Lito Vidigal: "Sou muito mais do que um treinador de resultados"
- O que o levou a aceitar o projeto do Feirense, depois de um interregno de dois anos?
- As pessoas que me contactaram por parte do Feirense falaram ao meu coração. Conseguiram apelar ao sentimento, chegaram ao meu coração e conseguiram convencer-me que esta seria a altura ideal para voltar, o projeto que me convenceria a regressar ao ativo como treinador.
- Saiu do Moreirense em janeiro de 2022. Mais de dois anos fora dos bancos do futebol português. Existiram propostas pelo meio?
- Sim. Felizmente tive outras propostas mas na altura em que apareceram eu não queria treinar. Não achei que fosse a altura para voltar a trabalhar. Tinha outras coisas para resolver, outros projetos para terminar, pelo que as oportunidades que foram aparecendo, felizmente foram algumas, acabaram por não me convencer a alterar a minha linha de pensamento.
- Que condições encontrou no Feirense?
- Encontrei condições muito boas. Em termos de condições de trabalho o Feirense tem um centro de treinos muito bom, com dois campos relvados em excelentes condições para podermos trabalhar. Do que tenho presenciado, talvez nos falte apenas os balneários mais bem apetrechados para nos podermos equipar no centro de treinos.
- E as condições desportivas?
- Já sabia que iria encontrar um cenário muito difícil, atendendo ao momento e à série de jornadas sem vencer. Há já um número considerável de jogos mas há que acreditar, mudar o chip e tentarmos ser, rapidamente, mais competitivos. Precisamos de aumentar os índices, físicos e de confiança, para nos tornarmos mais competitivos, para podermos competir sempre durante 90 minutos com possibilidades de vencer.
- Muitos olham para si como um "treinador bombeiro", um treinador apenas de resultados, de emergência. Concorda?
- Não me parece que eu seja isso. Aliás, felizmente tenho conseguido quase sempre resultados e objetivos acima do esperado. Mesmo em clubes em que, no ano em que chego, estão próximos da descida, consegui no ano seguinte posições acima do expectável, alcançando até as competições europeias. Por isso, além dos resultados, sou muito mais do que isso. Sou um treinador organizado, as minhas equipas conseguem ser sempre organizadas, inteligentes e competitivas, com espírito de solidariedade. Os resultados só aparecem quando todas estas vertentes são trabalhadas a 100 por cento.
- Presumo que, neste caso, o objetivo seja, tão somente, a manutenção.
- A direção nem tinha necessidade de me pedir esse objetivo, porque esse é o mínimo para toda a gente. O qur viemos fazer foi tentar, com o nosso trabalho, orientar esta equipa, estes jogadores. Há muitos atletas jovens e olho para esta equipa, com muitos jogadores promissores, e quero ajudá-los a ultrapassar este momento difícil. Todos juntos acreditamos que podemos levar o nosso barco a bom porto. Além de tudo isso, aceitei este desafio, também, porque olho para o Feirense e vejo um clube de massas. Os adeptos estão presentes, apoiam a equipa. Vai ser um final de época muito difícil mas acredito que se eles comparecerem, se estiverem preparados para sofrer, como nós e connosco, a probabilidade de alcançar os objetivos é muito maior.
- Apesar do momento, está então confiante num final feliz.
- Entreguei-me ao Feirense de corpo e alma. Sei do momento difícil, sei da fase crucial da época, sei que já não ganhamos há muito tempo. Os níveis de confiança não são os que pretendemos mas só vão começar a ser quando alcançarmos a primeira vitória. Até lá, estamos a trabalhar outros aspetos do jogo e do treino. A equipa é jovem, precisa da força dos adeptos, da sua presença e do seu apoio. Se soubermos perceber o momento, as dificuldades que a equipa está a passar, e apoiar nos momentos difíceis, tenho a certeza que no final vamos festejar todos juntos.
- O futuro do Lito Vidigal passa pelo Feirense, com ou sem manutenção?
- Neste momento não penso no futuro. O futuro é hoje. É dessa forma que estou a pensar. Aliás, nem quero pensar de outra forma. Todas as minhas energias estão colocadas no momento atual, não podemos pensar muito além. Apenas jogo a jogo. É esta a mensagem que também tenho passado aos jogadores. Temos de estar focados no jogo seguinte e, quando terminar esse jogo, fazer a avaliação, ver o desempenho individual e coletivo e trabalhar em cima disso para preparar o jogo seguinte. Não vale a pena olharmos para daqui a duas ou três jornadas, retira o foco do essencial, do que realmente importa.
- Encontrou algo que o tenha surpreendido em Santa Maria da Feira?
- No pouco tempo que estou aqui, tenho pena que o Feirense esteja a passar este momento difícil. Porque encontrei um clube estruturado, um clube com profissionais sérios e dedicados. Não temos uma estrutura grande mas os que cá estão são inexcedíveis no desempenho das suas funções. Toda a gente tem sido extraordinária, de uma atitude espetacular. Do técnico de equipamentos ao departamento médico, passando pela manutenção do relvado e do motorista. É um grupo de pessoas que trabalha para o Feirense e que ama o Feirense. E isso também demonstra a grandeza do clube, tal como os sócios e adeptos que o acompanham.