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Jota Gonçaves, capitão do Vizela: "Gostava de dar uma chapada de luva branca a certas pessoas"

Rodrigo Coimbra
Jota Gonçalves em destaque no Vizela
Jota Gonçalves em destaque no VizelaFC Vizela, Flashscore
O Futebol Clube de Vizela caiu de divisão no final da temporada passada, mas assumiu desde o primeiro dia que o objetivo só podia ser um: regressar ao escalão máximo do futebol português. Os 12 pontos conquistados em 10 jornadas não fazem jus ao estatuto de melhor defesa da Liga 2 e por isso há a consciência interna de que é preciso fazer mais.

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Nem todos os caminhos no futebol são em linha reta. Jota Gonçalves teve de ultrapassar alguns obstáculos para chegar à meta: o profissional.

Depois do início no "seu" Espinho, o antigo 10 convertido a central passou por um período "muito difícil" em Coimbra, com a dispensa na Académica, mas que o ajudou a encarar o futebol de outra forma.

Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade no Tondela e por lá cresceu: dos juniores aos seniores, da seleção sub-21 à lesão que o levou a novo momento de provação. Hoje é o capitão do Vizela, que procura reerguer após a queda na segunda divisão.

Jota Gonçalves mudou-se para Vizela a meio da época passada
Jota Gonçalves mudou-se para Vizela a meio da época passadaFC Vizela

"Achava que não ia dar, foi um momento muito duro..."

- Como é que o futebol aparece na sua vida?

- Comecei a jogar no Espinho, no clube do meu coração. Foi muito por influência do meu pai e do meu irmão, que já jogava nas camadas jovens. No início era apenas por diversão, mas depois começou a ser mais sério, e dei o salto para a Académica. Nunca tinha jogado no campeonato nacional e fiz um ano incrível, em que conheci muitas pessoas e fiz amigos que levo até hoje. Depois dei um passo atrás, mas, olhando agora, foi bom. Custou-me muito e foi dos momentos mais difíceis para mim. Pensei em desistir, mas hoje vejo que foi positivo. 

- Presumo que esteja a falar da dispensa da Académica...

- Sendo sincero, nessa altura não pensava que dava para chegar a profissional. Achava que não ia dar, que era melhor voltar para o Espinho, para as minhas origens, amigos e família, e pensar noutro tipo de coisas. Foi um momento muito duro, mesmo muito duro. A minha família sabe... Era miúdo e queria divertir-me, sair com os amigos e jogar futebol. Achava que dava para tudo. Olhando agora, é impossível conciliar essa vida com o futebol.

As palavras do capitão do Vizela
As palavras do capitão do VizelaFC Vizela/Opta by Stats Perform

- Foi uma espécie de alerta?

- Sim, consegui ver as coisas de outra forma, muito aconselhado pela minha família e pelo empresário que tinha na altura e que permanece até hoje, a quem devo tudo. Tomei a melhor decisão. Fui para o Feirense e conseguimos subir de divisão.

- Considera que esse período foi imporante para se agarrar ao objetivo?

- Nessa transição para o Feirense, houve ali um momento complicado. Eu jogava a médio ofensivo, estreei-me com um golo e uma assistência, mas não estava perfeito. Deixei de jogar, ainda estava a tentar perceber qual era a minha posição... Dei ainda mais um passo atrás, fui jogar para a equipa da distrital e... era feliz. Olhava para os outros rapazes que tentavam alcançar algo maior, e eu gostava. Gozavam comigo, porque não percebiam como era feliz ali, mas era algo genuíno. Depois, com o mister Tiago Conde, percebi que a minha posição era central, e, a partir daí, comecei a jogar como central.

Jota em destaque no eixo defensivo do Vizela
Jota em destaque no eixo defensivo do VizelaFC Vizela

"Sentia que estava a voar, e cortaram-me as asas"

- Seguiu-se o Tondela, onde assinou o primeiro contrato profissional e fez a estreia na Liga. Como recorda?

- O Tondela é um clube especial, que marca. As pessoas são muito acolhedoras, muito amigas, e eu comecei a identificar-me com isso. Desde o primeiro momento, senti o carinho de toda a estrutura. Achei que seria um bom passo, e foi. Fizemos uma boa época de juniores, com grandes treinadores, e depois a transição para o primeiro ano de sénior, com contrato profissional. Não é para todos.

- As coisas estavam a correr muito bem, com a afirmação na equipa principal e chamada à seleção sub-21, mas lesiona-se... 

- Foi mais um momento muito difícil, mais difícil até do que a dispensa da Académica. Sentia que estava a voar, e cortaram-me as asas. No início do 3.º ano em Tondela, não tínhamos centrais, e comecei a jogar com mais regularidade. Entrei bem na época, estava a correr muito bem, sentia-me num sonho, e veio a chamada para a Seleção (sub-21). Não estava à espera. Arrepiei-me, liguei à minha mãe, e ela a chorar, eu a chorar. No jogo em que voltei, tive essa lesão que me marcou… Estava num momento muito, muito bom. Mas isso fez-me ver as coisas de outra forma.

- Como conseguiu dar a volta?

- Tive muita ajuda psicológica. Tinha um psicólogo na formação do Tondela, e, na altura da lesão, ele procurou-me, disse-me que estava lá para mim. Estava a passar um momento difícil e só pensava: 'porquê a mim?' Ele ajudou-me a ultrapassar isso, a ver as coisas de outra forma. Lembro-me que fazíamos um trabalho semanal para controlar as dores. Foi uma ajuda muito importante, juntamente com o apoio da minha família, da minha namorada e do Tondela.

Ia ser o meu último ano de contrato, e desde o primeiro minuto demonstraram vontade de renovar. Não me esqueço do nosso diretor, Américo Branco, que veio ter comigo quando eu tinha acabado de ser operado,para dizer que estava ali para mim e que iam renovar o meu contrato. Tocou-me muito.

Jota deixa mensagem aos adeptos do Vizela
Jota deixa mensagem aos adeptos do VizelaFC Vizela

"Senti conforto na proposta do Vizela"

- O capítulo Tondela fecha-se e surge a oportunidade de ir para o Vizela, novamente para a Liga.

- Na altura do Natal, o meu empresário disse-me que o Vizela estava muito interessado, que o mister Rúben (de la Barrera) tinha interesse, e eu senti conforto na proposta. Senti que ia ser bom para mim, pois ia conseguir um pouco de estabilidade. Já estava há muito tempo em Tondela e não estava a jogar, e não tive medo de dar esse passo. Pelo que passei, estava preparado para isso. Foi difícil, chorei muito porque foi difícil separar-me de pessoas de quem gostava muito. Só tenho de agradecer ao Vizela por ter dado a oportunidade de voltar à Liga. Infelizmente, não conseguimos alcançar o objetivo da época, mas estou bem. É um clube muito parecido ao Tondela na parte de acolher bem, e sinto-me em casa.

- Momento duro?

- Acho que ninguém no clube estava preparado para esse final. Sabíamos que ia ser até ao fim, mas acreditávamos que ia dar para nós. A verdade é que calhou a nós… Tudo acontece por um motivo, e se aconteceu, foi porque tinha de acontecer. Foi para crescer como pessoa e como clube. E continuamos a crescer. Um passo atrás, acho que não é por aí que o Vizela deixa de ser, na minha opinião, um clube grande. A massa associativa e tudo o que envolve o clube, encontrei boas condições. São adeptos muito aguerridos, cobram muito e tens outro tipo de exigência para jogar.

- O objetivo da subida foi assumido desde início, mas eu queria perceber como foi o regresso ao trabalho sabendo que o contexto iria ser outro?

- Sinceramente, o regresso foi natural. Sabíamos que íamos enfrentar a Liga 2, mas foi como se estivéssemos na Liga, o trabalho é igual, os métodos são iguais, o mister é o mesmo. Chegaram muitos jogadores novos, o primeiro jogo correu bem, tivemos jogos em que parecia que estávamos desencontrados, mas agora estamos a encontrar a estabilidade. A ideia é colocar o Vizela na Liga o mais rápido possível, e onde deve estar. As pessoas e a cidade merecem.

Jota Gonçalves acompanhado pelo jornalista do Flashscore
Jota Gonçalves acompanhado pelo jornalista do FlashscoreFC Vizela

- Três vitórias, três empates e quatro derrotas em 10 jogos. O que dizer deste 10.º lugar (12 pontos) do Vizela nesta fase?

- Temos de fazer mais. Estamos mais estáveis do que no início do campeonato, mas precisamos de continuar a trabalhar nos pontos em que não temos sido tão bons, para os melhorar e nos tornarmos mais fortes.

- Ainda assim, são a melhor defesa do campeonato. O que isto também diz?

- Não é só mérito dos defesas ou do guarda-redes… É mérito coletivo, desde o avançado até ao guarda-redes, em que todos sabem que se nao concedermos golos estamos mais perto de ganhar.

- Têm agora um período grande para preparar o próximo jogo. Esta paragem chegou na altura certa?

- Pessoalmente não gosto de paragens, porque das duas uma: ou quebra o ritmo da equipa ou até ajuda a melhorar certos aspetos quando estás menos bem. Aqui encaramos as semanas de paragem da mesma forma séria que encaramos uma semana normal e isso faz a diferença.

Os números de Jota Gonçalves
Os números de Jota GonçalvesFlashscore

- Qual tem sido a mensagem do mister?

- A mensagem é clara. Parece cliché, mas temos de pensar jogo a jogo. Se começarmos a pensar mais à frente, vamos complicar. Temos que ter a mentalidade certa e os métodos certos. A equipa trabalha bem, o clube funciona bem e não temos do que nos queixar. Temos tudo para fazer uma boa época.

- Acredita que o grupo tem qualidade para concretizar o objetivo da subida?

- Acredito que temos um grupo muito, muito bom e forte. Damos-nos todos bem, qualidade não falta. Agora, para subir de divisão, é preciso dar as mãos em certos momentos e contar com aquela pontinha de sorte.

- Sente uma exigência maior por ser o capitão de equipa?

- Sim, a verdade é que se sente essa responsabilidade e pressão, porque é um clube que exige muito. Os adeptos exigem, e isso faz parte. Sinto que tenho responsabilidade acrescida, porque, com certas atitudes ou comportamentos, evito ter porque sou o líder do grupo. É bom para o meu crescimento. Não é por usar a braçadeira que sinto que sou mais que alguém.

Jota Gonçalves é capitão do Vizela
Jota Gonçalves é capitão do VizelaFC Vizela

"Este é o ano em que olhas e não consegues dizer quem sobe" 

- Qual a sua análise à Liga 2?

- Sempre foi uma marca da Liga 2 ser competitiva e imprevisível. Vês o último a ganhar ao primeiro, é algo que acontece muito. Tens muitos clubes na Liga 2 que apostaram forte para subir e têm claras intenções. Este é o ano em que olhas e não consegues dizer claramente qual equipa vai subir. Todos têm essa ambição, tal como nós temos.

- O que espera que esta época lhe dê do ponto de vista individual?

- Penso muito mais na equipa do que em mim. Tenho a mentalidade de que tenho de dar o melhor de mim para ajudar o Vizela. Mas gostava de continuar a crescer e evoluir, e continuar a destacar-me. Gostava que o Vizela subisse e eu pudesse estar no 11 do ano, seria sinal de que fiz o meu trabalho.

- E o que há a dizer aos adeptos nesta fase?

- A mensagem que gosto de passar é para nos mantermos unidos em prol do Vizela. Estamos a passar por um momento diferente na vida do clube, e é óbvio que nenhum adepto gostou da descida, assim como nós também não gostámos. O apoio deles faz toda a diferença.

- Independentemente do resultado, o que nunca irá faltar ao Vizela?

- Garra.

Os próximos jogos do Vizela
Os próximos jogos do VizelaFlashscore

- É isso que vos distingue das outras equipas?

- Cada vez mais. Sinto que será muito importante no futuro.

- Qual conselho gosta de deixar aos mais novos quando tem essa oportunidade?

- Gosto de ser verdadeiro, só sendo verdadeiro é que somos amigos de alguém. É preciso valorizar muito o trabalho, a qualidade sozinha não chega.

- O que gostava que dissessem sobre o Vizela e sobre o Jota no final da temporada?

- Gostava de dar uma chapada de luva branca a certas pessoas. Gostava que olhassem para trás, vendo que não começámos bem, mas alcançámos o objetivo. A nível individual, gostaria de me destacar e de ter feito tudo para ajudar a equipa, e que as lágrimas que tive há uns anos finalmente sejam por bons motivos.

- E no dia em que tiver de sair de Vizela, como espera ser recordado?

- Como alguém que deu tudo pelo clube. Alguém que foi sempre muito trabalhador e aguerrido.