estar dentro da área e continuar focado porque a oportunidade pode aparecer. Contra o Penafiel o guarda-redes foi o feliz, mas para aparecer o golo tens de estar ali. A maioria dos golos que tenho feito, procuro o espaço.

- Pegando nesse jogo com o Penafiel, dá para perceber que, quando o Pedro Silva larga a bola, o pé do Nené já está pronto a rematar. É instinto puro...

- Sim, porque tem tudo um trabalho que a maturidade me fez ganhar. Quando o Zé Ricardo fez o cruzamento, eu tinha os meus olhos focados na bola. Estava focado na bola e enquanto a ação não terminou continuei focado. Vi que ele ia largar a bola e estava preparado para que ele soltasse a bola.

- O Nené é uma referência ofensiva, mas também um jogador de equipa. Quando marca um golo decisivo, sabe sempre melhor?

- Claro, o golo é muito importante, mas não é só o golo que me faz vitorioso. Nesse jogo com o Penafiel fizemos uma boa primeira parte, mas depois não conseguimos jogar na segunda. A equipa teve momentos de sacrifício e conseguimos sofrer todos juntos. Ganhei o troféu de melhor em campo, mas se pudesse daria a todos. O comprometimento de todos os jogadores está muito focado nos nossos objetivos.

- Que treinador e jogador o marcaram mais ao longo da carreira?

- Joguei com grandes jogadores como Luca Toni, Saviola, Nainggolan... o que mais me impressionou o Luca Toni, que joguei quando estive no Hellas Verona. Para finalizar dentro da área não havia igual. Aprendi muito com ele e foi o que me impressionou mais em termos de finalização. Em termos de treinador foi o Manuel Machado pela oportunidade que me deu. Cheguei desacreditado e ele confiou no meu trabalho. Fizemos uma grande época e qualificámos o Nacional para as competições. Também gostei do Allegri, no primeiro ano de Cagliari, que me deu a mão.

Nené tem estado em destaque no AVS
Nené tem estado em destaque no AVSAFS Vila das Aves

- Que balanço faz da época do AVS?

- Nasce tudo do trabalho. Muitos jogadores saíram, outros chegaram. O mister chegou e tem toda uma identidade que nos ajuda a cada dia. Isso é o sucesso do AVS hoje: todos estarem focados e fazerem o que o mister pede. Os resultados aparecem naturalmente.

- Há quem veja o AVS como surpresa, fica aqui o aviso sério à navegação?

- Temos uma grande equipa. Acho que não é surpresa. Quem está connosco no dia a dia, vê o trabalho que temos feito, com empenho e dedicação. Não conseguimos nada, o campeonato é longo e temos de continuar a trabalhar a cada jogo. Depois, no final, fazemos as contas.